Aparecido Raimundo de Souza
A PROFESSORA LUCIANA resolve, no primeiro dia do regresso às carteiras escolares, fazer uma
experiência, aplicando um sistema diferente entre seus educandos. Entende, pela
experiencia do alto de seus vinte anos de magistério, que não deve seguir
somente os padrões normais de ensino, mas inovar, introduzindo sempre
novidades, fazendo com que seus alunos se sintam confortáveis e não presos a
dogmas antigos bem como a livros e as matérias, a maioria delas, consideradas chatas e superadas dentro do
extenso currículo escolar.
Nesse tom, resolve saber se seus “meninos e meninas” (como carinhosamente
os chama), estão afiados e em sintonia meridiana a tudo o que vem ministrando.
Após a chamada, se levanta e olha para a jovenzinha sorridente, a primeira da
fila, a mais esperta de um total de pouco mais de doze alunos.
- Luana, você saberia me dizer qual é a capital da Bahia?
Luana se levanta num salto e manda a resposta:
- Sim, professora. Salvador.
- Muito bem, Luana. Pode se sentar. Eustáquio, sua vez. Qual a capital de
Rondônia?
Eustáquio se mostra afiado e ligeiro à indagação da linda mestra:
- Porto velho, professora.
- Estou gostando de ver. Amanda, diga para todos nós sem pensar. Não vale
pensar. Qual a capital de Pernambuco?
Amanda, antes mesmo de ficar de pé, despacha a resposta.
- Recife, professora.
- Claudio, depois da estudiosa Amanda, diga para seus colegas qual é a
capital da Paraíba?
Claudio se levanta meio receoso, olha para os colegas à sua volta e
abaixa as vistas.
- Seria João Pessoa?
A professora faz cara de zanga e olha para o menino.
- Seria, Claudinho? Ou é?!
- Não estou bem certo, professora. Acho que é.
- Claudinho, seja mais objetivo. É João Pessoa? Sim ou não?
- Sim.
- Pode sentar. Procure estudar mais. Leporace, sua vez. Qual é a capital
dos Gaúchos?
- Dos o quê?
- Vou perguntar de outro maneira mais fácil. Qual é a capital do Rio
Grande do Sul?
- Bah, professora, essa resposta, se eu não soubesse, melhor passar a mão
em mim e ir vender bombachas em Pelotas.
A turma inteira caiu em estrondosa gargalhada.
- Responda, Leporace.
- Porto Alegre, professora. Nasci em Esteio. Perto de Canoas.
- Eu sei. Conheço Porto Alegre. Se você errasse juro que me atiraria de
cabeça por aquela janela...
- Capaz, professora!
- Falo sério. Vamos em frente. Tomás, Mato Grosso do Sul?
Tomás se levanta, visivelmente assustado.
- O que tem Mato Grosso do Sul, professora Luciana?
A professora Luciana se abre num sorriso amarelo.
- Tomás, quero saber qual é a capital de Mato Grosso do Sul?
- Ah tá! Mato Grosso do Sul, professora?
- Sim, Tomás. Mato Grosso do Sul. Vamos, não temos o dia todo.
- Campo Grande, professora. Desculpe
estava longe...
A professora não deixa por menos.
- Onde exatamente, meu rapaz?
- Deixa pra lá, professora.
Chega a vez de Francisca.
- Francisca, minha bonequinha loira. Qual a capital do Piauí?
- Posso ir ao banheiro, professora?
- Francisca, responda primeiro...
- Estou apertada...
Francisca... Responda...
- Tá legal, professora. Terezinha.
Francisca sai correndo e a professora Luciana intercepta seus passos.
- Não ouvi direito, Francisca... Quer por favor repetir?
- Terezinha, professora...
- Francisca, Francisca... Vamos, de novo. Piauí! Qual é a capital do
Piauí?
- Não é Terezinha, professora?
- Quase isso. Passou arranhando. Vamos... Última chance.
- Professora, estou apertada...
- Responda primeiro. Qual é?
- Ah, lembrei. Teresina.
- Pode ir ao banheiro. Vamos mais. Gustavo, a capital do Paraná?
- Curitiba.
A professora sorri e aplaude. Está contente com a sua turminha
- Ellen, qual a capital de Sergipe?
Depois de pensar por segundos, a menina mostra a sua sinceridade.
- Não sei, professora!
- Não sabe?
- Sei e não sei. É que deu um branco...
Diante da timidez da menina, a professora se achega para perto dela.
Insiste.
- Eu vou lhe dar uma dica. Preste atenção. Você é uma mocinha estudiosa.
Seu pai é jornalista, sei que lhe cobra muito, em matéria de conhecimentos
gerais. Na última conversa que tivemos, ele me falou que fica direto no seu pé,
quando o assunto e estudo e leitura. Principalmente leitura. Pois bem. Vou lhe
dar uma dica. É a seguinte: uma parte do nome dessa capital, é uma coisa
gostosa que a gente come...
- Lembrei, professora. Nossa, essa foi por pouco. Se papai estivesse por
aqui quando chegasse em casa iria me deixar de castigo. Com certeza uma semana
sem ver tevê. Aracaju.
- Isso mesmo, pequena Ellen. Parabéns. Aracaju.
Nessa altura do campeonato, o Tabordinha, de lá de atrás, resolve fazer
uma gracinha. Aliás, da turma não só da professora Luciana, como de outros
docentes, Tabordinha, se tornou chato e em razão disso, por diversas vezes seguidas se viu encaminhado
para a diretoria, exatamente por causa das suas piadinhas e tiradas sem graça.
Grita:
- Professora, a Ellen falou aí em Aracaju. Juro por Deus que pensei fosse
Cuiabá.
A professora Luciana fulminou o sapeca. Fez cara feia. Ia dizer alguma
coisa, chamar a atenção do guri. Preferiu desviar a atenção para outro
coleguinha que ainda não participara. Nesse exato momento se viu interrompida
pelo estrondo da campainha anunciando o recreio.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, do Rio
de Janeiro, 14-2-2020
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