segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Ordem reposta à força nas favelas do Rio

Depois de uma semana  de tensão e medo pelos ataques criminosos, autoridades reconquistaram o território  do Complexo do Alemão, depois de 30 anos nas mãos do crime organizado. Criminosos detidos quando tentavam fugir pelo sistema de esgotos e um traficante que tinha uma mansão de quatro pisos com jacuzzi são  algumas das histórias do dia ontem

Foto: Sergio Moraes/Reuters

Dezenas de tanques cercaram o Complexo do Alemão, na região norte do Rio de Janeiro, na véspera da derradeira investida militar, ontem, na área. Madrugada de vigília. Medo e psicologia de guerra. De um lado moradores da comunidade em pânico, resguardados em casa. De outro criminosos escondidos e armados a engendrar uma forma de fintar o cerco policial. 2600 homens: polícia militar, civil, federal e soldados do Exército e da Marinha, contra o Comando Vermelho, a maior facção criminosa do Rio. Desde domingo são 38 mortos e 80 veículos queimados.


Um dia histórico para a cidade. Nunca antes houve tamanha operação militar, num ambiente de guerra, sobretudo no maior complexo de conjunto de favelas da cidade. São 13. Milhares de moradores.
Ao nascer do dia, começou a mobilização. Troca de tiros. Estrondo de tanques a avançar. Os militares arriscaram, a pé, pequenas investidas para sondar o ambiente de um dos maiores redutos do crime organizado na cidade do samba. Há um Rio desgastado deste cenário. Cansado de viver sob o rastilho do medo. "Estou deitada no chão da minha casa desde quinta-feira", confessava uma moradora da comunidade, Roseli Andrade.
Às 08.00 da manhã as portas das casas precárias do Complexo do Alemão, já abriam a pontapés e gritos pela tropa de elite. Buscas para render criminosos. Algumas troca de tiros. Mas uma resistência menor do que a esperada.
"Tranquilidade estranha", concordaram as forças militares. Já dentro da comunidade, reforça-se as buscas, enquanto alguns criminosos se rendiam, a pedido de familiares. "Um dia ele ia ter que pagar", disse Ivanildo Trindade que levou o filho de 25 anos, Carlos Augusto, até às autoridades. "Agradeço por ele ainda estar vivo. Pelo menos agora ele vai ter paz", afirmou, emocionado, o pai.
Outros continuavam desaparecidos. A dúvida: onde poderiam estar escondidos centenas de criminosos? Nos cubículos das casas da favela? Mais buscas. Escapavam pelo esgoto? A polícia vasculhava a pente fino. Eles sabiam da fragilidade dos criminosos: estava cada um por si.
Mais troca de tiros. E a polícia, através de várias denúncias, conseguiu encontrar a mansão de um dos barões do tráfico, o Pezão. Mansão na favela: jacuzzi, piscina, mármores. Tudo destruído. Mas nem sinal dos criminosos. Apenas um arsenal de armas, granadas e mais de dez toneladas de drogas.
À medida que a polícia avançava, a população aliviava o temor de um banho de sangue e de poderem ser possíveis efeitos colaterais de uma guerra da qual não faziam parte. Cartazes e gritos de apoio: "Queremos Paz". E o apelo de um morador, por carta, às autoridades: "Por favor, não saiam da comunidade, senão os traficantes vão voltar e aterrorizar a nossa vida e fazer dos nossos filhos, filhos do tráfico", relata ao DN Rogério Menezes, da organização não governamental Afroreggae e um dos negociadores entre a polícia e os criminosos ali entrincheirados.
Às duas da tarde a bandeira do Brasil era hasteada no alto teleférico do Alemão, o ponto mais alto do Alemão. Mais tarde a bandeira do estado do Rio de Janeiro. Território reconquistado ao crime organizado. Há 30 anos que a região era reduto do tráfico. A polícia prendeu 30 suspeitos, entre os quais líderes do tráfico.
A moral do crime organizado esmorecia. A polícia prenderia depois o traficante Zeu, um dos condenados pelo assassinato do jornalista de investigação Tim Lopes, da Globo, há oito anos.
Já ao cair da noite cantava-se vitória. Sérgio Cabral, o governador do Rio de Janeiro reiterava com fervor o discurso de regozijo: "Estamos virando uma página na história do nosso Estado."
Num dia de tanta acção, alguns media perguntaram por Dilma Rousseff, a Presidente eleita do Brasil.
Vanessa Rodrigues, Diário de Notícias, 29-11-2010

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