sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

[Aparecido rasga o verbo] Em meio da lama grudada nos corpos falecidos, o peso da impunidade segue na caravela dos insensatos...

Aparecido Raimundo de Souza

DESDE VINTE E CINCO DE JANEIRO de 2019, aliás, uma sexta-feira, para muitos inesquecível, há exatos um ano e cinco dias, pasmem!, até ontem, nada, absolutamente nada mudou em Brumadinho.  Pode ser que hoje, 31 de janeiro de 2020, por sinal também coincidentemente uma sexta-feira, no instante em que escrevemos esse texto, os filhos da puta que compunham a diretoria da VALE DO RIO DOCE, ou os demais responsáveis diretos e indiretos pela tragédia que deixou mais de duzentos e sessenta mortos (o número oficial só Deus sabe ao certo), seguido de um infindável e impreciso de criaturas desaparecidas, bem ainda de famílias inteiras órfãs, de crianças sem pais e mães,  de depauperados sem casas, de desconhecidos sem chão, de homens e mulheres de vida comum sem futuro tenham uma surpresa.

Pode ser que, de num piscar de olhos, aconteça um milagre. Na época, o presidente da empresa, um verme nojento e asqueroso chamado Fábio Schvartsman, responsável além da VALE, igualmente pela Samarco Mineradora (que em cinco de novembro, de 2015, arrancou do mapa a pequena e bucólica Mariana, subdistrito de Bento Rodrigues, juntamente com uma outra pocilga com sede lá nos quintos do inferno, uma infâmia conhecida como  BHP Billiton, por sinal um pardieiro de origem anglo-australiano, praticamente às portas de completar quatro, não foi preso, nem processado, apesar do MP (Ministério Público de Minas ou a sigla completa, para os senhores entenderem melhor, MPMM, Ministério Público de Merda Mineiro) ter feito um estardalhaço danado, armado um picadeiro  bonito para todo mundo ver pela televisão.

Todavia, de prático, até agora, embora oficialmente (kikikikikiki oficialmente se fale em dezenove mortes fatais e o desencadeamento de um dos maiores desastres ambientais conhecidos), nenhuma medida de cunho positivo, terminante ou incisivo chegou a ser tomada. Sem falarmos nos juízes (machos pra burro, só para julgarem processinhos de dentro de seus confortáveis gabinetes com aparelhos de ar condicionado a todo vapor), togados ou cagados  que trabalharam (vamos rir de novo, kikikikikiki), que trabalharam no caso, que mostraram ser enérgicos e ágeis, ao prenderem gregos e troianos,  porém, “a depois”, todos os envolvidos como por encanto de uma magia mal explicada, se viram soltos, um a um, culminando com o caso abafado, encerrado, arquivado,  e  o melhor de toda a história, sem viva alma voltando a falar  da ilustre e pacata cidadezinha interiorana.

O que se sabe, é que no caso dessa localidade, vinte e duas pessoas e quatro empresas respondem nas barbas da “poderosa e infalível justisssssçça”, além de uma dessas vinte e duas, umazinha só, por homicídio, está às voltas com uma pendenga que nunca terminará. Resumindo Mariana: deixando de lado o tamanho dos crimes (ou se os senhores preferirem, das chacinas ou dos homicídios ou das matanças dos infelizes,  usque da raia miúda, que até este momento está a ver barquinhos, canoas e navios, um mês após Mariana ir para o espaço, restou, na lembrança dos ali residentes, um saldo de onze toneladas de peixes mortos (oito em Minas Gerais e três no Espírito Santo), observando,  ainda,  os  coitadinhos que conseguiram sair com vida, sofrerem, até hoje, as duras penas, atreladas aos prejuízos deixados por  toda um série escabrosa de impactos ambientais.

Quatro anos depois, o velho filme volta em cartaz. Dessa vez, com o público pagante dos pecados voltados para Brumadinho. Outra vez, as repetições das catástrofes, as duplicações das fatalidades, as monotonias dos fiascos, e as assiduidades dos descalabros. Novamente as reimpressões desenfreadas dos traumas, a reinvenção das dores, a fidelidade dos sonhos desfeitos, a firmeza dos pesadelos, a veracidade das pessoas desaparecidas, culminando com o falso e mentiroso número de mortos, duzentos e sessenta e dois, os incontáveis ou os inumeráveis desaparecidos. Senhoras e senhores, um ano e cinco dias, hoje, repetindo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2020, entendam a sistemática dos fatos. A logística está bastante clara e palpável. Ninguém foi preso, tampouco um bandido sequer responsabilizado.

