Aparecido Raimundo de Souza
DESDE VINTE E CINCO DE JANEIRO de 2019, aliás, uma sexta-feira, para muitos inesquecível, há exatos um
ano e cinco dias, pasmem!, até ontem, nada, absolutamente nada mudou em
Brumadinho. Pode ser que hoje, 31 de
janeiro de 2020, por sinal também coincidentemente uma sexta-feira, no instante
em que escrevemos esse texto, os filhos da puta que compunham a diretoria da
VALE DO RIO DOCE, ou os demais responsáveis diretos e indiretos pela tragédia
que deixou mais de duzentos e sessenta mortos (o número oficial só Deus sabe ao
certo), seguido de um infindável e impreciso de criaturas desaparecidas, bem
ainda de famílias inteiras órfãs, de crianças sem pais e mães, de depauperados sem casas, de desconhecidos
sem chão, de homens e mulheres de vida comum sem futuro tenham uma surpresa.
Pode ser que, de num piscar de olhos, aconteça um milagre. Na época, o
presidente da empresa, um verme nojento e asqueroso chamado Fábio Schvartsman,
responsável além da VALE, igualmente pela Samarco Mineradora (que em cinco de
novembro, de 2015, arrancou do mapa a pequena e bucólica Mariana, subdistrito
de Bento Rodrigues, juntamente com uma outra pocilga com sede lá nos quintos do
inferno, uma infâmia conhecida como BHP
Billiton, por sinal um pardieiro de origem anglo-australiano, praticamente às
portas de completar quatro, não foi preso, nem processado, apesar do MP
(Ministério Público de Minas ou a sigla completa, para os senhores entenderem
melhor, MPMM, Ministério Público de Merda Mineiro) ter feito um estardalhaço
danado, armado um picadeiro bonito para
todo mundo ver pela televisão.
Todavia, de prático, até agora, embora oficialmente (kikikikikiki
oficialmente se fale em dezenove mortes fatais e o desencadeamento de um dos
maiores desastres ambientais conhecidos), nenhuma medida de cunho positivo,
terminante ou incisivo chegou a ser tomada. Sem falarmos nos juízes (machos pra
burro, só para julgarem processinhos de dentro de seus confortáveis gabinetes
com aparelhos de ar condicionado a todo vapor), togados ou cagados que trabalharam (vamos rir de novo,
kikikikikiki), que trabalharam no caso, que mostraram ser enérgicos e ágeis, ao
prenderem gregos e troianos, porém, “a
depois”, todos os envolvidos como por encanto de uma magia mal explicada, se
viram soltos, um a um, culminando com o caso abafado, encerrado,
arquivado, e o melhor de toda a história, sem viva alma
voltando a falar da ilustre e pacata
cidadezinha interiorana.
O que se sabe, é que no caso dessa localidade, vinte e duas pessoas e
quatro empresas respondem nas barbas da “poderosa e infalível justisssssçça”,
além de uma dessas vinte e duas, umazinha só, por homicídio, está às voltas com
uma pendenga que nunca terminará. Resumindo Mariana: deixando de lado o tamanho
dos crimes (ou se os senhores preferirem, das chacinas ou dos homicídios ou das
matanças dos infelizes, usque da raia
miúda, que até este momento está a ver barquinhos, canoas e navios, um mês após
Mariana ir para o espaço, restou, na lembrança dos ali residentes, um saldo de
onze toneladas de peixes mortos (oito em Minas Gerais e três no Espírito
Santo), observando, ainda, os
coitadinhos que conseguiram sair com vida, sofrerem, até hoje, as duras
penas, atreladas aos prejuízos deixados por
toda um série escabrosa de impactos ambientais.
Quatro anos depois, o velho filme volta em cartaz. Dessa vez, com o
público pagante dos pecados voltados para Brumadinho. Outra vez, as repetições
das catástrofes, as duplicações das fatalidades, as monotonias dos fiascos, e
as assiduidades dos descalabros. Novamente as reimpressões desenfreadas dos
traumas, a reinvenção das dores, a fidelidade dos sonhos desfeitos, a firmeza
dos pesadelos, a veracidade das pessoas desaparecidas, culminando com o falso e
mentiroso número de mortos, duzentos e sessenta e dois, os incontáveis ou os
inumeráveis desaparecidos. Senhoras e senhores, um ano e cinco dias, hoje,
repetindo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2020, entendam a sistemática dos
fatos. A logística está bastante clara e palpável. Ninguém foi preso, tampouco
um bandido sequer responsabilizado.
