Carina Bratt
Tornei a acordar como sempre.
Acordar com saudade. Muita saudade! Saudade de ver você a meu lado, de
acariciar seu rosto para que desperte. Depositar um beijo terno em seus olhos,
alisar seus cabelos, sentir o perfume do perfume que você mais gosta de usar.
Mas, meu Pai, cadê você? Em que estrela do meu céu deserto de coisas bonitas
você se escondeu?!
Deixa contar um segredo. Só
para você. Se estivesse aqui, falaria do meu dia, dos meus planos e dos meus
sonhos para as próximas horas. Ver você abrindo os olhos bem lentamente e
depois de um beijo e um abraço demorado, sentir você depositar em mim, a sua
ternura antiga, juntando o calor das nossas mãos num aperto de corpos se
deleitando em ondas de felicidades plenas. A nossa cama explodiria fatal, como
uma bomba atômica de lençóis e travesseiros sobre a Hiroshima de nosso mundinho
consumindo-me e você.
Em lugar disso, uma saudade
ingrata apareceu. Surgiu, não sei de onde, e se fez presente o tempo todo. Foi
maior que a minha vontade de estar com você. Talvez porque a sua pessoa, como
homem, como amante, como meu dono, não faça mais parte do meu mundo.
Em meu lugar você colocou
outra pessoa... Sim, outra pessoa. Vieram me contar. Um tal de Desamor. Alguém
de cara estranha e feições indescritíveis. Alguém que, para falar com toda
sinceridade, nem sei de onde surgiu. Talvez em decorrência de suas andanças e
escapulidas por caminhos tortuosos que nunca levaram você à lugar algum.
Você me substituiu sem mais
nem menos, como se eu fosse uma muda de roupas velhas que se deixa de lado.
Desde então, venho pisando um chão estranho, um ao léu medonho, que não definiu
meus passos, nem consegui encontrar marcas dos seus. Muito tempo se passou,
muito, até que eu tomasse prumo, rumo, norte.
Todas as minhas manhãs agora,
são assim: iguais, sem cor. Desprovias de vivacidades. Me ponho de pé. Ando
pela casa toda. Tudo nela cheira a você, tem seu gosto, seu sabor. Mas esse
cheiro que pressinto agora, não delineia mais as imagens de sua presença, nem
desenha a sua silhueta andando de um lado para outro, ao contrário, traz um
fundo falso.
Na cozinha, não é diferente. O
café quentinho, que a empregada me traz, não está igual ao que você fazia.
Tampouco, o pão com manteiga, me pareceu apetitoso. Não havia o carinho das
suas mãos quentes sobre ele. São pequenos mimos que, juntados a tantos outros,
e tantos mais, me fazem desfalecer os sentidos. Virei mulher incompleta.
De repente, surgiu, do nada,
um vazio. Mais estranho ainda, sem sentido, e à medida que os minutos passam,
parece se agigantar e sufocar meu peito. Também percebi um medo mórbido em
torno de minha cabeça, um medo tétrico que vai crescendo e, à medida que
aumenta, acelera meu coração.
Se não sou forte (nem sei se
sou mais...), talvez até tivesse um troço. Tudo em decorrência da sua falta, de
você não estar aqui ao meu lado. Me senti, melhor dizendo, me sinto pequena, me
vejo desprotegida, me pego faminta, faminta da sua voz, sequiosa do seu
carinho, carente, extremamente carente do seu calor e do seu aconchego.
Realmente falta algo. Algo
vital. De suma importância. Alguma coisa saída de dentro de você que me dava
forças, que enriquecia o meu espírito e aplacava a fúria da solidão doentia que
sempre me acompanhou lado a lado. E foi exatamente essa solidão que encheu a
casa, que encheu tudo, que se tornou pegajosa. Ficou, na verdade, chata e me
deixou infeliz.
Concluí que a felicidade de
tudo é você. A felicidade está em você. Com você. Sua meiguice dá vida às
coisas. Seu sorriso maroto, espontâneo, mantém o brilho constante do colorido
da minha vida. A sua presença, ao meu lado, repleta de esperança o vazio, e,
como um sol eterno que resplandece bonito, quente, terno e mavioso, você me
alimenta. Você me alimenta...
