sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A Greve de anteontem


O País viveu ontem (anteontem) um dia de excepção. Confrontado com uma crise de gravidade histórica, mas sobretudo com as medidas aplicadas para estancar a hemorragia, muitos foram os portugueses que decidiram fazer greve - entrando num movimento que pretendia marcar uma posição face à austeridade decretada pelo Executivo e que lhes serviu também quase como válvula de descompressão. Não importa aqui discutir os números da adesão à greve, como ontem, mal, fizeram sindicatos e Governo (numa verdadeira greve à verdade dos números, que só contribuiu para tirar peso ao acontecimento do dia - nem podem ser verdade os três milhões de CGTP e UGT nem os 20% do Executivo). Importa, sim, tirar lições sobre esse momento, o que acontece aqui ao lado e o que ainda virá depois.

Quanto ao primeiro ponto, será pacífico dizer que a greve se fez sentir, sobretudo, no sector público - de resto, o que mais fortemente será penalizado pelo Orçamento que entrará em vigor (no privado foi menos significativo e o País efectivamente não parou). Neste ponto, nem o Governo contesta: os efeitos foram significativos. A questão que se coloca hoje, dia seguinte à greve geral, é que consequência pode retirar-se deste movimento genuíno de contestação. A resposta, para ser séria, é limitada: apenas a lição de que não mais será possível governar como até aqui, nem tão-pouco viver neste país sob o mesmo modelo de desenvolvimento.
Haja quem olhe para o que está a passar-se na Irlanda, país tão central para o que vai passar-se não só por cá, mas em toda a Europa. O novo aperto ontem declarado, o sexto em dois anos e meio, despediu 25 mil funcionários públicos e cortou drasticamente nos apoios sociais e até nos salários mínimos. Dizer isto não é tirar mérito à greve - de resto, notavelmente ordeira e pacífica, salvo dois ou três episódios esporádicos condenáveis, mas muito longe da realidade que se verificou em França ou na Grécia. É apenas dizer que a realidade não permitirá desvios de caminho - se quiserem evitar-se outras greves, no médio prazo, provocadas pela incapacidade do Estado em fazer hoje o que tem de ser feito.

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