terça-feira, 5 de outubro de 2010

Protesto contra o regime

Tentam convencer-nos que é mesmo inevitável o tipo de medidas que José Sócrates anunciou na semana passada. Dizem que para vencer uma crise, provocada por anos e anos de loucura no mundo da alta finança, por um lado, e por abuso irresponsável e corrupto dos recursos do Estado, por outro lado, os trabalhadores e a classe média terão de fazer enormes sacrifícios. Não há, garantem, outra alternativa.

Toda esta lógica de legitimação da pura injustiça, repetida vezes sem conta por políticos dos quadrantes políticos que têm governado Portugal, por economistas que dependem ou trabalham para o grande capital financeiro e por cronistas e jornalistas do regime, que apenas divergem na forma e não no essencial do conteúdo que opinam, tenta encaminhar-nos para o conformismo, para deixar cair os braços, para aceitar esta sentença sem que se recorra a qualquer apelo.
Explicam-nos que é a União Europeia a impor os cortes orçamentais e a contenção de despesa que ameaça levar à ruína as pessoas, os portugueses. Que esse sacrifício da vida real, que vai apanhar todos, é para tentar salvar as contas públicas, que apenas alguns geriram sem qualquer sentido de realismo e sem qualquer castigo. Adiantam--nos mesmo ser a chanceler alemã a forçar este tipo de gestão do Estado. E ninguém se preocupa por Portugal, que mal ou bem, com bons e maus governos, com tempos de fartura e outros de miséria, que sobreviveu independente e soberano mais de 800 anos, estar assim a prescindir de se governar a si próprio para tentar forçar rapidamente um hipotético e duvidoso equilíbrio financeiro.

E também já ninguém quer saber o que dizem inúmeros economistas americanos ou europeus, muitos deles tão embrulhados no regime político, na globalização e no poder financeiro quanto os que nos atazanam os ouvidos por cá, a jurar que estas medidas, estes cortes radicais, estas reduções de salários, estes aumentos de impostos, toda esta depressão que nos cai em cima, em vez de curar o doente vai matá-lo com o remédio.
E não é a discutir se José Sócrates mentiu ou não mentiu que algo de essencial se vai apurar. O que percebemos é que se tivéssemos outro primeiro-ministro comprometido com esta lógica da União Europeia e do mundo financeiro, não teríamos melhor sorte. O que percebemos é que quando o povo for protestar para a rua - porque os tempos o estão a obrigar a isso -, não fará apenas contra quem governa. O protesto, que se inicia com a greve geral de 24 de Novembro, pela primeira vez desde há pelo menos 20 ou 25 anos, fermenta pura revolta contra todo o regime. Isso é novo.
Pedro Tadeu, Diário de Notícias,05-10-2010
Manifestação de jovens trabalhadores, Lisboa, 26 de março de 2010

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