Jacinto Flecha
Ultimamente eu venho tendo
umas quedas bruscas e perigosas. Não, não é o que você está pensando, a minha
saúde vai bem, obrigado. Minhas quedas são de outro gênero, dessas que a gente
menciona quando fala “caí das nuvens”. Parece-me que esta expressão já “caiu do
galho”, está em desuso, por isso vale explicar que cai das nuvens quem esperava
uma coisa e foi surpreendido com outra muito diferente, o que de modo geral
leva-nos a “cair na real”. Assim você vai concordar que minhas quedas poderiam
mesmo ser de vários tipos.
(Deixe de enrolação e entre
logo no assunto).
Não se apresse, pois a queda
de padrões morais (mais uma) que vou apontar já vem de longe, e caminha rápido
para o fundo do poço. Vou apenas relatar minha conversa numa festa de
aniversário, com um amigo de uns trinta anos, filho do colega aniversariante.
Eu não o via há alguns anos, e perguntei depois das efusões iniciais:
— Então, quando é que sai o
casamento?
— Casamento?! Pra quê?
Ora essa! Uma pessoa como ele
deve entender como finalidade do casamento constituir uma família, gerar e
educar filhos; portanto era preciso sondar o que ele tinha na cabeça:
— Bem, você já está
estabelecido, e uma família não vai lhe exigir maiores esforços para manutenção
e educação dos filhos.
— Filhos!? Mas quem está
pensando em filhos? Eu quero levar uma vida descompromissada, e isso tornou-se
muito fácil atualmente. Os prazeres que eu teria no casamento, posso encontrar
a qualquer hora, em qualquer lugar, até mesmo na casa dos pais dela.
— Já ouvi falar disso, mas
esses prazeres fora do lar não dão estabilidade emocional, não criam raízes nem
são gratificantes.
— Era assim antigamente, mas
hoje o prazer do momento é o que interessa. Além disso, a variedade supera de
longe a monotonia do lar.
— Quer dizer que você acha
atraente viver pulando de galho em galho, nessa situação conhecida antigamente
como cachorro sem dono?
Minha alusão canino-simiesca
poderia ser tomada como ofensiva, mas ele já tinha a resposta pronta:
— Ao contrário de ser sem
dono, eu prefiro ser dono do que me dá prazer.
— E esses prazeres preenchem
as necessidades da sua alma? Tive colegas que viviam em bordéis, mas não
encontravam felicidade. Depois de casados, tudo mudou.
— O mundo de hoje desvinculou
felicidade e casamento. As relações se mantêm enquanto os dois se dão bem.
Quando isso acaba, muda-se para outra, sem traumas nem contrariedades.
— No casamento as pessoas
assumem compromissos estáveis e definitivos, que prometem cumprir até que a morte
as separe. Se não cumprem o que prometeram, nem adianta assumir o mesmo
compromisso com outro.
— É isso o que estou
procurando evitar, pois já convivi com muitas, e nenhuma me deu essa segurança
de poder confiar até a morte.
Você pode notar que o meu
amigo é bem contraditório no que pensa. Se pretendesse encontrar uma esposa
digna do nome entre essas que pulam de galho em galho, realmente estaria no
caminho errado. Seria o mesmo que frequentar casas de prostituição a fim de
encontrar ali uma esposa para toda a vida. Mencionei isso, e ele tranquilamente
comentou:
— Eu não considero essas
minhas amigas de prazer algo diferente de prostitutas. Elas já vêm de inúmeros
outros relacionamentos, e eu não serei o último. Não adianta disfarçar com
eufemismos como namorada, gatinha ou qualquer outro. Não passam de prostitutas,
garotas de programa, e nem exigem remuneração. Acho que dentro de algum tempo
ninguém vai recorrer a prostitutas, pois quase todas estarão agindo como elas.
Cair das nuvens, neste caso, equivale
a reconhecer minha ingenuidade. Eu me alegrava, achando que a prostituição está
acabando, mas a revelação assustadora é que as prostitutas se multiplicam
vertiginosamente… com outros nomes!
Título, Imagem e Texto: Jacinto Flecha, 29-03-2014
Título, Imagem e Texto: Jacinto Flecha, 29-03-2014
Antes o homem podia pular de galho em galho, como você mesmo disse e agora que tanto a mulher o quanto o homem tem a LIBERDADE de fazer o que bem entender da vida, você decidiu julgar a sociedade com o fato que está aumentado as prostitutas? Pela sua lógica, prostitutos então sempre tiveram aos montes.
ResponderExcluirNinguém precisa ter família ou filhos para ser feliz. Eu mesma sou mulher, tenho um relacionamento sério, quero casar, mas nem de longe pretendo ser filhos. Isso não me torna menos feliz, menos comprometida com a sociedade ou menos mulher.
Além disso, casamento não é para qualquer um, o que antes era uma obrigação, hoje é uma opção e as pessoas mudam, é praticamente impossível manter a afinidade com o passar do tempo. O que devemos fazer, nos manter presos ao outro pq prometemos até que a morte os separe?! Mesmo na infelicidade?! A vida é uma só e não dá tempo pra ficar perdendo com bobagens como essa.
O mundo está precisando de pessoas com menos estigmas, menos preconceitos e menos hipócritas e com certeza, nem você nem seu amigo do texto, são uma delas.