quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Ó coitados! O que será de nós, portugueses, sem Miró


Miró, gravuras e "coltura"
Jose Carmo
A propósito do Miró, um amigo referiu o caso de Foz Côa.
É uma excelente referência.
Na altura, com os cofres cheios do dinheiro cavaquista, Guterres, devidamente tocado à vara pela malta da "coltura" (a malta que pretende que os restantes cidadãos paguem, mesmo que não queiram, as mediocridades que produzem ou gostam), largou uma quantia pornográfica do nosso dinheiro para suspender uma barragem já em construção, porque "as gravuras não sabem nadar".

Ui, as gravuras, ia ser um ror de gente a desaguar ali, resmas de turistas iam transformar o vale do Coa numa Rupestrelândia, e não sei quê. Amanhãs cantariam, as gravuras iam ancorar o desenvolvimento da região, tudo para todos, todos ganham, todos têm prémio, como promete a Alice no seu país das maravilhas.

Calhei na altura ir lá ver as famosas gravuras e o melhor que posso dizer é que só as vi porque um dos arqueólogos que lá andavam, apontava para as pedras e explicava que aquelas sombras e entalhes eram as famosas gravuras. Contornava aquilo com os dedos e a gente via coisas, mais ou menos como o Maduro, da Venezuela, vê o Chavez nos entalhes dos túneis do metro.
E pensei para mim mesmo que só nos sonhos húmidos destes malucos é que aquilo atrairia turistas a sério.

A realidade está ai para provar este ponto.
Enfim, pagou-se principescamente para destruir uma barragem, pagou-se majestosamente para institucionalizar as gravuras e o resultado está à vista: só alguns nerds da arqueologia sairam a ganhar. Os mesmos da "coltura" que berram pelo dinheiro dos contribuintes mas que não metem o dinheiro deles no negócio. Se todos aqueles que berraram desalmadamente pelas gravuras tivessem pagado para as irem ver, se calhar até o prejuizo teria sido mínimo.
O mesmo com o Miró. Se os da "coltura" estão tão empenhados, porque não compram eles as pinturas e instalam um museu?
Título e Texto: Jose Carmo, Fiel Inimigo, 05-02-2014



Já não tenho paciência para os Mirós
José Manuel Fernandes
Já devia estar calejado, mas acabo por ficar sempre surpreendido. Surpreendido com o PS e surpreendido com os bem-pensantes do país.

Nesta discussão sobre as obras de Miró parte-se logo de um equívoco: a de que não existe custo se ficarmos com os quadros, pois eles já são nossos. Não é verdade. Há um custo de cerca de 35 milhões de euros. Se os quadros não forem vendidos, será o Orçamento de Estado a ter de meter esses 35 milhões no imenso buraco do BPN – uma realidade que a deputada Inês de Medeiros insiste em negar com a sua imensa arrogância e ignorância. É uma gota de água nesse imenso buraco? É. Mas não deixam de ser mais 35 milhões suportados pelos contribuintes.

Estando este ponto assente, importa saber se comprar uma colecção de quadros de Miró tem prioridade sobre outros gastos do Estado, se tem prioridade sobre outros gastos da Cultura e se tem prioridade sobre a aquisição de outras obras e colecções para os museus nacionais.

Qualquer pessoa sensata só pode responder negativamente a qualquer destas perguntas. Nenhum governante com os pés assentes na terra preferiria aplicar 35 milhões em pinturas de Miró quando isso implica retirar 35 milhões a outros destinos. E nenhum titular da Cultura com um mínimo de sensibilidade decidiria gastar 35 milhões nestas pinturas e não noutras inúmeras obras e colecções realmente relevantes para o património e memória nacionais. Aquela colecção de Miró nunca seria a primeira escolha.

É esta realidade que devia entrar pelos olhos dentro. O resto é poeira para os olhos.

Uma das ilusões que também regressou com este debate é a de que este “investimento” geraria muitas receitas futuras. É preciso ter uma enorme lata. Olhe-se para a Colecção Berardo que continua sem cobrar bilhete aos que a visitam. Olhe-se para o destino de Foz Côa. Olhe-se para os números dos museus nacionais onde existem colecções mais relevantes e muito mais interessantes. Só o voluntarismo cínico e demagógico dos que gostam de chamar aos outros “estúpidos institucionais” é que pode propagar esta ilusão.

Uma ilusão, como sempre, paga com o dinheiro dos outros. Se acham mesmo que o investimento é bom, dirijam-se a um banco, arranjem os 35 milhões, exponham depois os quadros num museu cobrando bilhete e fiquem ricos. Ou, o que é mais provável, fiquem endividados para sempre. Mas não queiram sobrecarregar ainda mais os contribuintes portugueses.
Título e Texto: José Manuel Fernandes, Blasfémias, 05-02-2014

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