sábado, 29 de março de 2014

Prostituição em processo de extinção

 
Jacinto Flecha
Ultimamente eu venho tendo umas quedas bruscas e perigosas. Não, não é o que você está pensando, a minha saúde vai bem, obrigado. Minhas quedas são de outro gênero, dessas que a gente menciona quando fala “caí das nuvens”. Parece-me que esta expressão já “caiu do galho”, está em desuso, por isso vale explicar que cai das nuvens quem esperava uma coisa e foi surpreendido com outra muito diferente, o que de modo geral leva-nos a “cair na real”. Assim você vai concordar que minhas quedas poderiam mesmo ser de vários tipos.

(Deixe de enrolação e entre logo no assunto).

Não se apresse, pois a queda de padrões morais (mais uma) que vou apontar já vem de longe, e caminha rápido para o fundo do poço. Vou apenas relatar minha conversa numa festa de aniversário, com um amigo de uns trinta anos, filho do colega aniversariante. Eu não o via há alguns anos, e perguntei depois das efusões iniciais:

— Então, quando é que sai o casamento?

— Casamento?! Pra quê?

Ora essa! Uma pessoa como ele deve entender como finalidade do casamento constituir uma família, gerar e educar filhos; portanto era preciso sondar o que ele tinha na cabeça:

— Bem, você já está estabelecido, e uma família não vai lhe exigir maiores esforços para manutenção e educação dos filhos.

— Filhos!? Mas quem está pensando em filhos? Eu quero levar uma vida descompromissada, e isso tornou-se muito fácil atualmente. Os prazeres que eu teria no casamento, posso encontrar a qualquer hora, em qualquer lugar, até mesmo na casa dos pais dela.
— Já ouvi falar disso, mas esses prazeres fora do lar não dão estabilidade emocional, não criam raízes nem são gratificantes.

— Era assim antigamente, mas hoje o prazer do momento é o que interessa. Além disso, a variedade supera de longe a monotonia do lar.

— Quer dizer que você acha atraente viver pulando de galho em galho, nessa situação conhecida antigamente como cachorro sem dono?

Minha alusão canino-simiesca poderia ser tomada como ofensiva, mas ele já tinha a resposta pronta:

— Ao contrário de ser sem dono, eu prefiro ser dono do que me dá prazer.

— E esses prazeres preenchem as necessidades da sua alma? Tive colegas que viviam em bordéis, mas não encontravam felicidade. Depois de casados, tudo mudou.

— O mundo de hoje desvinculou felicidade e casamento. As relações se mantêm enquanto os dois se dão bem. Quando isso acaba, muda-se para outra, sem traumas nem contrariedades.

— No casamento as pessoas assumem compromissos estáveis e definitivos, que prometem cumprir até que a morte as separe. Se não cumprem o que prometeram, nem adianta assumir o mesmo compromisso com outro.

— É isso o que estou procurando evitar, pois já convivi com muitas, e nenhuma me deu essa segurança de poder confiar até a morte.

Você pode notar que o meu amigo é bem contraditório no que pensa. Se pretendesse encontrar uma esposa digna do nome entre essas que pulam de galho em galho, realmente estaria no caminho errado. Seria o mesmo que frequentar casas de prostituição a fim de encontrar ali uma esposa para toda a vida. Mencionei isso, e ele tranquilamente comentou:

— Eu não considero essas minhas amigas de prazer algo diferente de prostitutas. Elas já vêm de inúmeros outros relacionamentos, e eu não serei o último. Não adianta disfarçar com eufemismos como namorada, gatinha ou qualquer outro. Não passam de prostitutas, garotas de programa, e nem exigem remuneração. Acho que dentro de algum tempo ninguém vai recorrer a prostitutas, pois quase todas estarão agindo como elas.

Cair das nuvens, neste caso, equivale a reconhecer minha ingenuidade. Eu me alegrava, achando que a prostituição está acabando, mas a revelação assustadora é que as prostitutas se multiplicam vertiginosamente… com outros nomes! 
Título, Imagem e Texto: Jacinto Flecha, 29-03-2014

Um comentário:

  1. Antes o homem podia pular de galho em galho, como você mesmo disse e agora que tanto a mulher o quanto o homem tem a LIBERDADE de fazer o que bem entender da vida, você decidiu julgar a sociedade com o fato que está aumentado as prostitutas? Pela sua lógica, prostitutos então sempre tiveram aos montes.
    Ninguém precisa ter família ou filhos para ser feliz. Eu mesma sou mulher, tenho um relacionamento sério, quero casar, mas nem de longe pretendo ser filhos. Isso não me torna menos feliz, menos comprometida com a sociedade ou menos mulher.
    Além disso, casamento não é para qualquer um, o que antes era uma obrigação, hoje é uma opção e as pessoas mudam, é praticamente impossível manter a afinidade com o passar do tempo. O que devemos fazer, nos manter presos ao outro pq prometemos até que a morte os separe?! Mesmo na infelicidade?! A vida é uma só e não dá tempo pra ficar perdendo com bobagens como essa.
    O mundo está precisando de pessoas com menos estigmas, menos preconceitos e menos hipócritas e com certeza, nem você nem seu amigo do texto, são uma delas.

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