Raphael Fernandes
O nosso verdadeiro amor por chinelos é
uma coisa que quem não é do Rio de Janeiro tem muita
dificuldade para entender. Carioca usa chinelo nas mais
variadas ocasiões e lugares. Quem não gosta desse nosso hábito está,
certamente, botando os pés pelas mãos.
Ir ao shopping usando chinelos
nos pés já é praxe no Rio de Janeiro. Nem seria preciso citar aqui, mas essa é
uma das situações que mais surpreende quem não é carioca. “Nossa… chinelo no
Shopping…”. Sim. De chinelo no shopping. Por quê? Só não vou descalço porque
essa prática já é patenteada por cantores de Axé e intérpretes de MPB.
Carioca, sempre que pode, usa
chinelos. Às vezes, usa até quando não pode. Uma vez, em um casamento, todo
mundo bem vestido, vi um homem usando chinelos. Ele estava com um curativo em
um dos pés. Deduzi que esse fosse o motivo do calçado. No entanto, no decorrer
da festa, das taças de champanhe, o vi confessar que não estava com problema
nenhum no pé, simplesmente não queria usar sapatos. Descobri no mesmo dia que
ele seria o padrinho do casamento, só que acabou não sendo. Talvez a não
escolha tenha se dado por conta desse desapego nos pés. Que bom para ele. É
melhor usar chinelos do que ser padrinho de certos casais.
Trabalhei com um colega que
tinha um problema no pé que o impedia de usar sapatos. Ele ia de chinelos para
a empresa. Eu adoraria que o problema dele fosse contagioso para eu pegar e
poder trabalhar com os pés livres. Até sentava perto dele, porém, não deu certo
e continuei com a moléstia dos sapatos nos pés durante o expediente.
Contudo, nas horas livres é
liberdade para os pés. Chinelos em quase todos os lugares – e sem perder o
estilo. Todavia, ainda há quem não ache isso legal, que discorde do poder
estético dos chinelos. Que pessoal mais pé (chinelo) no saco. Cada um sabe onde
pisa. Vamos em frente.
Até mesmo em regiões de praia,
como o lindíssimo litoral nordestino, o uso de chinelos não é tão intenso como
no Rio de Janeiro. Não sei explicar. Não é por falta de incentivo, afinal, lá
também é calor e o ambiente é ideal para essa livre informalidade.
Uma das maiores fabricantes de
sandálias do mundo é brasileira. A Grendene (que não está patrocinando esse
texto pé-de-chinelo) foi fundada por gaúchos. Não sei o motivo que leva o
restante do Brasil a não ter o mesmo amor que temos por esses calçados. Azar o
deles. São muitas as pesquisas que mostram que sapato demais deforma os pés.
Aqui no Rio, com nossos chinelos, estamos sempre com o pé direito.
Título e Texto: Raphael
Fernandes, Diário do Rio, 25-1-2020
NÃO SUPORTO NADA NEM AREIA ENTRE OS DEDOS DO PÉ, PAGO 100 REAIS NUM CHINELO DE COURO NEM UM CENTAVO NUMA HAVAIANA QUE HOJE É FEITA NA CHINA E CUSTA 50 REAIS.
ResponderExcluir