Dilma demarca-se de escândalo na Casa Civil

Rita Siza, O Público

Aumenta a tensão na campanha eleitoral no Brasil

Imprensa brasileira divulga casos de corrupção e nepotismo envolvendo a ministra-chefe Erenice Guerra, que sucedeu à candidata do PT na Casa Civil e é seu braço direito.

Foto: Nacho Doce/Reuters

A candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à presidência do Brasil, Dilma Rouseff, evitou ontem comentar o mais recente escândalo de corrupção e nepotismo a irromper na campanha eleitoral naquele país, e que envolve a sua sucessora na Casa Civil, Erenice Guerra, braço direito da "petista".

Segundo alega uma investigação da revista Veja, Erenice Guerra ter-se-á aproveitado da sua posição de ministra-chefe da Casa Civil para favorecer a empresa de consultoria do seu filho, Israel Guerra, alegada intermediária em negócios com o Governo federal. Aquela publicação, cuja linha editorial se desvia francamente para a direita, revela que Erenice se encontrou várias vezes, informalmente, com empresários do sector da aviação e transportes interessados em firmar contratos com os Correios do Brasil.

As reuniões foram intermediadas por Israel Guerra, cuja empresa cobraria dos seus clientes uma "taxa de sucesso" de seis por cento para além da factura pelos serviços de consultoria - e que a revista especula que serviriam para "alimentar o projecto de poder do grupo que hoje ocupa o Governo".

As pretensões das empresas representadas por Israel Guerra foram todas viabilizadas: o empresário Fábio Baracat, que contou à Veja como decorreu o processo, acabou por estabelecer contratos no valor de 84 milhões de reais.

O candidato do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), José Serra, considerou o assunto "muito grave" e exigiu que as alegações fossem investigadas, para que se percebesse o âmbito das operações dentro da Casa Civil do Presidente Lula da Silva. "Eu lembro que no caso do "mensalão", na época do Zé Dirceu, o centro era a Casa Civil. Depois a Dilma deixou lá o seu braço direito, uma pessoa muito próxima. Hoje, de novo, o centro da "maracutaia" é a Casa Civil", observou o candidato "tucano", durante uma visita a Goiânia.

Ontem, OEstado de São Paulo divulgava um outro caso com Erenice: a sua irmã Maria Euriza, que assumiu o seu lugar de consultora jurídica no Ministério das Minas e Energia, autorizou o Governo a contratar o escritório de advogados de um outro irmão sem concurso público. Erenice deixou aquele cargo em 2005, quando transitou com a ministra Dilma para a Casa Civil.

"Estas denúncias têm que ser apuradas, tem que haver punição, não cobertura, diversionismo, ocultamento", insistiu José Serra, acrescentando que a eleição é a grande oportunidade para "terminar de uma vez por todas com estes escândalos??

Para a candidata petista, a polémica só interessa para alimentar a "pauta negativa caluniadora" da campanha de José Serra. "Eu não estou sendo acusada e não tenho de provar nada da minha pessoa. A questão não está no âmbito da minha campanha. É um assunto do Governo e o Governo responderá por ele", afirmou Dilma à Folha de São Paulo.

O assunto foi impossível de ignorar no último confronto televisivo entre os três candidatos Dilma, Serra e Marina Silva, dos Verdes, no domingo. O debate de duas horas foi dominado pelos escândalos de quebra de sigilo, corrupção e de "aparelhamento" do Estado e ficou marcado pela mais dura troca de palavras entre Rousseff e Serra até agora.

"O meu adversário quer ganhar no "tapetão", quer virar a mesa da democracia. Mas eu vou manter o alto nível da eleição e não vou passar à história como uma caluniadora", ignorou Dilma. "As pessoas do Brasil sabem que eu não sou nem caluniador nem evasivo. No seu caso, não dá para dizer", reagiu Serra. "Lamento profundamente as tentativas do meu adversário de me desqualificar. Não subestime ninguém, candidato, o senhor não é melhor do que ninguém", replicou Dilma.

Rita Siza, O Público,14-09-2010