Há esperança? Há. Conforme é típico nos
nativos do Largo onde tem a sede, o PS costuma sair de cena no momento em que o
navio se afunda, ou acaba o dinheiro. A esperança é essa: o advento da miséria.
Alberto Gonçalves
Para ilustrar a notícia sobre
o protesto de cidadãos pela reabertura das urgências no hospital Garcia da
Orta, que é público e portanto está a cair aos bocados, a agência Lusa usou uma
fotografia em que cidadãos distintos, obviamente em protesto distinto,
seguravam uma faixa com os dizeres “Se a saúde for privada, ficamos privados de
saúde”. Simples erro? Se acreditarmos que a fortuna do eng. Sócrates adveio do
cofre materno, com certeza que sim. A Lusa, espécie de demonstração cabal do
que o contrapoder não deve ser, sempre existiu para servir o poder propriamente
dito. Sob o atual governo, e sob o atual diretor, aquele sr. Nicolau que
convidava impostores para desacreditarem o governo de “direita” na televisão
[foto], a Lusa desceu da mera propaganda para a publicidade desconchavada: além
de um veículo do PS, é um veículo reles, com a carcaça ferrugenta e as peças à
vista.
Aliás, a situação da Lusa é
idêntica à da RTP, instituição também conhecida pela serventia a quem manda.
Recentemente, a diretora de informação da casa, Maria Flor Pedroso, saiu após
revelação de um bonito episódio censório, em que uma reportagem desagradável
para a tutela do Ambiente foi adiada para não interferir nas eleições. No seu
lugar, depositou-se António José Teixeira, cujo currículo tem tantas vênias ao
socialismo que o homem ainda arranja uma hérnia valente. Talvez fosse demasiado
ostensivo nomear para o cargo mais um familiar do dr. César dos Açores. Os
resultados, porém, não seriam diferentes. Quando o governante do “audiovisual”
é o autodesignado humorista Nuno Artur Silva (que só tem graça ao lembrarmo-nos
que apoia o dr. Costa desde os tempos da autarquia lisboeta), nada espanta no
universo do jornalismo estatal, de resto uma contradição nos termos e um sintoma
de atraso de vida.
O pior é que o jornalismo não
estatal não anda longe dessa subjugação descarada aos rústicos que nos
pastoreiam. De facto, até anda perto, tão perto que frequentemente não se nota
a diferença. Esta semana, um ministro afirmou que se os polícias compram
equipamento do bolso deles é apenas porque lhes apetece. A bojarda, que em
países civilizados despacharia o tal ministro para a gruta de onde o resgataram
e que vinda de um governante “neoliberal” inspiraria 18 capas indignadas do “Público”,
por cá passou quase despercebida na generalidade dos “media”, entretidos a
chamar gênio das finanças a um aldrabão como o dr. Centeno. Na maioria, os
“media” dedicaram igual indiferença à sugestão do secretário de Estado da
Saúde, que pretende erradicar as agressões a funcionários hospitalares mediante
o fornecimento de chá e bolinhos aos pacientes. Em compensação, os “media” não
desprezaram o dr. Costa, que numa oficina da pujante CP prometeu a vanguarda
mundial na produção de comboios. Isto só nos últimos dias.
Não sei se esta gente diz tais
barbaridades por estupidez própria ou confiança na alheia. Sei que as diz com
impunidade, por não haver escrutínio nem consequências. As autoridades
espanholas bem podem acusar o irrequieto António Vitorino de lavagem de milhões
para o regime venezuelano que, aqui, o assunto não sai fora dos rodapés. As
manchetes estão ocupadas com Isabel dos Santos, cautelosamente para que o
frenesim justiceiro de hoje não recorde a submissão babada de ontem, altura em
que as altas figuras da pátria faziam biscates enquanto tapetes da senhora.
Tudo é filtrado, manipulado, ocultado, distorcido. Tudo é, meço a palavra,
grotesco. “Habituem-se!”, para citar o engraçado dr. Vitorino. Estamos a
habituar-nos. E já nos habituáramos a que, citando outro socialista de
categoria, quem se meter com o PS, leva. Poucos se metem com o PS. Muitos
metem-se no PS, de modo a garantir emprego e prebendas.
Falei nos “media”. Podia falar
nos partidos, que salvo microscópicas e imprevisíveis excepções se
transformaram em satélites do Partido Único. Podia falar nas empresas, que
delegam a sobrevivência ao compadrio com os sobas locais e centrais. Podia
falar na população, suficientemente abstraída ou suficientemente dependente
para legitimar através do voto semelhante arranjo. O arranjo é interessante:
uma democracia formal sob os critérios de uma ditadura informal, descontraída,
suave, medonha. É possível tratar-se da consagração “natural” do regime, ainda
preso a uns resíduos de liberdade civil pelos fios de uma Europa em cacos. É
provável estarmos à porta de um regime novo, definido pelo enxovalho radical do
indivíduo às mãos vorazes do Estado, que se confunde com o PS e que, no fundo,
é o PS.
Há esperança? Há. Conforme é
típico nos nativos do Largo onde tem a sede, o PS costuma sair de cena no
momento em que o navio se afunda, ou acaba o dinheiro. Não tarda, o dinheiro,
retirado a contribuintes espremidos para financiar compadrios desavergonhados,
vai acabar. A esperança é essa: o advento da miséria, e uma miséria de que não
nos resgatem. Não sendo grande coisa, é melhor do que isto. Antes a realidade
do que a verdade que o PS impõe.
Título e Texto: Alberto
Gonçalves, Observador,
25-01-2020
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