1. As tradicionais medidas populistas esgotaram sua capacidade de
criar expectativas e gerar popularidade na América do Sul. Isso vale para os
limites orçamentários impostos ao populismo social, vale para a capacidade de
mobilização produto do populismo político, vale para o populismo econômico e
suas sequelas inflacionárias, fiscais, cambiais e desabastecimento e vale para
a violência e a criminalidade.
2. A impopularidade/desaprovação da quase-bolivariana Cristina
Kirchner subiu a 67,5%, sob uma inflação agora admitida de mais de 30% e um
câmbio paralelo mais que o dobro do oficial. A Venezuela, com todo o petróleo,
reage ao desabastecimento generalizado, a um câmbio paralelo 9 vezes maior que
o oficial e uma inflação de 50%.
3. Mesmo o Equador, com índices econômicos melhores, viu o
presidente perder as eleições municipais de dias atrás, nas três maiores
cidades do país e, por isso, pediu a carta de demissão de todo o seu
ministério. O presidente da Bolívia já não consegue evitar as grandes
manifestações de trabalhadores rurais e urbanos. E na Venezuela, Maduro fica
impopular e as manifestações de rua são contínuas e multitudinárias, apesar da
repressão, das mortes e das prisões.
4. Agora, o chavismo, que sempre ignorou a opinião internacional,
pede uma reunião urgente de pacificação do país. É verdade que vai usar o
domesticado Unasul para lhe dar respaldo, mas mesmo assim é um reconhecimento
que perdeu apoio interno e condições de conter as manifestações. Virá a
acusação de golpistas para justificar mais violência e mortes. O Brasil deve
ser precavido para não assinar embaixo. Ou assumirá a responsabilidade que lhe
caberá ao coonestar.
5. Isso tudo com os meios de comunicação nesses países sob rigoroso
controle e intervenções. Os governos usam e abusam da publicidade com os meios
de comunicação de massa que controlam e com a pressão sobre todos. Além de
controlar os parlamentos que elegeram e onde tem ampla maioria.
6. Essa é uma característica do populismo: tem prazo para terminar,
tem prazo para implodir, tem prazo para iludir a boa-fé e a esperança dos mais
pobres.
7. Lula e Dilma devem avaliar com atenção o que está acontecendo em
seu entorno. O hibridismo entre populismo fiscal e monetário de um lado e
sinais superficiais de racionalidade produziram uma rara desconfiança sobre o
futuro com eles, um consenso raramente visto antes nesse país em conjunturas de
relativa normalidade. Os tambores das ruas têm sido acompanhados com claros
sinais de fumaça
8. O governo de Lula e Dilma comemora um crescimento de 2,3% em
2013. E ao lado, os ruídos de uma inflação (sem os preços controlados de 8%),
bolsa despencando e um câmbio bêbado. São exemplos que ampliam a taxa de
insegurança. Eles que “costeiam o alambrado” (expressão usada por Brizola) do
bolivarianismo devem olhar bem além das eleições, para não acentuarem uma crise
que dá sinais de agravamento por todos os lados. E as erupções não anunciam:
surgem de repente.
Título e Texto: Cesar Maia, 07-03-2014
O presidente do Equador pediu a carta de demissão de todo seu ministério. Devia aproveitar a oportunidade para apresentar sua própria renúncia e convocar novas eleições.
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