terça-feira, 1 de outubro de 2013

Desobediência civil

José Manuel

O autor americano Henry David Thoreau, em 1849, foi o pioneiro a estabelecer a teoria relativa dessa prática num compêndio originalmente intitulado Resistência ao Governo Civil que mais tarde renomeou A Desobediência CivilA ideia predominante abrangida por esse ensaio era o de auto-aprovação e de como alguém pode estar em boas condições morais enquanto se opõe a quem "explora ou faz sofrer um outro homem"; dizia então que não precisamos de lutar fisicamente contra ele, mas sim não apoiá-lo nem deixar que este o apóie estando você contra ele. Este ensaio exerceu uma grande influência sobre muitos praticantes da desobediência civil. Igualmente aí, Thoreau explicava suas razões porque se recusara a pagar seus impostos, como um ato de protesto contra a escravidão e contra a Guerra Mexicana.

Acabo de ler a notícia de que está sendo dado hoje, 1º de outubro, o que já é considerado o maior calote da história por uma empresa latino-americana. É a empresa petroleira  OGX de um conhecido vendedor de nuvens ou, como quiserem, o conhecido  Eike Batista. 


São US$ 45 milhões de dólares ou a astronômica quantia tropical de 90 milhões de Reais.

O pior deste tipo de notícia e a de já sabermos por outras notícias de que  há dinheiro do BNDES envolvido nestas transações. Para conseguir um alívio de caixa, a OGX está vendendo para a malaia Petronas uma fatia em blocos de petróleo.

Ou seja, a história se repete, como na Varig e, mais recentemente, na TAM, também aconteceu e se venderam  "produtos nacionais" para investidores estrangeiros. Primeiro se investe com dinheiro público e depois, se não der certo, se vende para o exterior.
O lucro desaparece, o país é leiloado em seus melhores ativos sem dó nem piedade e, pior, o que está por trás de tudo isso?

O mais interessante é que se um pequeno empreendedor sem dívidas, mas com potencial para crescer, solicitar um cartão BNDES  de crédito rotativo, lhe são colocados tantos empecilhos, até um faturamento impossível, então, invariavelmente ele acaba desistindo do seu projeto.

Nós, do Aerus, por exemplo, que temos a receber nada menos do que sete anos e seis meses, ou 90 salários em atrasados, estamos endividados até ao impossível, quantas vezes não sentimos vontade de não pagar mais nada, e isto, é lógico, seria praticar Thoreau e sua desobediência civil.

O problema é que nós, mortais comuns, nascidos dentro de uma educação em que se prima pela responsabilidade, não temos coragem de fazer isto, o que seria perfeito tendo em vista que somos credores de uma dívida em que a união é devedora declarada.
Por raciocínio lógico, se você não recebe, se você é credor de uma dívida, como é que pode quitar dívidas com aquele que é o agente da dívida?
O país pode decretar uma moratória, mas nós que não recebemos desse país não podemos?

Ora, apesar de estarmos devendo, o princípio do "devo não nego, pago quando puder" ainda mais por que estamos em boas condições morais, em muito se aplica à teoria da desobediência civil de Thoreau.
Essa teoria, cai como uma luva em casos como este.
Aí, enquanto vacilantes em nosso raciocínio, ou melhor, executamos ou não a dita teoria, cai em nossas mãos essa notícia de que o Eike deu um calote monstruoso, com recursos públicos e dentro dos conformes.
Ou seja, com dinheiro público pode-se dar um calote monumental e tudo bem!

O raciocínio destes  "imortais" que praticam isto com a maior naturalidade, deve ser na medida em que se criminosos comuns não ficam presos, criminosos políticos são abonados pelo judiciário e têm as suas penas perdoadas por firulas jurídicas, eles também jamais serão presos por um negocinho mal feito. Afinal, o que vale é a intenção, não é?
Acho que vou começar a pensar e levar mais a sério a teoria de Thoreau.
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 67 anos, e pensando seriamente...

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