domingo, 21 de novembro de 2010

Rei há 35 anos com apoio do povo

Juan Carlos foi entronizado a 22 de Novembro de 1975 e deu início à transição da ditadura para a democracia

"Hoje começa uma nova etapa na história de Espanha", disse Juan Carlos na sua coroação, a 22 de novembro de 1975. O Rei iria dar início à transição da ditadura para a democracia.
Existe a ideia generalizada de que os espanhóis são mais juan-carlistas que monárquicos, mas uma sondagem de Outubro revela que 57% dos nossos vizinhos preferem manter a monarquia parlamentar a apostar numa república. E apenas 8% dizem que o actual regime só vai durar enquanto Juan Carlos estiver vivo. O que não deixa de ser uma vitória para o Rei de Espanha, que assinala amanhã o 35.º aniversário da sua subida ao trono.
A 22 de Novembro de 1975, dois dias depois da morte de Francisco Franco, Juan Carlos de Borbón tornava-se Rei aos 37 anos. Escolha pessoal do ditador espanhol, que o designara seu sucessor em 1969, o neto do rei Afonso XIII acabaria por ser o rosto da transição pacífica da ditadura para uma monarquia parlamentar. Num dos momentos-chave, a 23 de Fevereiro de 1981, surgiu em directo na TV, com farda de comandante militar, a defender o Governo eleito: assim pôs fim à tentativa de golpe de Estado liderada por Antonio Tejero.

Ainda hoje, segundo uma sondagem realizada pela empresa Análises Sociológicas, Económicas e Políticas, 63% dos espanhóis consideram "algo" ou "muito" importante o papel do Rei para o funcionamento da democracia. Nem que seja por ele ser um símbolo da união de Espanha. E 84% dos inquiridos acreditam que a sucessão vai decorrer sem problemas, sendo o príncipe Felipe das Astúrias popular como o seu pai - escolhido como "o maior espanhol de todos os tempos" num programa de televisão da Antena 3, em 2007.

Felipe e Letizia, a jornalista plebeia e divorciada com quem o herdeiro se casou em Maio de 2004, são vistos como um casal moderno. E podem tornar-se no símbolo de uma Espanha que, socialmente, está na linha da frente da modernidade (foi um dos primeiros países a autorizar os casamentos homossexuais e a viabilizar o aborto legal). E, apesar da presença continua dos príncipes das Astúrias nas revistas cor-de-rosa, resta saber se a monarquia não acabará por ficar fora de moda.

Nos últimos anos, nem tudo foram rosas para a Casa Real. Um dos momentos mais difíceis terá sido em Setembro de 2007, quando jovens independentistas catalães queimaram fotografias suas e de Sofia - a princesa grega com quem o monarca se casou em 1963. O ataque levou mesmo o Rei a defender-se, aproveitando um discurso na Universidade de Oviedo. "A monarquia constitucional propiciou o período mais longo de estabilidade", lembrou. Foi o culminar de um ano ainda marcado pelo famoso Por qué no te callas?, lançado ao Presidente venezuelano, Hugo Chávez.

Há seis meses, o Rei foi submetido a uma operação numa clínica em Barcelona, com os médicos a retirarem-lhe um nódulo do pulmão direito. Não foram detectadas células malignas, mas voltou a falar-se da possibilidade de Juan Carlos, já com 72 anos, poder abdicar a favor do filho. Mas nem para a operação o Rei abdicou da regência, uma situação que está prevista na Constituição espanhola. A Casa Real considerou que o tempo em que estaria anestesiado para a cirurgia não iria impedir o exercício normal das suas funções.

Em plena crise económica, o 35.º aniversário da entronização de Juan Carlos não será assinalado com uma grande festa. Mas certamente será uma altura para um novo balanço de reinado e novas perguntas sobre o futuro da monarquia. O carisma de Juan Carlos e a forma como actuou na transição fez com que a Casa Real fosse respeitada ao longo dos anos - e continue a ser. O desafio do príncipe Felipe é fazer com que o cenário não se altere quando for a sua vez de usar a coroa.
Suzana Salvador, Diário de Notícias, 21-11-2010

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