Carina Bratt
A vida passa, as horas
passam, tudo passa. Tudo passa, tudo vira poeira, pó fuligem, partícula,
cisco. Tudo passa, queridas amigas, tudo, menos nossos pensamentos. Eles não se
entregam, não abrem a guarda, não vão embora, tampouco arredam pé.
Ficam perturbando, atazanando,
torrando a paciência, enchendo o saco, atulhando, aglomerando, até que o
coloquemos diante do público leitor. Quando isto ocorre, quando o trazemos
diante de todos, eles se tornam livres e soltos, declarados e ilimitados,
autônomos e desassombrados.
Melhor de tudo: viram
histórias, crônicas, contos, ou até romances...
Simplesmente se adulteram em linhas da mais pura literatura. Eu, por
exemplo, gosto de escrever. Amo, de paixão, colocar no papel, despejar na folha
branca do Word da tela do meu laptop, aquilo que estou sentindo.
O incômodo que está me tirando
do foco, do sério e me desfigurando, ou me deteriorando do direito de ser feliz
comigo mesma. Seja um pensamento, seja uma ficção, uma mentira... O importante,
caras amigas, é colocar, para fora da alma, do corpo e da mente o que nos tenta
dificultar a vida.
Tudo o que nos embaralha o
belo, ou o formoso do cotidiano, se torna chato e fora de propósito. Devemos
fazer com aquilo que imaginamos ser mal e pernicioso se transformar numa
espécie de realidade nua e crua. Feito isto, dar um belo e possante chute no
traseiro e mandar o que nos encoleriza para os quintos do espaço.
Dizem os antigos que os
pensamentos voam, enquanto as palavras preferem ir a pé. Talvez seja para
tomarem conhecimento ou se agarrarem às coisas novas, ou, para num outro
ângulo, alcançarem a difícil arte de capturarem pequenos e insignificantes
detalhes que, pelo fato de estarem voando, passariam despercebidos.
A pé, pelos incertos da vida,
vivendo, a cada novo segundo uma emoção diferente, os pensamentos se
transfigurem, se metamorfoseiem e se vivifiquem em coisas maravilhosas. As
coisas belas e maravilhosas são, por sua vez, os pequenos mimos e canduras que
a loucura sopra em nossos ouvidos.
É exatamente aí, que a razão
que igualmente mora dentro de nós, capta, no ar fazendo com que o escritor
entre em cena e deixe a sua marca registrada, seja ela numa simples crônica ou
num intrincado romance repleto, até a borda, de nuances perigosos e
literalmente imaginativos.
Escrever, queridas amigas, faz
com que os pensamentos se tornem realidade. Escrever é fácil. Tentem colocar
alguma coisa no papel (no guardanapo do restaurante, num pedaço de papel
sanitário, num caderno, ou até mesmo num diário...).
Escrever é tão fácil como
tirar um saco de pipocas das mãos de uma criança indefesa. Escrever não é só
fácil e simples, dócil ou leviano. É um pouco mais saboroso. Começamos com as maiúsculas e terminamos com
os pontos finais.
O enredo é a comodidade sutil
que todas nós temos de falarmos o que tivermos vontade, seja gritando,
berrando, se esperneando, ou pior, com o medo mais ultrajante corroendo a nossa
alma. Escrever é nos livrarmos dos obstáculos, sem sermos interrompidas ou questionadas.
Olhem que legal: sem sermos
interrompidas ou questionadas. Escrever, portanto, é ir um pouco mais longe do
aquém invisível. Escrever é conversar com a nossa imaginação, com nosso
coração, com nosso “eu” interior. O mais importante, minhas amigas leitoras.
Escrever é sermos livres.
Escrever é falarmos o que der
na telha, sem nos importarmos com melindres, e o mais importante, sem sermos
oprimidamente analisadas, alteradas, falsificadas, tolhidas. Procuremos criar nosso próprio estilo. Um bom
estilo não deve mostrar nenhum sinal de esforço.
Lembrem sempre que o que é
escrito deverá parecer, custe o que custar, um feliz a glorioso acidente. Para
escrever, para deixarmos para a posteridade nossos pensamentos, para que eles
se tornem imorredouros, só existem duas regras básicas: ter algo a dizer, e
claro, dizê-lo. Sem meios termos, sem receio... Simplesmente abrir a boca,
escancarar os dentes e DIZER.
Título e Texto: Carina
Bratt, de Vila Velha, no Espírito Santo, 9-8-2020
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