No primeiro domingo a seguir aos atentados no Metro londrino, em 2005, fui ao Hyde Park. Entre os vários grupos no Speakers' Corner, o mais numeroso era à volta de um marroquino de turbante e discurso directo. Em cima de pequeno banco, ele aplaudia os atentados. Que, naquela cidade, há três dias, tinham causado mais de 50 mortos... O homem falava e eu desconfiava que a democracia não fosse tão boba assim. Se calhar era táctica: lembrei-me da explicação de um perito de segurança que gabava os serviços secretos ingleses em detrimento dos franceses. Estes reprimiam os islâmicos radicais, o que cortava todas as pontes com eles a ponto de não se saber o que faziam os mais radicais dos radicais. Já os britânicos davam a máxima liberdade aos cidadãos mas isso trazia como vantagem poder vigiar as mesquitas frequentadas pelos potenciais bombistas... No sábado passado, meia dúzia de anos depois dos atentados em Londres, o primeiro-ministro David Cameron declarou que a Grã-Bretanha ia proibir os "pregadores de ódio que falam nas mesquitas". Segundo o New York Times de ontem, a inversão da política de permissividade, que dura há 50 anos, devia-se a este aviso: o MI-5, os serviços secretos para assuntos internos, considera que existem 2 mil muçulmanos na Grã-Bretanha envolvidos em células terroristas. Quer dizer, a permissividade permitiu saber quantos há. Mas também permitiu que haja muitos.
Ferreira Fernandes, Diário de Notícias, 07-02-2011
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