Apenas o micróbio imundo do presidente da VALE, o carniceiro Fábio
Schvartsman se viu afastado de suas funções, conseguindo, com esse ato, deixar
o rego da sua bunda suja fora do alcance da seringa com a qual tomaria uma
picada de agulha. Aliás, essa seringa, ou essa agulha, sequer chegaram a ser
preparadas. Essa é a verdade. A grana que correu por debaixo dos panos (os
acordos, os conchavos, os pactos e acertos, os jeitinhos brasileiros) permitiu
que esse malandro, saísse rindo de todo mundo e com a cabeça erguida. O crime
de Mariana, como o crime de Brumadinho, poderá passar o tempo que for. Dez,
vinte, cinquenta anos. Ninguém será responsabilizado. Ninguém verá o sol nascer
quadrado. Nós, filhos dessa terra de embusteiros, de impostores, trapaceiros e
velhacos, nos acostumamos a conviver com a IMPUNIDADE.
A IMPUNIDADE faz parte da nossa vida cotidiana. Respiramos IMPUNIDADE,
vinte e quatro horas por dia. Comemos IMPUNIDADE. Bebemos IMPUNIDADE. Cagamos
IMPUNIDADE. Somos chacotas nas mãos desses ardilosos e engazopadores. Viramos
bufões girafaleados, paus mandados. Os gatunos ordenam e obedecemos. Se
tivéssemos um povo vigilante e empenhado com a sobrevivência da moral pública,
um governo decente, uma plêiade de legisladores que preceituassem ou que estabelecessem
normas justas a favor dos menos favorecidos...
Se pudéssemos contar com um STF (Superior Tribunal de Famigerados) que,
ao invés de usarem as suas retóricas
impolutas para mostrarem conhecimento, não para os espectadores Brazzzil
afora, ou saber jurídico em troca de uma boa quantidade de dinheiro em seus
bolsos, ao invés dessa pouca vergonha escrachada, trabalhassem com lisura,
sinceridade, decoro e consciência, em favor dos fodidos e carentes, os
picaretas de plantão e os cafajestes por detrás das coxias ou as lombrigas que
estavam frontispiciadas nas âncoras da VALE, ou mais precisamente no
rompimento da barragem do Córrego do Feijão, a essas alturas estariam comendo
cadeia.
Entretanto, como por aqui não existe transparência, limpidez, sequer uma
gota de lucidez, seguimos mercê de um colegiado de miSinistros ladroes do povo,
excelências a favor do Capiroro. Outras barragens com o passar dos anos irão se
romper, outros obscuros aparecerão nas abas, grudados nos colhões da senhora
dona IMPUNIDADE. Tudo continuará como dantes, no quartel de Abrantes. Afinal de
contas, ilustres leitores e amigos, que salafrários, ou que patifes e
desonestos da espécie mais sórdida não se enchem de alegria ao saberem, ou
melhor, ao terem certeza absoluta que poderão contar, na casa de mãe joana, ou
dito de forma mais precisa, num STF que tem em sua turma de “sogec”, por
conveniência, um Gilmar Prendes Solta, um Luiz Fuxca, um Marco Au-au-MiauauRélio Dicionário, uma
Carnem Podre Lúcia e outras figuras carnavalescas que servem apenas para nos
fazerem dançar na corda bamba sobre a
estrondosa e estonteante Marques de Sapucaí?!
O Brazzzil, senhoras e senhores é uma enorme embarcação cheia de
sofredores e malnascidos, padecentes e necessitados. O Brazzzil é um vastíssimo
terreno ermo, porém, repletado de homens e mulheres que não tem aonde cair
morto. Voltando a embarcação, ela segue sem norte, mar aberto, oceano de ondas
gigantescas. Tenta sobreviver a trancos e barrancos numa viagem às escuras em
direção a puta que pariu. E os insensatos? Quem são eles? Esses, amados e
amadas, os insensatos, são os nossos políticos corruptos, os nossos
representantes “onestos” na Câmara, no Senado, nos palácios suntuosos, enfim...
Em Brazzzilia em qualquer buraco do Avião Pousado, podem esses ratos de esgoto
serem encontrados. Acreditem, porém, numa certeza sem margem de erros: toda
essa galera passando por cima da lama, pisoteando os corpos das vítimas de
Mariana e Brumadinho, escudados sobre a proteção ad aeternum da IMPUNIDADE. Aliás,
uma salva de palmas para a nossa querida amiga, a IMPUNIDADE. Viva a
I-M-P-U-N-I-D-A-D-E. Abram alas, perdão, abram os mares e as profundezas para a
piroga dos insensatos.
Título e Texto: Aparecido
Raimundo de Souza, de
Florianópolis, Santa Catarina. 31-1-2019
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