terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

[Aparecido rasga o verbo] Fumacinha de ventilador

Aparecido Raimundo de Souza

O GARÇOM ME INFORMOU, pacientemente, que aquela fumacinha que o ventilador solta, a cada quinze segundos, não é fumaça:
- Então, o que é?
- Água.
- Água?
- Sim, cavalheiro!
- E para quê?
Ele concluiu a explicação obtemperando que a tal água vem de uma bomba escondida dos olhos do público, atrás do balcão. A ideia da engenhoca é refrescar o ar, e, por sua vez, o ambiente. A coisa deu certo. À primeira vista, parece meio estranho receber por sobre a cabeça e o rosto, aquela fumacinha (não é fumacinha, é água), principalmente quando se está comendo alguma coisa.

Sem o menor constrangimento, o troço vem espirrando água, enquanto o ventilador gira. Isso faz com que se transforme em fumaça, que, por sua vez, cai em forma de minúsculos respingos. Como se fosse uma chuva muito fina. Incomoda? Um pouco! Depois, com o tempo, à medida que o tempo vai passando, acaba-se por se acostumar. Aliás, o ser humano, de um modo geral, a tudo se adapta com muita facilidade, inclusive, a convivência do dia a dia, nos ensina a sofrer calado, sem chiar, nem botar a boca no trombone ou no microfone. Bem, a fumacinha dos seis ventiladores invade o imenso salão e assusta, para quem é pego de surpresa. A gente sente uma espécie de arrepio momentâneo que se dissipa no minuto seguinte. Talvez sejam os vários televisores espalhados e ligados na novela das oito (onde mais?!) que faz com que se fique em silêncio e não solicite o garçom para reclamar, ou o gerente, para dar um esporro.

Aliás, o gerente, de longe, me observa com ares de poucos amigos. Como se eu me importasse! Num painel, ao fundo, perto das geladeiras onde ficam os refrigerantes, estão postos, em  pequenas fotografias o que a casa oferece aos clientes: batatas fritas, filé no palito, carne de leitão, de porco, picanha, linguiça calabresa, queijo, filé mignon, baby beef (não me perguntem que não sei a tradução), fraldinha, espetinhos, aperitivos, salada, chopp porções de calabresa,  lombinho de porco e diversos outros acompanhamentos, inclusive para solteiros. O anúncio do outdoor é mentiroso.  Lá, vistas de longe, as guloseimas parecem saborosas. Entretanto, quando o garçom traz o prato pedido, o freguês (que dizem tem sempre razão), passa muita raiva. Sem mencionar os dez por cento que vem, sem graça (com graça para eles, claro) na conta a ser paga.

Pelo posto, em vista do que aqui ficou dito, concluo que o garçom e o gerente são dois imbecis fantasiados de palhaços, isso porque os uniformes deles, formados por uma calça preta, camisa azul e um avental laranja  sujo, que chega a dar medo, me faz lembrar de um passarinho fora do ninho. Sem tocar na gravata do cara do caixa. Parece não ver ferro há um bom tempo. Por essa razão, antes de qualquer coisa, acho que o cidadão do caixa necessita procurar um ferro e usá-lo o mais breve possível. Voltando ao garçom, são dois imbecis. Realmente! Me lembra um pensamento de Tompsom de Panasco: “o imbecil é como o idiota: não se faz, já nasce pronto”. É o caso, sem dúvida, do garçom e do gerente. Terminando com a história da fumacinha dos ventiladores – uma chamada básica para a carne que pedi -, as batatas e o arroz que vieram junto, pelo amor de Deus, não sei como os infelizes não têm vergonha de mandar servir à clientela.

Filé mignon. Não é filé nem aqui nem na China. As batatas? As batatas vêm duras, machucam os dentes e se o sujeito estiver usando dentaduras estará no mato sem cachorro. Por acaso há algo, em meio a essa droga toda que salva o lugar? O Atendimento? A cerveja? A cerveja está no ponto. Bem quente. Chega a sair fumaça. E um detalhe: não existe opção, só trabalham com aquela!

Resumindo, nada nesse restaurante é aproveitável. Os pratos são horríveis, o atendimento é péssimo, o barulho das televisões chega a ser ensurdecedor. Sem voltar ao problema, ou melhor, ao caso da fumacinha, só as duas moças que chegaram carregadas de malas, salvaram os quarenta e cinco minutos que passei por aqui. Se pretendo voltar outra vez? Sim! No dia de São Nunca.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, do Rio de Janeiro. 25-2-2020  

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