Carina Bratt
Carnaval às portas. Vamos nos divertir. Pular, dançar, gritar, rodar a baiana. A galera de canto a canto, só pensando em soltar a franga. Com o Rei Momo a solta, a folia a todo vapor, os foliões precisam, entretanto, se cuidar. Nessas épocas de festividades sem pé nem cabeça, onde ninguém é de ninguém e cada um só tem em mente aprontar, chutar o pau da barraca, sem pensar nas consequências, se faz mister tomarmos cuidado com ela. Ela está à solta. Espera lá! Ela quem? A SIDA, queridas leitoras. Que Sida? A AIDS.
Nos meios médicos, a Síndrome
da Imunodeficiência Adquirida está aí, de venda no rosto. Até ontem (pode ser
que até o final da folgança o quadro se modifique) a AIDS continua sendo a mais
degradante e assustadora das doenças sexualmente transmissíveis. Para quem
ainda não sabe, essa enfermidade é causada pelo vírus da imunodeficiência
humana (HIV, aquela incapacidade que o ser humano tem de produzir anticorpos e,
em razão disso os antígenos específicos) para cada enfermidade atacam o sistema
imunológico, especialmente as células “T”.
As células “T” fazem parte dos
glóbulos brancos do sangue. Isso, minhas caras amigas, provoca um
enfraquecimento da imunidade: as pessoas com AIDS sofrem de infecções e
cânceres muito mais graves, para os quais, ainda, a nossa medicina não
encontrou a cura definitiva. Entre os mais de quinhentos vírus conhecidos que
infectam os homens e as mulheres no Brasil, o HIV é um dos mais aterrorizantes
e alarmantes. Os especialistas nessa área, pensavam, inicialmente, que a AIDS
só afetava os homossexuais masculinos, geralmente através de sexo anal, e os
viciados em drogas, pelo uso indiscriminado de agulhas infectadas (utilização
parceiro a parceiro).
Depois de muito tempo, se
constatou que a tormenta poderia ser transmitida pelas transfusões de sangue.
Hoje se sabe que a “Maligna” pode ser acarretada ou guiada também pelas vias
sexuais (homem-mulher-mulher-homem), só que, com uma probabilidade muito mais
eficiente, levando em conta o coito anal, grosso modo, pênis-ânus, ânus-pênis.
O vírus da AIDS, para vocês terem uma ideia mais abrangente, é muito mais velho
do que se pensou inicialmente. A calamidade é bem recente, remonta dos anos
oitenta, porém, pasmem, há mais de um quarto de século, habitantes do Congo
Belga, hoje Zaire, já haviam sido expostos a uma bactéria similar, ou parecida
ao do HIV.
Houve suspeitas de que esses
seres eucariontes tivessem se originado na África, devido a sua alta incidência
naquele continente e porque se descobriu “a posteriori”, que os macacos-verdes
africanos se faziam hospedeiros de um vírus relacionado ao da AIDS. Entretanto,
a reincidência da praga, na África se tornara de cinco a dez vezes maior que
nos Estados Unidos. Os dados horripilantes daquela região diziam respeito à
elevação da doença entre mulheres e crianças: num primeiro momento, segundo o
trabalho de Rodolpho Telaroli Junior em seu livro magnífico “Epidemias no
Brasil. Uma Abordagem Biológica e Social”, tomamos conhecimento que...
‘Havia em 2000, quarenta e
cinco homens, quarenta e cinco mulheres e dez crianças para cada cem vítimas da
doença. Nos Estados Unidos, em cada noventa e três cabeças, se enquadravam
homens, meia dúzia de mulheres e uma criança. Em 2002, esse número duplicou, em
1990, triplicou e agora, final de 2019 e começo de 2020, quadruplicou’. E os
números não param de crescer. O ensaísta e filósofo Eduardo Jardim, em “A
doença e o tempo: Aids, uma história de todos nós” explica que ‘aparentemente a
AIDS atingiu o Haiti, de onde passou para os Estados Unidos e outras partes do
mundo’.
E conclui: ‘Embora não existam
provas definitivas, há indícios de que a AIDS se grassou para outros rincões
através de homossexuais masculinos. Depois, lastrou para pessoas que usavam
drogas intravenosas. Em seguida, pessoas portadoras do vírus HIV doaram sangue,
ensementando a doença através das transfusões’.
O mundo inteiro está pesquisando exaustivamente a AIDS. O vírus foi
identificado, o que permite que se descubra se a pessoa desenvolveu anticorpos
da AIDS, através de um exame de sangue.
Os exames igualmente podem
sinalizar claramente se o sangue contém o vírus. Por aqui, é obrigatório o teste da AIDS, para
todas as doenças de sangue, o que torna as transfusões mais seguras. Contudo, é
bom deixar claro que os cientistas ainda não atinaram com a cura derradeira
para o mal. Se a gente for julgar pelo que se conhece até agora, parece
improvável que a AIDS possa ser repassada por contatos casuais (apertos de mãos
ou beijos). Mais que isso, a nossa medicina acredita que para ser difundido o
HIV, deve estar presente no sangue ou no sêmen, vivo e estável, sempre.
