sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Eleitores ignoram os problemas do PT


Francisco Vianna
Para inglês ver, os analistas políticos no Brasil tendem a insistir em que as eleições municipais têm pouco a ver com a política nacional. Mas os líderes políticos parecem não acreditar neles.
Dilma Rousseff, a ‘popular presidente’, fez campanha para os candidatos do PT em São Paulo e em Belo Horizonte e quando o candidato do PSB foi reeleito em 7 de outubro último em Belo Horizonte, Aécio Neves — ex-governador do estado e provável candidato da oposição à presidência da república em 2014— pareceu brilhar por trás dessa vitória.
Assim, quais as conclusões que podem ser tiradas desse primeiro turno eleitoral no qual 116 milhões de brasileiros vieram a eleger 5.568 prefeitos? A fragmentação do sistema político no Brasil é tal ordem que seis diferentes partidos venceram, cada um em 400 prefeituras e 20 outros elegeram pelo menos um prefeito cada. Tanto a “base aliada”, governante, como a “oposição”, pode alegar algum sucesso eleitoral (as aspas se justificam pelo fato de que muitos consideram a “base aliada” como sendo, de fato uma “base alugada” e a “oposição”, pelo fato de que muitos acreditam que ela, de fato, não existe ou é apenas simbólica). Além do mais, em quase a sua totalidade, os partidos políticos são erigidos em bases marxistas que, todavia, incluem a palavra “democracia” como uma espécie de mantra ou palavra passe para a legalidade jurídica, embora a maioria deles tenham poucas convicções realmente democráticas. Partidos que realmente se propõem a lutar por uma democracia meritocrática – com irrestrito império da lei, em defesa à cultura judaico-cristã e em prol do conservadorismo econômico e político da maioria dos brasileiros – simplesmente não existem no país.
O PT temia que os eleitores pudessem punir o partido pelo fato das eleições coincidirem com o auge de um longo julgamento judicial, pelo qual alguns de seus ex-líderes estão sendo condenados por lavagem de dinheiro e uso do erário para a compra de votos a favor do governo no Congresso durante a presidência de Lula da Silva, predecessor e mentor político da presidente Dilma Rousseff. Nesta semana, a suprema corte condenou José Dirceu, o Chefe de Gabinete da primeira administração de Lula, bem como dois outros antigos membros chaves do PT.
Muitos brasileiros veem o julgamento do STF como um marco no fortalecimento das instituições democráticas — especialmente se o tribunal mandar para a cadeia o Sr. José Dirceu. Não obstante, o PT ganhou 71 novas prefeituras em todo o Brasil. Pode ser que conquiste mais após os segundos turnos em algumas cidades grandes no próximo dia 28 deste mês. Entre elas está São Paulo, considerada pelo PT como a cereja do bolo, onde a campanha de Lula tem se concentrado para ajudar o candidato Fernando Haddad.
O PSDB, supostamente a principal “oposição” à Dilma Rousseff, poderá também buscar alguma consolação numa possível vitória de José Serra na maior cidade da América do Sul. O partido perdeu quase 15% de seus prefeitos, mas venceu em seis das maiores cidades. José Serra, que já foi candidate do partido à presidência, sendo derrotado por Lula, enfrentará no segundo turno o Sr. Haddad pela prefeitura da cidade de São Paulo.
Talvez o sujeito mais feliz em 7 de outubro tenha sido Eduardo Campos, governador do Estado de Pernambuco e presidente do PSB (Partido Socialista Brasileiro). Seu partido de esquerda obteve um aumento de prefeitos da ordem de mais de um terço. Muito embora o PSB seja parte da “base aliada” do PT de Dilma Rousseff, os candidatos do Sr. Campos em Recife e em Belo Horizonte derrotaram o PT, mostrando que a “base aliada”, para dizer o menos, é apenas conjuntural e fisiológica. Eduardo Campos está agora sendo cogitado como candidate à sucessão de Dilma Rousseff, em 2014, ou um candidate da oposição em 2018 — o que, politicamente significa trocar seis por meia dúzia numa ambiguidade política que, todavia, ainda dá bons resultados num Brasil amplamente despolitizado e onde a elite econômica, cultural e profissional se mantém longe da atividade política como algo sujo e pestilento e, por isso mesmo, ficando ela a cargo em grande parte da escória nacional.
Os brasileiros, por outro lado, tendem a reeleger os bons prefeitos e afastar os maus e inoperantes. “A cultura da boa gerência municipal chegou para ficar”, diz Luiz Felipe d’Ávila do Centro de Liderança Pública, um grupo formador de opinião (think tank). Mas as exceções permanecem: no atrasado Estado de Alagoas 25 candidatos a prefeito estão subjudice. O que quer que aconteça a José Dirceu, uma limpeza mais abrangente se faz necessária.
Título e Texto: Francisco Vianna, 11-10-2012
Artigo escrito com base no editorial político da publicação inglesa “The Economist” 

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