
Esse nome tinha uma razão de
ser: o seu canto era belo e majestoso e anunciava, quase sempre, o
nascer de um lindo dia, com o sol penetrando naquela singela planície, tornando-a
ainda mais atraente e singular. Digno de elogios!
Por isso mesmo, ele se tornou
sempre o primeiro a acordar e pronto a entoar o seu canto, quase sempre,
em detrimento dos demais de sua espécie. Muito considerado, admirado e
respeitado por todos do local, pelo menos era isso o que ele pensava. Se achava
a Vossa Majestade "o Galo".
Não se podia negar o seu
bonito canto, mas os elogios foram afagando o seu ego e ofuscando a razão,
e seu "cucurico" se tornou um cantar mágico e poderoso.
Inebriado pelo orgulho, o
“Gogó de ouro” se tornou supremo, o dono sol. Acreditava ser o único capaz de,
através de seu canto, fazer o sol nascer e, finalmente, concluiu que seria
impossível amanhecer sem o seu canto divino.
Assim o galo de
Aeropolis adormeceu, acalentado por sonhos traiçoeiros no doce poleiro da
ilusão e caiu num sono profundo, não percebendo
que rapidamente amanhecia. Quando tardiamente acordou, o sol já
estava "a pino", tinha amanhecido há bastante tempo.
Por falta de
aceitação,"Gogó de ouro" não suportou esse impacto
desagradável, permitindo que esse sentimento virasse raiva e a raiva em
ressentimento, e a revolta tomou conta de sua alma e se tornou presente em todas
as suas atividades.
Até os dias de hoje o galo está
revoltado. Até hoje o galo encontra-se frustrado e deprimido.
Por falar em sentimento
desagradável, eu me obrigo a fazer uma confissão, antes que o orgulho me
faça perder o pouco da coragem que me resta e desista:
Há muito descobri que um
galo dessa natureza vive dentro de mim!
A princípio eu não quis
admitir, mas quando percebi que somente acreditava que as coisas
funcionavam quando eu estava participando; os assuntos só lograriam êxito
se eu estivesse assessorando ou atuando; as ideias só iriam avante
se pedissem a minha opinião… então eu fiquei desconfiado.
Por oportuno, torna-se
desalentador várias vezes perceber que as coisas funcionam bem sem o meu
“dedo”. Muitas vezes bem melhor, sem minhas opiniões, mesmo com a minha
“torcida” contra.
Assim obtive a certeza que
esse "velho galo" estava me usando e queria se tornar dono de minha
vontade. Mister se fez a aceitação e a honestidade de propósitos. Procurar
mantê-lo sob gerenciamento se tornou fundamental. Assim, enquanto ele estiver
sob controle, pouco serei incomodado.
A propósito, eu soube que um
velho sábio morador naquela planície, continua com o firme
propósito de alertar a todos da localidade com a seguinte declaração:
CUIDADO COM O GALO QUE VIVE EM CADA UM DE NÓS! Ele é
sutil e traiçoeiro!
Título, Imagem e Texto: Francisco Barros, Aeroviário, aposentado VARIG/AERUS, 31-03-2014
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Muito bom o texto, bem colocado e bem escrito. Uma realidade que vive dentro de cada um de nós. Ja a algum tempo gerenciando o meu. De vez em quando ele tenta colocar o biquinho pra fora. Acho que esse galo mudou de nome, na velocidade das mudanças ele se chama: Eu me acho. Tenho muita pena dos que hospedam esse galo, Alguns a vida inteira. Grande abraço.
ResponderExcluirParabéns meu amigo Francisco pela qualidade dos textos que você tem postado
ResponderExcluiraqui no site, excelente.
Um grande abraço