Os meios de transmissão
primários continuam sendo o contato de agulhas hipodérmicas, transfusões de
sangue e infecções no nascimento. A AIDS é um vírus do sangue e, no passado, se
difundiu através do suprimento dele aos hemofílicos e pessoas que careciam de
transfusões ou de “trocações” de sangue. Ocasionalmente, pacientes de hospitais
que recebiam transfusões, também restaram infectadas pela doença, embora
sintomas só aparecessem muitos anos depois, quando o sistema imunológico ficava
depauperado e os necessitados começavam a contrair diferentes tipos de cânceres
e anomalias.
O risco de contrair AIDS por
transfusão de sangue diminuiu muito com a obrigatoriedade do exame de sangue
diretamente efetivada nos possíveis doadores. Voltando às agulhas, o uso
promíscuo delas, é um dos principais meios de transmissão da AIDS, ou a porta
de entrada para se chegar ao mal. O vírus é injetado no corpo, onde se
multiplica rapidamente e se estabelece no sistema celular responsável por parte
da imunidade. À medida que esse sistema se debilita, as defesas imunológicas
diminuem e a pessoa se torna muito suscetível a infecções e aos cancros
existentes.
Para que a AIDS fosse
transmitida através da atividade sexual, se pensou inicialmente que seria
necessária a existência de um corte ou lesão para que os fluídos corporais do
portador infectassem a outra pessoa. Isso aconteceria provavelmente na relação
anal, onde pequenas lacerações do tecido anorretal permitiriam o ingresso da
AIDS. Voltando às relações anais, seria de bom entendimento trazer um pequeno
trecho de “Pelo Cu Políticas Anais” dos autores Javier Sáez e Sejo Carrascosa”.
Prestem atenção: ‘alguns achavam que a contaminação ocorria exclusivamente
através do sexo anal (pica no cu, cu na pica), e em nenhuma outra forma de
relação sexual, mas essa opinião foi questionada’.
E mais adiante: ‘Estudos
recentes, sugerem que a AIDS talvez não se transmita pelo beijo ou sexo oral
(para o homem, felação, para a mulher, a mamada. Em ambos os casos, a ingestão
do sêmen, um do outro, através de um boquete). O Dr. David Ostrow formado pela
Universidade de Manitoba e membro do Royal College of Physicians do Canada, num de seus mais de cento e noventa
estudos patrocinados pelo Instituto Nacional de Saúde, envolvendo nele mais de
cinco mil homossexuais masculinos, afirma que é melhor não engolir o sêmen (a porra, ou no caso da mulher, o
homem sugar a sua lubrificação vaginal), embora não tenha encontrado provas
concretas de transmissão da AIDS pelo
beijo ou felação.
Por seu turno, o Dr. Martin
Schecter, da Escola de Medicina da Universidade de Portland, estudou mil e
setecentos homossexuais e, num artigo publicado em Lancer em (15-12-1986)
afirmou que ‘nenhuma forma de sexo oral representa risco de transmissão da
AIDS’. Entre vivos e espertos, malandros e vivaldinos, já que estamos com a
cabeça enterrada no carnaval, para nós mulheres, a melhor maneira de evitar a
AIDS é, na medida do possível, não ter relações sexuais com homens
desconhecidos, peguetes, ficantes, namoridos (ou até mesmo aquela figura
“cheguei” que você conheceu num bloco de carnaval, num barzinho, num
restaurante, enfim, amigas...).
Para o homem, a mesma coisa.
No geral, todas e todos, fujam daqueles e daquelas que não admitam manter
atividades homossexuais. Esses são os piores. O uso da camisinha pode ajudar a
diminuir a distensão ou a depravação da doença. Não use drogas injetáveis, haja
o que houver, não compartilhe seringas e agulhas. Eliminar ou reduzir as
transfusões de sangue é de um modo objetivo, uma maneira direta de diminuir o
risco de pegar AIDS. Os profissionais da saúde devem tomar muito cuidado ao
manipularem agulhas e sangue de pacientes com AIDS e usar sempre luvas,
seringas e agulhas descartáveis.
Não se esqueçam nunca, minhas
amigas leitoras. Os dados recentes são, até certo ponto, tranquilizadores. Não
parece provável haver uma disseminação epidêmica (como temos visto em relação
ao coronavírus), pelo menos a ponto de se afirmar “incontrolável”. Ao mesmo
tempo, os cuidados preconizados desaceleraram o ritmo de expansão da doença
entre as criaturas não pertencentes ao conhecido “grupo de alto risco”. Quanto
ao mais, UM FINAL DE SEMANA ALEGRE E BOM CARNAVAL A TODAS.
Título e Texto: Carina
Bratt, do Rio de Janeiro. 23-2-2020
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