terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Rescaldo por lapso

Na segunda-feira passada, por lapso do Diário de Notícias, foi publicado aqui em meu nome um artigo que eu não escrevi, "O Rescaldo". É a primeira vez que acontece em mais de 18 anos de colaboração. Sou totalmente alheio ao referido texto e não posso ser responsabilizado pelo que lá vinha escrito. Mas esse acaso recomenda que eu analise a situação política do momento, tema do apócrifo, para esclarecer os que assim ficaram enganados sobre a minha posição.
Nunca falei das presidenciais neste espaço por uma razão simples: sempre me pareceu que o assunto não existiu. Era evidente desde o princípio que o professor Cavaco Silva ia ganhar à vontade. Também é evidente para quem o conhece, ou seja, todo o País, que ele não mudará de posição no segundo mandato, seguindo o rumo e atitude que sempre teve, goste-se ou não. Por isso, apesar dos enormes esforços para criar emoções e dúvidas, as questões à volta do assunto foram ocas e espúrias. Agora os comentadores atropelam-se para dizer que a campanha e eleição não tiveram interesse, o que era patente há anos. No que toca aos outros candidatos, mesmo com alguns egos feridos ou exaltados, nada houve que importasse ao País, preocupado com coisas muito mais graves.

Aliás, o texto que me foi atribuído não tratava de presidenciais, usando-as como mero pretexto para insultar o Governo, o PS e a esquerda, em termos que nunca usei, nem usarei. Mas, temos de o dizer, são insultos hoje frequentes em blogs, cafés e conversas. Serão justificados?
O Partido Socialista está a passar por um dos momentos mais difí-ceis da sua longa história. O actual consulado conduz o partido por caminhos que o marcarão indelevelmente durante muito tempo. Um dia os historiadores determinarão até que ponto a desastrosa gestão do eng. José Sócrates se deve à esquerda e ao PS ou é da responsabilidade do pequeno grupo que domina o Executivo há seis anos. O que não há dúvida é que, culpado ou não, será o partido a sofrer as consequências. Como o País, ele é vítima da conjuntura.
É conveniente lembrar que o PS é um dos grandes movimentos da nossa democracia, a quem Portugal muito deve. A heróica defesa da liberdade, antes e depois da revolução, e a aposta irredutível na adesão à Europa são inestimáveis contributos históricos. É verdade que foi o PS, após 1995, que nos introduziu nesta derrocada financeira. Mas foram governos liderados pelo Partido Socialista a resolver as duas graves crises anteriores, onde nos tinham precipitado o PCP em 1975 e a AD em 1983.
João César das Neves, Professor universitário, Diário de Notícias, 07-02-2011

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