quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ações desprovidas da razão


Oswaldo Colombo Filho
Tal qual a manifestação muito inteligente do jornalista Leandro Narloch, num editorial da Folha de S.Paulo, encontro em suas palavras a melhor forma de expressar-me diante dos manifestos ranços da estupidez que se seguiram às eleições presidenciais. Durante a campanha, não bastaram discursos com expressões baixas como: - “extirpa-se a oposição”; posteriormente o blog oficial da campanha da eleita presidente do país que ostentava a lamentável expressão de que a população de uma região do país classificava os habitantes de um estado de “bestas”. O clima na base do exemplo que deveria vir de cima se acirrou; até que uma jovem através do twiter exagerou em suas citações. Enfim, todos os fatos lamentáveis e que deveriam e poderiam ter sido evitados, não fosse inclusive até o propagandear feito pela OAB de Pernambuco ao intimar através do Ministério Público, e com tamanho alarde para que a jovem supracitada fosse processada. Justo é, mas os doutos quiseram antes de apagar o fogo arrojar um balde de gasolina sobre o que já encandecia. Manchetes em todos os jornais e ânimos mais acirrados ainda num turbilhão de bobagens internet afora; - e como processar agora milhares de pessoas?

A jovem, e faço votos esteja arrependida pelo seu descabido erro, e ao que se sabe perdeu seu emprego. A OAB pernambucana “antenada no disque-disque” do twiter, e naquele momento que obviamente era análogo a um convulsionado jogo de futebol; onde ambas as torcidas faltam com devido respeito à mãe do juiz, fez o que  julgou meritório ao defender as “raízes de seu povo” e assim ‘ipsis literis’ se posicionou e esbanjou-se em conclamar-se receber apoio notadamente de outras regionais da OAB e da própria unidade central. Até mesmo registra em seu site que sua atitude heróica repercutiu até no exterior!
Bem como quem tem raiz é vegetal e não sou um - sou um ser humano normal e que enaltece as suas origens pelos seus inegáveis valores e que contesta seus notórios desacertos, tenho forma distinta de entendimento dos “enraizados”. Não vejo gloria alguma em expor o meu país como sendo um lugar xenófobo, pois não é, e nem o povo que nele vive merece uma repercussão generalista dessa natureza. Essa valentia de empurrar bêbado ladeira abaixo ou noção de que seja de algum valor julgar-se guardião da moralidade produz sentido oposto e escuso à moralidade dos brasileiros que não enxergam diferenças de cor, de credo de raça e nem fronteira de estados; pois aqui ainda há muita gente que trata o Brasil como todo, seu solo é contínuo e pátria mãe no sentido solene, e não a progenitora sendo alguém que passe pela presidência. São pessoas que não se vulgarizaram na crença de um presidente mitomaníaco populista que estigmatiza aos berros e em praça pública o factoide mais contumaz de seu governo: - a elite - que não quer que se concedam benefícios sociais aos mais pobres, e como Goebbels, batendo na mesma tecla houve o efeito desejado em que aos incautos a mentira se transformou em verdade.    
No embalo disso tudo, um irresponsável jornal, publicou uma foto da moça ao lado da “expressão” a paulista; A jovem, sozinha cometeu um erro grave, e sob notórias circunstâncias e que não atenuam o feito; mas deliberadamente os responsáveis pelo jornal fizeram questão de execrar todos os paulistas! Contudo, a atitude do “folhetim” ocorreu em outras circunstâncias, sem atenuantes, num momento posterior, numa decisão colegiada, e refletida por pessoas que deveríamos imaginar serem dotadas de algum senso de responsabilidade. Estamparam um verdadeiro cartaz de “procura-se” - descriçãopaulista.
Nesse “folhetim rançoso” sabem-se lá quantos pretensos responsáveis tiveram participação em tal ato de impetuosa bravura! Dimensionaram o risco que poderiam impetrar à jovem, ou a sua família? Certamente dessa verve jornalística não há povo no mundo que precise.
Se triste foi a frase da jovem; deplorável foi constatar que o candidato da oposição era rejeitado na região nordeste por ser do sul, quando lá mesmo, três ou quatro meses antes da eleição sequer sabiam quem era a candidata do Governo. Tudo isso inflado pelo estratagema de manutenção do poder a qualquer custo. A desunião, ou o embate calcado sob o pretexto de se criar falsos inimigos, pretensos descontentes com as benesses que sejam concedidas aos necessitados é o fomento do populismo no seu mais baixo nível e é inaceitável que entidades, jornais e pessoas que se dizem cultas passem a alimentar isso; afinal quantas jovens mais queremos criar com essa verve idiota que se manifesta assim?
Há uma distinção dos que orgulhosamente dizem que são “plantas e tem raízes” e dos que sabem que são seres humanos. Estes últimos têm valores morais, e sabem que a prática delituosa, enganosa e até mesmo a “injustiça que se faz a um é uma ameaça que se faz a todos” (‘Montesquieu’); sendo assim não vi tamanho devotamento da nobre entidade pernambucana em defender o povo brasileiro quando o nobre cidadão pernambucano - Lula da Silva incitou as massas a extirpar a oposição; ou chamar a imprensa de caluniosa no caso Erenice Guerra, e que semanas depois ela mesma confirmou na polícia federal, aquilo que publicamente ele afirmava discursivamente país afora ser mentira.
Tal qual Rui Barbosa não aceitarei a injustiça pela soberba midiática de pretensos doutos, pois é mui conveniente ao fascismo a divisão de classes Se o troféu da OAB pernambucana é a defesa do povo de seu estado que tal formar uma cruzada pela aprovação da PEC 438 que há sete anos está parada no Congresso e que propõe a expropriação de propriedades que se valem de labutadores submetidos a condições sub-humanas de trabalho - a escravidão - que foi abolida em fins do século XIX no Brasil, e que ainda era praticada nas propriedades do nobre deputado pernambucano Inocêncio de Oliveira em pleno século XXI, e já processado pelo Ministério Público do Trabalho por tal prática hedionda. Crime deplorável e que escapa da lei da ficha limpa!
Se isso não bastar, haverá muito por fazer ao que se assemelha à deplorável escravidão; pois segundo o IBGE existem 300 mil crianças no estado, e que deixam de ir à escola para trabalhar - isto certamente não é tratar condignamente seus próprios concidadãos, é condená-los desde a infância ao desterro da ignorância e da subserviência, é colocá-los desde já numa masmorra sem grades e sem muros; mas para libertá-los não surgem arautos e manchetes midiáticas.
A cada passo em sentido errado que esses hipotéticos moralistas dão como diretiva a este país, mais nos afundam no ideário populista que quer perpetuar a distinção de classes, criando falsos inimigos, a maledicência, pois nessa seara criminosa é que se enraíza o populismo, o coronelismo, o obscurantismo moral que assola a nação e propaga o analfabetismo cívico.
Oswaldo Colombo Filho

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