![]() |
Foto: Reuters |
O luxo não desaparece, apenas muda de mãos. No lote de 400 objectos de Bernard Madoff que foi leiloado sábado a fim de ressarcir os burlados nos negócios imaginários do investidor americano, havia um Rolex (preço base 65 mil dólares), um colar com 228 diamantes (preço base 75 mil dólares), electrodomésticos, chinelos com as iniciais BM e dezenas de braceletes de relógios - todas as manhãs, antes de ser condenado a 150 anos de prisão por fraudes no valor de 50 mil milhões de dólares, Madoff demorava-se a escolher um relógio da sua colecção para conseguir a melhor harmonia possível entre as horas douradas no seu pulso e a aliança de casamento (tinha várias).
No lote estava ainda a estátua de um touro. Madoff coleccionava representações de touros bravos, que espalhava pelas suas mansões. Tinha admiração pelo símbolo de Wall Street - essa escultura em bronze de um touro, colocada perto do edifício da bolsa nova-iorquina após o crash de 1987 e que representa, segundo o artista criador, DiModica, "a força e o poder do povo americano". Todos os dias os turistas fotografam o touro de Wall Street e passam as mãos pelos seus cornos e testículos, pedindo sucesso financeiro da mesma maneira supersticiosa que um doente pede saúde ao beijar os pés de um santo de pau. Não importa que o touro simbolize também a burla de Madoff, a toxicidade dos bancos de investimento, os esquemas manhosos do Goldman Sachs ou o pior da natureza humana devoradora e com memória curta. Porque a ganância, tal como o luxo, não desaparece, apenas muda de mãos.
Hugo Gonçalves, jornal "i", 15-11-2010
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-