Péricles Capanema
Outro possível título para este
artigo: a política da exclusão. Exclusão, dilaceração social, tensão, vamos
falar a respeito. Em 13 de fevereiro (ocasião de perplexidade) o Papa Francisco
recebeu no Vaticano, em cordial reunião privada de uma hora, o ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva. Praticamente nada foi dito, nem precisava, todos
entenderam; política é, em larga medida, imagem.
A Santa Sé não emitiu
comunicado sobre a audiência, amplamente noticiada nos meios de divulgação do
mundo inteiro. Falar o quê? O chefão petista foi discreto na primeira
manifestação: “Encontro com o Papa Francisco para conversar sobre um
mundo mais justo e fraterno”. O mais importante em tais ocasiões é a “photo
opportunity” e Lula alcançou por inteiro o intento, divulgação mundial.
Leonardo Boff comentou satisfeito: “Esse encontro corresponde a um
desejo mútuo. Em março, haverá o grande encontro internacional ‘Economia de
Francisco’, onde o Papa propõe aos jovens economistas políticas contra a
desigualdade social nos países. Quem tem experiência de diminuir a
desigualdade, incluir 36 milhões de pessoas na cidadania é Lula, e o Papa
queria não só ler, como conversar, saber como se faz isso. É muito possível [a
participação de Lula no mencionado encontro dos economistas engajados] porque
quando houve o encontro pela primeira vez dos movimentos sociais populares, em
Roma, Evo Morales quis participar e os organizadores da cúria proibiram. O papa
interveio, disse ‘Evo Morales vem de baixo, é indígena, é meu convidado direto’
e participou. Creio que dessa vez haverá a mesma lógica”. Como Leonardo
Boff, exultaram um sem-número de comunistas.
Continuo do mesmo jeito,
católico e devoto do Papado; contudo, arrastado pela força incoercível da mais
simples lógica, ecoando milhões de irmãos na fé, deploro até o fundo a referida
entrevista e as circunstâncias que a cercaram. Representa enorme, revelador e,
no caso, escandaloso apoio do Sucessor de Pedro a Lula e ao partido acaudilhado
por ele. E por mais doloroso que possa ser para um católico, “veritas liberabit
vos” (Jo 8, 32) — não vou tapar o sol com a peneira —, o Papa Francisco se
comportou no caso como vem agindo a CNBB há décadas, companheira de viagem dos
objetivos petistas no Brasil.
Tal procedimento empurra o
Brasil para o atraso hoje padecido, entre outros países, por Cuba e Venezuela,
pobres cobaias do veneno socialista. Esse retrocesso, lembro ainda, coloca-nos
mais perto da submissão inteira à China e à Rússia. Finalmente, é fator de
empobrecimento, crueldade notória para com os pobres, pois lhes barra o caminho
para uma existência decente e possibilidades de crescer na vida. Desesperados
pela fome e pela atrofia generalizada de alto a baixo da sociedade, milhões
deles acabam tentando escapar como podem dos países torturados pela utopia que
intoxica o PT e enormes setores eclesiásticos.
Há mais. A conduta costumeira
da CNBB, useira e vezeira da opção preferencial pelas minorias revolucionárias
mais radicalizadas — e agora, infelizmente, também adotada no recente gesto do
Papa Francisco —, ademais de favorecer a eliminação do que ainda resta de ordem
temporal cristã, afasta a maioria do povo da área de influência da Igreja, e
assim cria obstáculos para a difusão do Evangelho na parcela da população mais
sensível a suas palavras. De outro modo, metralha possibilidades de
evangelização.
Viro a página. Que efeitos
duradouros terá a reunião cordial do Papa Francisco com o morubixaba do PT no
Judiciário e nas eleições municipais deste ano? Sobre o povo em geral? No Judiciário,
não dá para saber; uma coisa ao menos se percebe de plano, em nada atrapalhará
a defesa de Lula e dos acusados das roubalheiras amazônicas que padeceu o
Brasil.
O outro ponto, nas eleições de
outubro próximo? Em 2022? O escandaloso encontro ajudará eleitoralmente o PT e
seus aliados? Alentadas por ele, tubas da propaganda internacional e boa parte
da interna tentam enfunar as velas da esquerda. Conseguirão?
Caminhemos devagar, de olho
sobretudo nos sintomas que denotam o que se passa no interior das consciências,
ali está o âmbito decisivo para o futuro pátrio. Por oportuna, uma recordação.
Em de 13 de novembro de 1975 o Conselho Nacional da TFP divulgou documento
intitulado “Não se iluda, Eminência” endereçado ao cardeal dom
Paulo Evaristo Arns (íntegra em “Catolicismo” 299/300, a coleção está na rede),
criticando a posição favorecedora da subversão comunista que o episcopado
paulista reunido em Itaici havia tomado. Advertiu: “Não se iluda,
Eminência. Atitudes como a dos signatários do documento de Itaici vão abrindo
um fosso cada vez maior, não entre a religião e o povo, mas entre o Episcopado
paulista e o povo. A Hierarquia paulista, na própria medida em que se omite no
combate à subversão comunista, vai se isolando no contexto nacional. A
Hierarquia paulista tanto menos venerada e querida vai ficando, quanto mais
bafeja a subversão”.
O fenômeno para o qual a TFP
chamou a atenção em 1975 pode se repetir agora pela ação em especial do mesmo
“sensus fidei”, que agiu lá, e pode agir hoje de novo. O senso da fé faz as
pessoas perceberam nos seus pastores o timbre da voz de Nosso Senhor Jesus
Cristo. Quando não a ouvem, em atitude de fidelidade à doutrina da Igreja,
afastam-se, um fosso vai se agigantando. Aconteceu repetidas ocasiões ao longo
da História. “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e
elas me seguem” (Jo 10, 27).
De olho em particular no
“sensus fidei”, observemos ao longo dos dias as repercussões da funesta “photo
opportunity” do dia 13 de fevereiro em Roma. Se há motivos para preocupação (e
os há), inexistem justificativas para o abatimento. A maioria do Brasil (os
verdadeiros excluídos) não deve e não pode se abater. É preciso resistir ao
empurrão.
Título e Texto: Péricles
Capanema, ABIM,
18-2-2020
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