Meter a primeira e acelerar.
Crescer ou ser comprado. É assim a vida das start-up, estrelas, crescentes
umas, cadentes outras. Com histórias de aventura algumas como o Facebook, o
Google ou o Twitter. É nesse admirável mundo novo que muitos jovens portugueses
estão a entrar. Muitos casos que revelamos no Negócios, dedicado aos novos
empresários em Portugal e aos que já têm, nos Estados Unidos ou na Finlândia,
uma história para contar.
Quem anda pelo país é
testemunha de uma nova geração de jovens empresários. Hoje vivemos em dois
países, também no mundo dos negócios. Há um Portugal que construímos
praticamente desde a adesão à CEE, em 1986, que está em decadência. Esse
Portugal é povoado por empresas de construção e de sectores regulados, onde o
lucro é aquele que o Estado quiser. No outro Portugal há as pequenas e médias
empresas que sempre existiram e uma nova geração de jovens que entram em
negócios que nunca imaginámos a falar português.
A Musikki, nascida em Aveiro,
vai agora para Londres depois de ter sido identificada como start-up de elevado
potencial. O que faz? Agrega informação que estava dispersa por vários sites,
desde dados sobre as bandas de música até à agenda de concertos. Começou por
falhar. Aprendeu com os erros. João Afonso, um dos fundadores, recomenda que se
avance logo com um protótipo em vez de se ir ficando a aprofundar o produto.
A Kinematix nasceu durante um
mestrado em Engenharia e está neste momento a lançar o seu terceiro produto, um
equipamento para lojas que permite identificar qual o calçado mais adaptado,
por exemplo, à forma de correr do cliente. Tem neste momento entre os seus
clientes a equipa de râguebi inglesa Leicester Tigers. O que faz?
Simplificadamente, monitoriza e avalia os movimentos corporais em tempo real. O
que, no caso da equipa de râguebi, permite minimizar lesões.
São dois exemplos portugueses,
mas há muito mais pelo país fora. Algumas serão vendidas, outras cairão para se
levantarem de novo, algumas poderão converter-se em companhias nucleares para o
país, capazes de mover a economia.
Foi assim que nasceu a Nokia
finlandesa, de uma crise se fez uma grande companhia. E hoje a Finlândia repete
a história que deu origem ao telemóvel que todos usavam antes do iPhone
primeiro e da Samsung depois terem ditado o abalo final de 2012, ano em que a
Nokia eliminou 10 mil postos de trabalho, 3700 dos quais na Finlândia. Com
tantos engenheiros, o arranque de novos negócios é a regra. O jogo ‘Angry
Birds’ é já um selo finlandês.
Portugal pode ser também
assim. Tem mais condições do que no passado, com uma nova geração qualificada e
com uma cultura global. É começar de novo, começar do princípio, começar para
crescer.
É, ou pode ser, o embrião do
futuro, aquilo a que estamos a assistir com pequenos negócios liderados por uma
nova geração. É construir um novo tecido empresarial de baixo para cima. É
deixar que as vantagens competitivas do país se revelem. Permitir que sejam os
protagonistas da economia a mostrar o que tem sucesso e o que não tem, o que é
rentável e o que não é. Leva mais tempo do que a actuação do Estado? Sem dúvida.
Mas é mais eficaz, duradouro e flexível. Atributos fundamentais num mundo em
que a tecnologia está a ditar movimentos de elevada velocidade na adaptação à
mudança constante.
O Estado tem apenas de
garantir um ambiente estável e simples. O enquadramento legal e fiscal tem ser
fácil para que os empresários, os que sonham em criar valor e inovar, se foquem
nas suas ideias e não nas burocracias e obstáculos que têm de contornar.
Em tradução livre de Samuel
Beckett, hoje vivemos tempos para construir, falhar, falhar outra vez, falhar
ainda melhor e começar de novo. Tempo de arrancar, na tradução literal de start-up.
Título e Texto: Helena Garrido, Jornal de Negócios, 25-03-2014
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