domingo, 23 de fevereiro de 2020

[As danações de Carina] Quem vê só a cara, não enxerga o que pode estar por detrás de um rosto envolto em uma máscara de carnaval

Carina Bratt


Carnaval às portas. Vamos nos divertir. Pular, dançar, gritar, rodar a baiana. A galera de canto a canto, só pensando em soltar a franga. Com o Rei Momo a solta, a folia a todo vapor, os foliões precisam, entretanto, se cuidar. Nessas épocas de festividades sem pé nem cabeça, onde ninguém é de ninguém e cada um só tem em mente aprontar, chutar o pau da barraca, sem pensar nas consequências, se faz mister tomarmos cuidado com ela. Ela está à solta. Espera lá! Ela quem? A SIDA, queridas leitoras. Que Sida? A AIDS.  

Nos meios médicos, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida está aí, de venda no rosto. Até ontem (pode ser que até o final da folgança o quadro se modifique) a AIDS continua sendo a mais degradante e assustadora das doenças sexualmente transmissíveis. Para quem ainda não sabe, essa enfermidade é causada pelo vírus da imunodeficiência humana (HIV, aquela incapacidade que o ser humano tem de produzir anticorpos e, em razão disso os antígenos específicos) para cada enfermidade atacam o sistema imunológico, especialmente as células “T”.

As células “T” fazem parte dos glóbulos brancos do sangue. Isso, minhas caras amigas, provoca um enfraquecimento da imunidade: as pessoas com AIDS sofrem de infecções e cânceres muito mais graves, para os quais, ainda, a nossa medicina não encontrou a cura definitiva. Entre os mais de quinhentos vírus conhecidos que infectam os homens e as mulheres no Brasil, o HIV é um dos mais aterrorizantes e alarmantes. Os especialistas nessa área, pensavam, inicialmente, que a AIDS só afetava os homossexuais masculinos, geralmente através de sexo anal, e os viciados em drogas, pelo uso indiscriminado de agulhas infectadas (utilização parceiro a parceiro).

Depois de muito tempo, se constatou que a tormenta poderia ser transmitida pelas transfusões de sangue. Hoje se sabe que a “Maligna” pode ser acarretada ou guiada também pelas vias sexuais (homem-mulher-mulher-homem), só que, com uma probabilidade muito mais eficiente, levando em conta o coito anal, grosso modo, pênis-ânus, ânus-pênis. O vírus da AIDS, para vocês terem uma ideia mais abrangente, é muito mais velho do que se pensou inicialmente. A calamidade é bem recente, remonta dos anos oitenta, porém, pasmem, há mais de um quarto de século, habitantes do Congo Belga, hoje Zaire, já haviam sido expostos a uma bactéria similar, ou parecida ao do HIV.

Houve suspeitas de que esses seres eucariontes tivessem se originado na África, devido a sua alta incidência naquele continente e porque se descobriu “a posteriori”, que os macacos-verdes africanos se faziam hospedeiros de um vírus relacionado ao da AIDS. Entretanto, a reincidência da praga, na África se tornara de cinco a dez vezes maior que nos Estados Unidos. Os dados horripilantes daquela região diziam respeito à elevação da doença entre mulheres e crianças: num primeiro momento, segundo o trabalho de Rodolpho Telaroli Junior em seu livro magnífico “Epidemias no Brasil. Uma Abordagem Biológica e Social”, tomamos conhecimento que...

‘Havia em 2000, quarenta e cinco homens, quarenta e cinco mulheres e dez crianças para cada cem vítimas da doença. Nos Estados Unidos, em cada noventa e três cabeças, se enquadravam homens, meia dúzia de mulheres e uma criança. Em 2002, esse número duplicou, em 1990, triplicou e agora, final de 2019 e começo de 2020, quadruplicou’. E os números não param de crescer. O ensaísta e filósofo Eduardo Jardim, em “A doença e o tempo: Aids, uma história de todos nós” explica que ‘aparentemente a AIDS atingiu o Haiti, de onde passou para os Estados Unidos e outras partes do mundo’.

E conclui: ‘Embora não existam provas definitivas, há indícios de que a AIDS se grassou para outros rincões através de homossexuais masculinos. Depois, lastrou para pessoas que usavam drogas intravenosas. Em seguida, pessoas portadoras do vírus HIV doaram sangue, ensementando a doença através das transfusões’.  O mundo inteiro está pesquisando exaustivamente a AIDS. O vírus foi identificado, o que permite que se descubra se a pessoa desenvolveu anticorpos da AIDS, através de um exame de sangue.

Os exames igualmente podem sinalizar claramente se o sangue contém o vírus.  Por aqui, é obrigatório o teste da AIDS, para todas as doenças de sangue, o que torna as transfusões mais seguras. Contudo, é bom deixar claro que os cientistas ainda não atinaram com a cura derradeira para o mal. Se a gente for julgar pelo que se conhece até agora, parece improvável que a AIDS possa ser repassada por contatos casuais (apertos de mãos ou beijos). Mais que isso, a nossa medicina acredita que para ser difundido o HIV, deve estar presente no sangue ou no sêmen, vivo e estável, sempre.

