Jordan B. Peterson
Alexandre Soljenítsin tinha todos os motivos para questionar a estrutura da
existência quando foi aprisionado em um campo de trabalho soviético em meados
do terrível século XX. Ele havia servido como soldado nas linhas de frente
russas, despreparadas para a invasão nazista. Ele foi preso, surrado e lançado
na prisão pelo próprio povo. Depois, foi atingido pelo câncer.
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1974 |
Ele viveu em condições
brutais. Vastos períodos preciosos do seu tempo foram roubados dele e desperdiçados.
Ele testemunhou o sofrimento e a morte degradante e sem sentido de amigos e
conhecidos.
Então, contraiu uma doença
extremamente séria. Soljenítsin tinha motivos para amaldiçoar Deus. Nem Jó
sofreu tanto.
No entanto, o grande escritor,
o profundo e vivaz defensor da verdade, não permitiu que sua mente se voltasse
à vingança e à destruição. Em vez disso, ele abriu os olhos. Durante suas
muitas provações, Soljenítsin encontrou pessoas que se comportavam de maneira
nobre sob circunstâncias horríveis.
Ele analisava profundamente o
comportamento delas. Então, fazia a si mesmo a mais difícil das perguntas:
havia ele contribuído pessoalmente para a catástrofe de sua vida? Se sim, como?
Ele se lembrou do apoio inquestionável que deu ao Parido Comunista quando era
mais jovem.
Reconsiderou sua vida inteira.
Ele tinha tempo de sobra nos campos. Como ele havia fracassado no passado?
Quantas vezes havia agido contra a própria consciência, engajando-se em ações
que ele sabia serem erradas?
Quantas vezes havia traído a
si mesmo e mentido? Havia alguma forma pela qual os pecados do seu passado
pudessem ser retificados e expiados no inferno lamacento do gulag soviético?
Soljenítsin esquadrinhou os
detalhes de sua vida, passando um pente-fino. Ele fez uma segunda pergunta a si
mesmo, e uma terceira. Será que consigo parar de cometer esses erros agora?
Consigo, agora, reparar os danos causados pelos meus erros passados?
Ele aprendeu a observar e
escutar. Encontrou pessoas que admirava; que eram honestas, apesar de tudo.
Desconstruiu a si mesmo, peça por peça, deixando o que era desnecessário e
prejudicial morrer, e ressuscitando a si mesmo. Então, escreveu Arquipélago
Gulag, uma história sobre o sistema soviético de prisão em campos de
trabalho forçado.
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Capa da edição do Círculo de Leitores, 1974 |
A escrita de Soljenítsin
destruiu total e definitivamente a credibilidade intelectual do comunismo, como
ideologia ou sociedade. Ele lançou um machado contra o tronco da árvore cujos
frutos amargos o haviam nutrido tão miseravelmente – e cujo plantio havia
testemunhado e apoiado.
A decisão de um homem em mudar
sua vida, em vez de amaldiçoar o destino, balançou todo o sistema patológico da
tirania comunista até seu âmago. O sistema ruiu inteiramente não muitos anos
depois, e a coragem de Sojenítsin não foi uma das razões menos importantes
pelas quais isso ocorreu.
Ele não foi a única pessoa a
realizar tal milagre. Nomes como Václav Havel, o escritor perseguido que mais
tarde, de forma que parecia impossível, tornou-se presidente da
Tchecoslováquia, depois da República Tcheca, vêm à mente, assim como o de
Mahatma Ganhi.
Título e Texto: Jordan
B. Peterson, in “12 regras para a vida – um antídoto para o caos”, páginas
161 e 162. Alta Books Editora, Rio de Janeiro, 2018.
Digitação: JP,
agosto de 2919
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