Helena Matos
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Marcelo Rebelo de Sousa |
Onde vai esta semana? A
Pirescoxe jogar dominó com Jerónimo de Sousa? Era bonito e dava um lindo
momento televisivo. Diga-me uma coisa: acredita que vai ser eleito pela
esquerda ou acha que pode convencer a esquerda a abster-se? Algo me diz que a
última hipótese – convencer a esquerda a ficar em casa – é aquela em que
aposta.
Mas, desculpará que lhe
pergunte, já se lembrou que pode ganhar por esmagadora maioria entre os
portugueses telespectadores e ter um fraco resultado entre os portugueses
eleitores? Os portugueses eleitores são manhosos e calados – maioria silenciosa
não é? Pelo contrário os portugueses telespectadores são peremptórios e algo
espalhafatosos.
Dir-me-á o senhor professor
que os portugueses eleitores e os portugueses telespectadores são a mesma
pessoa. Ora, ora, senhor professor, este é o país em que a divisão entre o eu e
o mim tem dado alguma filosofia, óptima poesia e pode, acredito eu, dar um
resultado eleitoral surpreendente. E que não lhe será favorável.
Talvez não tenha percebido
ainda mas não se vota com o comando da televisão. Fosse esse o caso e o senhor
professor estava para lá de eleito.
Mas para que os votos caiam na
urna cada português-eleitor tem de dizer ao português-telespectador para se
levantar do sofá ou da cadeira do café e ir para a fila. E isso, acredite, não
só não é fácil como se rege por umas regras que escapam ao Portugal das
televisões, onde o senhor professor é sem dúvida presidente por aclamação.
Está, por exemplo, a ver o Cavaco (chamemos-lhe assim porque é assim que os
telespectadores o tratam)? O Cavaco é o eterno derrotado do país dos
telespectadores. No país dos telespectadores não existe aliás nada mais simpático,
consensual e transversal que dizer mal do Cavaco. É assim como falar do tempo.
Uma pessoa não tem que dizer, um comentador não quer desagradar a ninguém, um
político precisa de dizer alguma coisa sem se comprometer, e pronto têm logo
ali o Cavaco a jeito. Resulta sempre.
Mas num remake político da
heteronímia de Pessoa mais de dois milhões de portugueses telespectadores
transformam-se em eleitores de Cavaco Silva de cada vez que ele se apresenta a
eleições. Algo me diz até que enquanto vão às urnas colocar o voto no
“professor Cavaco Silva” deixam em casa o português telespectador a dizer mal
do Cavaco e a ouvir dizer mal do Cavaco. Complicado? Nem por isso. Português?
Sim.
E é aqui que chegamos ao que
lhe quero dizer: o senhor professor é o eleito indiscutível dos portugueses
telespectadores, uma espécie de imperador das sondagens, mas arrisca-se a não
conseguir que os portugueses eleitores se mexam para lhe dar o seu voto. Ou
seja corre o risco de ser o inverso de Cavaco Silva.
Porquê? Porque a sua coerência
ideológica neste início de campanha (e, senhor professor, não só!) é a versão
política da grelha de televisão de um canal generalista: completamente
transversal, feita para agradar a todos e sem nada que a distinga. O português
telespectador vê e aplaude. E o português eleitor? Acha-lhe graça mas perceberá
que a esquerda que também lhe dava audiências não lhe vai dar votos. O pior é
que, naquilo que aos votos respeita, o mesmo se pode vir a passar com o centro
e o centro-direita: não o rejeitam mas ficam em casa.
Os tempos estão feios. Os
sinais do rolo compressor do frentismo já estão aí todos. (Na verdade, se fosse
um líder do PSD a adoptar a estratégia de Costa, o mínimo que o senhor
professor teria dito é que ele estava lelé da cuca!) Não ignora certamente o
que nos espera: incidentes, desprezo pelos procedimentos, imposição de uma
agenda de causas que permita manter o povo distraído do agravamento da situação
económica e mobilizado no combate sempre a mais uma desigualdade, mais uma
discriminação, mais uma injustiça… Tenho aliás a intuição que entre as causas
fracturantes dos casamentos, aborto e eutanásia ainda chegaremos à discussão
sobre a regionalização.