A carência de você, agora
longe, me mata aos poucos. Definha. Sei que necessito superar esse vazio –
esquecer, apagar, seu rosto da minha mente. Necessito, com urgência urgente,
deletar dos meus arquivos, como um vírus que veio, entrou, se alojou, e, por pouco,
não acabou comigo. Aliás, reitero: você
acabou comigo... Quero lhe esquecer... Sumir com você para todo o sempre.
Mas acredite, kikikiki... Não
posso. Esse é o segredo. Você é o ar que entra janela adentro, que move as
coisas, o vento benfazejo que empresta a paz, e faz sorrir a tristeza. Você,
meu Deus, você é quem manda para longe as incertezas do meu amanhã. Dessa
forma, o meu amanhã, sem você não passa de um hoje sem motivos.
E talvez, esse hoje, por ser
sem motivos, nem desperte no próximo segundo que corre ligeiro contra o relógio
do tempo. Do meu tempo... Do meu tempo que se esvai, que se “esfoi”. Que foge,
que cavalga, não, pior, que voa, que se agiganta como se eu, em meio a um mar
proceloso, de dentro de um barquinho à deriva, desse de cara, estupefata, com
uma ilha inesperada. Do nosso (meu tempo) tempo, tempo, tempo... Que, por certo, talvez, quem sabe, nunca por
aqui retorne.
Título e Texto: Carina
Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 29-3-2020
Anteriores:
Querida Carina Bratt, este texto é dedicado a um amor ou a um pai ? De qualquer maneira, lindas palavras, texto maravilhoso. Abraços.
ResponderExcluirOps! Pelo que entendi, é a Deus: "Você, meu Deus, você é quem manda para longe as incertezas do meu amanhã."
ExcluirOPS! TAMBÉM! DEUS , PAI ???
ExcluirMe pareceu explicito!!
"A nossa cama explodiria fatal, como uma bomba atômica de lençóis e travesseiros sobre a Hiroshima de nosso mundinho consumindo-me e você."
"Talvez porque a sua pessoa, como homem, como amante, como meu dono, não faça mais parte do meu mundo."
Mulher submissa ?
Eu demoro para me convencer de quando alguém escreve um silogismo, seja para alguém. Na minha reles opinião, dentre os menestréis da "MONT BLANC" do cotidiano, sempre há um ou outro que mascara o íntimo sentimento.
ExcluirUm exemplo raro em uma música que Karina, não ouviu, porque essas foram esquecidas, na voz de Maysa, a maior cantora brasileira.
Com não posso colocar o vídeo deixo a letra, para completar seu sentimento ao mais fatal de todos:
O AMOR
Hino Ao Amor (Hymne À L'amour)
Maysa
Compartilhar no Facebook
Compartilhar no Twitter
exibições
65.354
Se o azul do céu escurecer
E a alegria na terra fenecer
Não importa, querido
Viverei do nosso amor
Se tu és o sonho dos dias meus
Se os meus beijos sempre foram teus
Não importa, querido
O amargor das dores desta vida
Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar
Se o destino então nos separar
Se distante a morte te encontrar
Não importa, querido
Porque morrerei também
Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar
Quando enfim a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará no céu te encontrar
Se traduzíssemos o original de Èdith Piaf ficaria assim:
O céu azul sobre nós pode desabar
E a terra bem pode desmoronar
Pouco me importa, se tu me amas
Pouco se me dá o mundo inteiro
Desde que o amor inunde minhas manhãs
Desde que meu corpo esteja fremindo sob tuas mãos
Pouco me importam os problemas
Meu amor, já que tu me amas.
Eu irei até o fim do mundo
Mandarei pintar meu cabelo de louro
(ou: Me transformarei em loura)
Se tu me pedires
Irei despendurar a lua
Irei roubar a fortuna
Se tu me pedires
Eu renegarei minha pátria
Renegarei meus amigos
Se tu me pedires
Bem podem rir de mim
Farei o que quer que seja
Se tu me pedires
Se um dia a vida te arrancar de mim
Se tu morreres, se estiveres longe de mim
Pouco me importa, se tu me amas,
Porque eu morrerei também
Teremos para nós a eternidade,
No azul de toda a imensidão
No céu não haverá mais problemas
Meu amor, acredite que nos amamos.