Os meios de transmissão primários continuam sendo o contato de agulhas hipodérmicas, transfusões de sangue e infecções no nascimento. A AIDS é um vírus do sangue e, no passado, se difundiu através do suprimento dele aos hemofílicos e pessoas que careciam de transfusões ou de “trocações” de sangue. Ocasionalmente, pacientes de hospitais que recebiam transfusões, também restaram infectadas pela doença, embora sintomas só aparecessem muitos anos depois, quando o sistema imunológico ficava depauperado e os necessitados começavam a contrair diferentes tipos de cânceres e anomalias.

O risco de contrair AIDS por transfusão de sangue diminuiu muito com a obrigatoriedade do exame de sangue diretamente efetivada nos possíveis doadores. Voltando às agulhas, o uso promíscuo delas, é um dos principais meios de transmissão da AIDS, ou a porta de entrada para se chegar ao mal. O vírus é injetado no corpo, onde se multiplica rapidamente e se estabelece no sistema celular responsável por parte da imunidade. À medida que esse sistema se debilita, as defesas imunológicas diminuem e a pessoa se torna muito suscetível a infecções e aos cancros existentes.

Para que a AIDS fosse transmitida através da atividade sexual, se pensou inicialmente que seria necessária a existência de um corte ou lesão para que os fluídos corporais do portador infectassem a outra pessoa. Isso aconteceria provavelmente na relação anal, onde pequenas lacerações do tecido anorretal permitiriam o ingresso da AIDS. Voltando às relações anais, seria de bom entendimento trazer um pequeno trecho de “Pelo Cu Políticas Anais” dos autores Javier Sáez e Sejo Carrascosa”. Prestem atenção: ‘alguns achavam que a contaminação ocorria exclusivamente através do sexo anal (pica no cu, cu na pica), e em nenhuma outra forma de relação sexual, mas essa opinião foi questionada’.

E mais adiante: ‘Estudos recentes, sugerem que a AIDS talvez não se transmita pelo beijo ou sexo oral (para o homem, felação, para a mulher, a mamada. Em ambos os casos, a ingestão do sêmen, um do outro, através de um boquete). O Dr. David Ostrow formado pela Universidade de Manitoba e membro do Royal College of Physicians  do Canada, num de seus mais de cento e noventa estudos patrocinados pelo Instituto Nacional de Saúde, envolvendo nele mais de cinco mil homossexuais masculinos, afirma que é melhor não engolir  o sêmen (a porra, ou no caso da mulher, o homem sugar a sua lubrificação vaginal), embora não tenha encontrado provas concretas de transmissão da  AIDS pelo beijo ou felação.

Por seu turno, o Dr. Martin Schecter, da Escola de Medicina da Universidade de Portland, estudou mil e setecentos homossexuais e, num artigo publicado em Lancer em (15-12-1986) afirmou que ‘nenhuma forma de sexo oral representa risco de transmissão da AIDS’. Entre vivos e espertos, malandros e vivaldinos, já que estamos com a cabeça enterrada no carnaval, para nós mulheres, a melhor maneira de evitar a AIDS é, na medida do possível, não ter relações sexuais com homens desconhecidos, peguetes, ficantes, namoridos (ou até mesmo aquela figura “cheguei” que você conheceu num bloco de carnaval, num barzinho, num restaurante, enfim, amigas...).

Para o homem, a mesma coisa. No geral, todas e todos, fujam daqueles e daquelas que não admitam manter atividades homossexuais. Esses são os piores. O uso da camisinha pode ajudar a diminuir a distensão ou a depravação da doença. Não use drogas injetáveis, haja o que houver, não compartilhe seringas e agulhas. Eliminar ou reduzir as transfusões de sangue é de um modo objetivo, uma maneira direta de diminuir o risco de pegar AIDS. Os profissionais da saúde devem tomar muito cuidado ao manipularem agulhas e sangue de pacientes com AIDS e usar sempre luvas, seringas e agulhas descartáveis.

Não se esqueçam nunca, minhas amigas leitoras. Os dados recentes são, até certo ponto, tranquilizadores. Não parece provável haver uma disseminação epidêmica (como temos visto em relação ao coronavírus), pelo menos a ponto de se afirmar “incontrolável”. Ao mesmo tempo, os cuidados preconizados desaceleraram o ritmo de expansão da doença entre as criaturas não pertencentes ao conhecido “grupo de alto risco”. Quanto ao mais, UM FINAL DE SEMANA ALEGRE E BOM CARNAVAL A TODAS.
Título e Texto: Carina Bratt, do Rio de Janeiro. 23-2-2020      

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