Viu, como todos viram, que o
líder do PS não foi à tomada de posse do Governo. Viu, como todos viram, como
Ferro Rodrigues se tornou presidente da AR contra a prática até agora seguida.
Viu, como todos viram, que António Costa tornou o PS refém do PCP e do BE e o
que tem para dizer é que no seu modelo de presidência “não há bons bem maus, preferidos
e preteridos”? Como se o que estivesse em causa fosse uma questão de gosto,
tipo só vejo as novelas da TVI, e não o trazer para o arco da governação
partidos radicais que não mudaram um parágrafo nos seus objectivos e nas suas
tácticas.
Senhor professor, somos todos
excelentes pessoas mas muitas pessoas excelentes têm ideias nada excelentes. Os
radicais do BE e do PCP são disso um claro exemplo. Tentar transformar, como
fez, as reservas face a um governo que deles dependa numa espécie de preconceito
garante audiências mas só isso.
Sei que o senhor professor é o
mais consensual dos portugueses. Mas lamento informá-lo: não está candidato a
Miss Simpatia mas sim a Presidente da República. E ao certo, além de querer ser
aplaudido, o senhor professor quer o quê e defende o quê em Portugal, neste
final de 2015?
Título e Texto: Helena Matos, Observador, 1-11-2015
Se depender de mim este senhor professor vai continuar na tevê falando, falando...
ResponderExcluirPergunta a Marcelo
ResponderExcluirCARO PROF. MARCELO:
É com profundo lamento e pesar que tenho a informar a minha profunda desilusão que V.a Ex.a se tem vindo a revelar perante o actual cenário político e aquilo que podemos vir a esperar de si, na eventualidade de vir a ser eleito Presidente da República.
Na verdade, nas poucas intervenções que tenho visto e quando questionado sobre o actual cenário político ouço sempre respostas evasivas, e outras levando-me a crer que não pretende tomadas de decisão por ventura mais difíceis (mas que incumbem a um presidebte, caso contrário seria uma figura meramente decorativa..)
Ora, em 2004 e em circunstâncias menos adversas Jorge Sampaio nao teve nem prurido de dissolver a Assembleia da República e convocar eleições legislativas antecipadas para 20 de Fevereiro, anunciando formalmente a decisão de dissolver o Parlamento, devido à situação de instabilidade e falta de credibilidade do Governo....
Ora, estou em crer que V.a Ex.a tem certamente conhecimento que a ser empossado um governo PS/BE/PCP, o mesmo não só configura um governo que não foi sufragado pelos Portugueses, como constituiu uma aberração de coligação de programas contraditórios e contra tudo a que Portugal se vinculou e lutou nestes anos de democracia, seja na consolidação e respeito dos tratados Europeus, fortalecer as uniões estratégicas nomeadamente com EUA, NATO, etc...
Dito isto: teremos um governo em funções que ludibriou dolosa e conscientemente os Portugueses, quebrando a confiança que existia nas eleições legislativas, e com tudo isso, constituindo um eventual governo, que não representará, actualmente é face às actuais circunstâncias a maioria (absoluta) dos Portugueses.
Daí que esperasse de V.a Ex.a que pese embora ninguém desejar que o país a de de eleições em eleições, a verdade é que alturas há que as mesmas são uma inevitabilidade, nomeadamente quando, como no caso, podemos vir a ter um governo, onde nem aqueles que votaram nos respectivos partidos se revêm... e nem vou mencionar a V.a Ex.a aquilo que melhor sabe do que eu... ou seja, não só o arrependimento dos que votaram PS e viram o partido unir-se a uma esquerda que não desejam e cujo programa lhes impõe, como ainda, uma divisão interna no próprio partido...
Os tempos que vivemos são únicos e sem precedentes, e confesso que não lhe vejo GARRA, NEM CORAGEM DE AFIRMAR AQUILO QUE SE IMPÕE CASO SEJA ELEITO....
Daí que, por todos estes motivos e pese embora ter sido um entusiasta da sua candidatura, me sinta desiludido, e tentado, caso não clarifique tal situação a abster-me de votar nas eleições presidenciais. PRESIDENTES SEM "TOMATES", NÃO OBRIGADO!!!
Paulo Machado