Apenas o micróbio imundo do presidente da VALE, o carniceiro Fábio Schvartsman se viu afastado de suas funções, conseguindo, com esse ato, deixar o rego da sua bunda suja fora do alcance da seringa com a qual tomaria uma picada de agulha. Aliás, essa seringa, ou essa agulha, sequer chegaram a ser preparadas. Essa é a verdade. A grana que correu por debaixo dos panos (os acordos, os conchavos, os pactos e acertos, os jeitinhos brasileiros) permitiu que esse malandro, saísse rindo de todo mundo e com a cabeça erguida. O crime de Mariana, como o crime de Brumadinho, poderá passar o tempo que for. Dez, vinte, cinquenta anos. Ninguém será responsabilizado. Ninguém verá o sol nascer quadrado. Nós, filhos dessa terra de embusteiros, de impostores, trapaceiros e velhacos, nos acostumamos a conviver com a IMPUNIDADE.

A IMPUNIDADE faz parte da nossa vida cotidiana. Respiramos IMPUNIDADE, vinte e quatro horas por dia. Comemos IMPUNIDADE. Bebemos IMPUNIDADE. Cagamos IMPUNIDADE. Somos chacotas nas mãos desses ardilosos e engazopadores. Viramos bufões girafaleados, paus mandados. Os gatunos ordenam e obedecemos. Se tivéssemos um povo vigilante e empenhado com a sobrevivência da moral pública, um governo decente, uma plêiade de legisladores que preceituassem ou que estabelecessem normas justas a favor dos menos favorecidos...

Se pudéssemos contar com um STF (Superior Tribunal de Famigerados) que, ao invés de usarem as suas retóricas  impolutas para mostrarem conhecimento, não para os espectadores Brazzzil afora, ou saber jurídico em troca de uma boa quantidade de dinheiro em seus bolsos, ao invés dessa pouca vergonha escrachada, trabalhassem com lisura, sinceridade, decoro e consciência, em favor dos fodidos e carentes, os picaretas de plantão e os cafajestes por detrás das coxias ou as  lombrigas que  estavam frontispiciadas nas âncoras da VALE, ou mais precisamente no rompimento da barragem do Córrego do Feijão, a essas alturas estariam comendo cadeia.

Entretanto, como por aqui não existe transparência, limpidez, sequer uma gota de lucidez, seguimos mercê de um colegiado de miSinistros ladroes do povo, excelências a favor do Capiroro. Outras barragens com o passar dos anos irão se romper, outros obscuros aparecerão nas abas, grudados nos colhões da senhora dona IMPUNIDADE. Tudo continuará como dantes, no quartel de Abrantes. Afinal de contas, ilustres leitores e amigos, que salafrários, ou que patifes e desonestos da espécie mais sórdida não se enchem de alegria ao saberem, ou melhor, ao terem certeza absoluta que poderão contar, na casa de mãe joana, ou dito de forma mais precisa, num STF que tem em sua turma de “sogec”, por conveniência, um Gilmar Prendes Solta, um Luiz Fuxca,  um Marco Au-au-MiauauRélio Dicionário, uma Carnem Podre Lúcia e outras figuras carnavalescas que servem apenas para nos fazerem  dançar na corda bamba sobre a estrondosa e estonteante Marques de Sapucaí?!

O Brazzzil, senhoras e senhores é uma enorme embarcação cheia de sofredores e malnascidos, padecentes e necessitados. O Brazzzil é um vastíssimo terreno ermo, porém, repletado de homens e mulheres que não tem aonde cair morto. Voltando a embarcação, ela segue sem norte, mar aberto, oceano de ondas gigantescas. Tenta sobreviver a trancos e barrancos numa viagem às escuras em direção a puta que pariu. E os insensatos? Quem são eles? Esses, amados e amadas, os insensatos, são os nossos políticos corruptos, os nossos representantes “onestos” na Câmara, no Senado, nos palácios suntuosos, enfim... Em Brazzzilia em qualquer buraco do Avião Pousado, podem esses ratos de esgoto serem encontrados. Acreditem, porém, numa certeza sem margem de erros: toda essa galera passando por cima da lama, pisoteando os corpos das vítimas de Mariana e Brumadinho, escudados sobre a proteção ad aeternum da IMPUNIDADE. Aliás, uma salva de palmas para a nossa querida amiga, a IMPUNIDADE. Viva a I-M-P-U-N-I-D-A-D-E. Abram alas, perdão, abram os mares e as profundezas para a piroga dos insensatos.
Título e Texto: Aparecido Raimundo de Souza, de Florianópolis, Santa Catarina. 31-1-2019           

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