terça-feira, 20 de agosto de 2019

[Para que servem as borboletas?] A teologia da modernidade: “Sola Fides”...

Valdemar Habitzreuter

Na esteira da Reforma protestante, a fé em si basta para estreitar-nos e comunicar-nos com Deus. As boas obras são os frutos dessa fé. Teólogos modernos ensejam uma virada teológica mais liberal contrapondo-se à tradição cristã do culto a um Deus eminentemente transcendente. Estaria a Igreja do Papa Francisco sinalizando para esta nova tendência teológica?

O “sola fides” (só pela fé) é o que fundamentaria essa virada teológica. Os teólogos Karl Barth e Rudolf Bultmann, por exemplo, se colocam nessa linha... Outro teólogo, Dietrich Bonhoeffer, amplia ainda mais essa teologia, opondo-se ao sectarismo religioso donde se originam muitos conflitos. Neste sentido, a hegemonia da fé unificaria todas as religiões em uma só Igreja confidente.

Assim, nessa perspectiva, nasce uma nova teologia que está angariando adeptos e se afirmando na modernidade. Grosso modo, essa nova teologia dispensa as religiões. Portanto, a fé não necessariamente está atrelada a uma religião; isto é, a religião não é condição para a fé, ela está acima de qualquer religião.

Afirmam os novos teólogos que o homem moderno saiu da menoridade em que se encontrava, sentindo-se protegido e acompanhado pelo zelo doutrinário de autoridades que, supostamente, detinham verdades religiosas pela interpretação das Sagradas Escrituras. Não mais, afirmam; o homem moderno tornou-se adulto e é sua própria autoridade no que diz respeito à fé em Deus, e como relacionar-se com ele. Sua razão lhe diz que a fé não se pauta em transcendentalismo incompreensível e intangível, mas foca-se no centro do homem e do seu mundo.

É na existência que sua fé vê Deus no mundo com o qual se relaciona. Deus não opera do mundo transcendental, não se coloca no sobrenatural, ele pertence ao mundo natural onde acontece a existência humana.

Deus é considerado como vontade de viver imanente à vida neste mundo. Deus e mundo são inseparáveis, perfazem uma única realidade. Cristo representa essa realidade única. Realizar Cristo pela fé é unir a realidade de Deus e a do mundo. Significa realizar autenticamente nossa existência.

O natural da vida – a unidade Deus/mundo – não supõe que o homem deva praticar inconteste algum tipo de religião com vistas a vislumbrar um mundo sobrenatural, mas simplesmente ver-se às voltas com este mundo natural. O que deve incentivar o ser humano a levar uma existência autêntica é saber que Deus está metido neste burburinho da vida junto com ele e o convida a exercer o amor.

O amor é o fundamento existencial do homem. Jesus é considerado o protótipo de homem que realizou Deus neste mundo porque sua vida foi só amor – ser-para-o-outro. Jesus experimentou a existência humana despojando-se de sua divindade para conquistá-la como homem.  Daí poder-se dizer não Deus-Jesus, mas Jesus-Deus.

A tradição cristã ficou presa na idolatria de um Deus transcendente sem um vínculo imanente com o mundo. Por isso o enunciado de Nietzsche “Deus morreu” tem o sentido, para a teologia moderna, de abolir o transcendentalismo mitológico e adotar a postura teológica de trazer Deus para centro do homem e no seu mundo. Ver a desmitologização de Bultmann...

Portanto, Deus no mundo, atuando entre os homens é a nova perspectiva teológica. Deus e o homem são sócios na empresa EXISTÊNCIA. A vivência, o trabalho e o sofrimento são compartilhados entre Deus e o homem conjuntamente. Portanto, a história do homem se faz neste mundo com Deus ao seu lado. E é pela fé nesse Deus telúrico, alicerçada no amor, que nasce a esperança de um futuro de “Reinado de Paz” onde imperará a igualdade racial, a paz entre as nações e haverá pão para todos. Esta é a nova teologia apregoada por muitos teólogos modernos... Uma utopia?
Título e Texto: Valdemar Habitzreuter, 19-8-2019

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2 comentários:

  1. HABITZ excelente argumentação apenas será impossível.
    Justamente pela diferente interpretação de "Sola Fide" que há entre protestantes e católicos.
    "fé produz justificação e boas obras" protestante
    "fé e boas obras rendem justificação" católica
    "Ser declarado justo" ou "ser feito justo", é a justificação que os diferencia.
    Pensando como um cidadão que coloca como centro político um presidente ou um ditador, ambos honestos, coisa difícil, creio que declarar obras justas ou fazê-las justas são diferentes.
    O ladrão de 9 dedos declarou grandes obras justificadas, mas não as fez ou não as implantou. Outros fizeram obras não justificadas.
    Creio que é melhor olharmos sempre pelo lado justo do diário oficial dos governantes e dos religiosos.
    O justificável e feito é mais importante do que as palavras.
    fui...

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