Deus reúne os que se amam.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirVamos lá. Num primeiro momento, quero agradecer a participação da minha leitora Bia, que me honrou com a leitura de meu humilde trabalho. Em resposta à pergunta, “se meu texto é dedicado a um amor, ou a um pai”, certamente está, ou ficou, se não claro, mas implícito) que referenciei ao amor de uma mulher por um homem. Aliás, um cachorro. Desculpe. Se a amiga se ater ao começo da crônica, perceberá que descrevo “Tornei a acordar como sempre. Acordar com saudade. Muita saudade! Saudade de você a meu lado, de acariciar seu rosto para que desperte. Depositar um beijo terno em seus olhos, alisar seus cabelos, sentir o perfume do perfume que você mais gosta de usar”. Estou me dirigindo a um alguém. A um amor que tive tempos atrás. E que se foi... Partiu, achou outra melhor que eu. Logo a seguir, “Mas, meu Pai -, Pai com “P” Maiúsculo -, cadê você?” Esse Pai, sinaliza Pai do Céu. “Mas, meu Pai do Céu, cadê você? Meu simpático e querido editor, Jim Pereira, entendeu a mensagem e respondeu brilhantemente: “Pelo que entendi, é a Deus”. E mata a charada, tirando a dúvida, esclarecendo a seguir: “Você, meu Deus, você é quem manda para longe as incertezas do meu amanhã”. Se quando eu fiz menção ao “Mas, meu Pai, cadê você?”, raciocine comigo, se não estivesse me dirigindo ao Eterno, em atitude de questionamento à Deus, ou indagando D’Ele, logicamente estaria direta-indiretamente trazendo à baila um caso de incesto. Infelizmente, amiga Bia meu Papai, ou como eu o tratava, carinhosamente de “Papito”, já se foi faz tempo... Por segundo, cabe aqui um outro questionamento que, igualmente, ficou embutido. Vejamos: “...Depositar um beijo terno em seus olhos, alisar seus cabelos...”. Perceba, amiga Bia, que a minha intenção era “alisar” seus cabelos (os dele, do meu ex-amado). “Alisar” no sentido de mimosear, ameigar, desbastar, desenrugar, pentear ou despentear... Imagine se eu tivesse escrito “Depositar um beijo terno em seus olhos, alizar (alizar com “Z”,) seus cabelos...”. Obviamente, estaria de posse de uma régua nas mãos dando acabamento num portal, ou porta”. Assim, como a nossa língua portuguesa é rica em detalhes, uma palavra, às vezes trás conotações diferentes. Nesse caso, o “meu ex-amor” me ligaria furioso, talvez até me xingasse, no dado momento em que descobrisse que eu o estaria querendo ao meu lado, não para “alisar” os seus cabelos, ao contrário, “alizar” os seus cabelos no sentido de lhe dar um acabamento sutil, como se o considerasse, uma porta. Desculpe a brincadeira, amiga Bia. Estou contentíssima com a sua participação e mais uma vez quero agradecer pela leitura ao meu singelo texto. Fiquei sua fã.
ResponderExcluirDa amiga Carina Bratt
Ca
Em Vila Velha, no Espírito Santo.
Um alô e um muito obrigada especial ao senhor Jim, meu editor, pela participação.
ResponderExcluirCarina Bratt
Ca
Em Vila Velha ES
Amigo Paizote, estava sentindo a sua falta. Sua intervenção é sempre bem vinda. Some não.
ResponderExcluirCarina
Ca
em Vila Velha ES
Concordo plenamente, amigo Roccha. Uma música excelente e muito bonita. Pena que hoje em dia não tenhamos mais essas melodias. Elas se foram junto com as memórias de meu pai, que aliás, tinha a coleção completa de Maysa.
ResponderExcluirSaúde, Graça e PAZ!
Carina
Ca
Em Vila Velha ES
https://www.youtube.com/watch?v=TcXtfYGwHwY