Jordan B. Peterson
Antes de ajudar alguém, você
deveria descobrir por que essa pessoa está com problemas. Você não deveria
simplesmente presumir que ela é uma nobre vítima de exploração e circunstâncias
injustas. Essa é a explicação mais improvável, e não o contrário. Em minha
experiência – clínica e de outras áreas – isso nunca foi simples assim. Além do
mais, se você comprar a história de que tudo de terrível aconteceu do nada, sem
a responsabilidade pessoal por parte da vítima, você nega a essa pessoa toda
sua capacidade de ação no passado (e, por implicação, no presente e no futuro
também). Dessa maneira, você a despe de todo o poder.
É muito mais provável que tal
indivíduo apenas tenha decidido recusar o caminho para o topo por causa de sua
dificuldade. Talvez essa devesse ser a suposição padrão ao se encontrarem
situações assim. Isso é árduo demais, você pode pensar. Talvez você esteja
certo. Talvez seja um passo muito grande. Mas observe que o fracasso é fácil de
compreender. Não é necessária explicação alguma para sua existência. Do mesmo
modo, medo, ódio, vício, promiscuidade, traição e trapaça não exigem nenhuma explicação.
Não é a existência do vício,
ou a indulgência com ele, que requer uma explicação. O vício é fácil. O
fracasso, também. É mais fácil não carregar um fardo. É mais fácil não pensar,
não fazer e não se importar. É mais fácil deixar para amanhã o que precisa ser
feito hoje e afogar os próximos meses e anos nos prazeres baratos do hoje. Como
o infame pai do clã dos Simpsons diz, imediatamente antes de engolir uma jarra
de maionese com vodca: “Isso é um problema para o Homer do Futuro. Amigo, não
invejo aquele cara!”
Como posso saber que seu
sofrimento não é um pedido para que eu sacrifique meus recursos só para que
você possa momentaneamente impedir o inevitável? Talvez você nem se importe
mais com o colapso iminente, mas ainda não queira admitir. Talvez minha ajuda
não retifique nada – não possa retificar nada – porém, mantém essa
conscientização tão terrível e pessoal temporariamente afastada. Talvez sua
miséria seja uma exigência imposta a mim para que eu falhe também, de modo que
a distância que você tão dolorosamente sente existir entre nós possa ser
reduzida enquanto você se degenera e afunda.
Como posso saber se você se
recusaria a jogar esse jogo? Como posso saber que eu mesmo não estou fingindo
ser responsável enquanto estou inutilmente “ajudando” você, de modo que eu
não tenha que fazer algo verdadeiramente difícil – e genuinamente possível?
Talvez sua miséria seja a arma
que você brande em seu ódio por aqueles que conseguiram se erguer enquanto você
esperava e afundava. Talvez sua miséria seja sua tentativa de provar a
injustiça do mundo, e não uma evidência de seu próprio pecado, de sua própria
falha, de sua recusa consciente em lutar e viver. Talvez sua disposição para
sofrer pelo fracasso seja inexaurível, considerando-se o que você está tentando
provar com esse sofrimento.
Talvez seja sua vingança
contra o Ser. Como, exatamente, eu deveria ser seu amigo quando você se
encontra em um lugar assim? Como, exatamente, eu conseguiria?
Sucesso: esse é o mistério.
Virtude: isso que é inexplicável. Para fracassar, basta cultivar alguns maus
hábitos. Você só tem que esperar a sua vez. E, uma vez que alguém tenha passado
tempo suficiente cultivando maus hábitos e esperando sua vez, estará muito
enfraquecido.
Muito daquilo que ele poderia
ter sido já se dissipou, e muito do pouco em que se transformou é agora real.
As coisas desmoronam por vontade própria, mas os pecados dos homens aceleram
sua degeneração. E depois vem o dilúvio.
Não estou dizendo que não
existe esperança de redenção. Mas é mais difícil tirar alguém de um precipício
do que puxá-lo de uma vala. E alguns abismos são muito profundos. E não sobra
muito do corpo lá embaixo.
Talvez eu devesse pelo menos
esperar, antes de ajudá-lo, até que esteja claro que você quer ser ajudado.
Carl Rogers, o famoso psicólogo humanista, acreditava que era impossível
começar um relacionamento terapêutico se a pessoa que buscava ajuda não
quisesse melhorar. Rogers acreditava ser impossível convencer alguém a mudar
para melhor. Pelo contrário, o desejo de melhorar era uma precondição para o
progresso. Já atendi a pacientes que buscaram tratamento por decisão judicial.
Eles não queriam minha ajuda. Foram forçados a procurá-la. Não funcionou. Era
tudo uma farsa.
(...)
Título e Texto: Jordan B.
Peterson, in “12 regras para a vida – um antídoto para o caos”, páginas 81,
82 e 83. Alta Books Editora, Rio de Janeiro, 2018.
Digitação: JP, 20 de agosto
de 2919
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