Rodrigo Constantino
Donald Trump está sendo massacrado na imprensa (que novidade!) por conta de revelações de uma atriz pornô, que teria se envolvido com ele há mais de uma década e recebido dinheiro em troca do silêncio. Em que pese a estranha credibilidade moral que uma prostituta passou a ter pela ótica dos jornalistas, cabe perguntar: mesmo sendo tudo verdade, isso torna Trump um presidente imoral que deve ser rejeitado pelos conservadores?
Ao menos um importante
conservador diz que não. Dennis Prager é um conservador judeu conhecido por sua
rigidez moral. Mas ele não acredita que um presidente deva ser julgado com base
em suas peripécias amorosas fora do casamento. Em um artigo publicado
no Townhall, Prager sustenta que não é isso que faz alguém um bom líder
político ou não, afirma que há outras questões morais ainda mais importantes, e
ataca a hipocrisia da mídia.
Para Prager, um adultério pode
invalidar moralmente um pastor, um rabino, mas não necessariamente um político.
A grande vocação dos líderes religiosos é ser um exemplo moral, um guia espiritual,
um exemplo de conduta pessoal. Os clérigos não decidem sobre guerras, não
assinam orçamentos nacionais, não apontam juízes e não controlam relações
diplomáticas. Ou seja, ao contrário dos líderes religiosos, o que o
presidente faz afeta diretamente a vida de milhões de cidadãos. Se o presidente
for um modelo moral, isso é um ótimo bônus, diz Prager. Mas essa não é sua
principal função neste cargo. Neste papel, as prioridades são outras.
Além disso, Prager reconhece
que há várias facetas de um julgamento moral, e que o adultério, por mais que
seja pecado pela ótica religiosa, não é o critério mais relevante para se
determinar o caráter de alguém. Existem gradações de pecado, diz o autor. Uma
pessoa pode ter um comportamento ético em várias áreas da vida e, ainda assim,
ter escorregado em seu compromisso matrimonial, sendo infiel. Não é o ideal,
mas não é prova inconteste de que se trata de um salafrário em todos os
aspectos. Isso vale para quando a infiel é a mulher também, que fique claro.
O outro ponto levantado por
Prager diz respeito ao grau de importância do adultério frente às políticas de
um presidente. Ele pergunta se seria preferível ter um presidente com uma visão
racista de mundo, ainda que fiel como marido, ou alguém infiel, mas que mantém
uma visão de igualdade racial?
Além disso, Prager bate nas
prioridades e na hipocrisia da mídia. Ele diz que julga bem mais nocivo à moral
da nação o fato de um jornalista como Anderson Cooper, no programa “60
Minutes”, perguntar abertamente se Trump, na época do relacionamento, utilizou
camisinha, do que uma eventual pulada de cerca ocorrida 12 anos atrás. Para
Prager, o fato de que a imensa maioria considera essa uma pergunta normal
revela mais da decadência moral americana do que o affaire do presidente.
Por fim, deve ficar claro que
a preocupação enorme com a vida conjugal de Trump não tem absolutamente nada a
ver com aspectos morais, e sim com a obsessão da mídia em humilhar o presidente
e, assim, enfraquece-lo. Essa tem sido a raison d’être da
imprensa desde o dia da eleição, após o choque da decepção com o resultado
surpresa.
Como prova, Prager cita o
reverendo Martin Luther King Jr., reverenciado por quase todos como um símbolo
de luta moral, apesar de vários relatos de adultério em sua vida. O senador Ted
Kennedy também costuma ser retratado por lentes favoráveis, até mesmo
idolatrado como “o leão do Senado”, mas ele era conhecido por sua luxúria,
bem maior que a do próprio Trump. Outro Kennedy, o mais querido do clã, JFK,
tinha casos extraconjugais regulares na Casa Branca, e o Serviço Secreto era
usado para alerta-lo quando a esposa estava prestes a chegar. Não podemos
deixar de fora Bill Clinton, claro. E tantos, tantos outros.
Por conta disso tudo, e
lembrando que os próprios editores e jornalistas do Washington Post e do NYT
deveriam ser cobrados pelos mesmos critérios, já que a fidelidade é tão
importante para determinar o caráter de uma pessoa, Prager conclui com um apelo
aos conservadores anti-Trump: reduzam o tom de “horror moral” em relação a
Trump, pois isso é cortina de fumaça que a esquerda usa para ataca-lo. Ele
finaliza:
O fato é que não é da minha
conta e não me interessa se um político já teve um caso extraconjugal. Para
citar apenas um dos muitos exemplos, a atitude de um presidente em relação aos
tiranos islâmicos defensores do genocídio em Teerã é incomparavelmente mais
significativa do ponto de vista moral. Essa é apenas uma das muitas razões –
apenas por motivos morais – por que até agora prefiro o atual presidente ao
presidente anterior fiel à sua esposa.
Trump não é, de fato, um ícone
da moralidade, mas tampouco ele tem esse papel, ou esse papel como prioridade.
Conservadores que pregam os valores morais da família têm todo direito de se
incomodar com um presidente com tais antecedentes. Mas Prager tem um bom ponto
quando lembra que ser referência moral como marido está longe de ser a função
mais relevante de um presidente.
Entre um infiel que defende a
civilização ocidental e um fiel que só fez se aproximar dos inimigos da
liberdade e enfraquecer o Ocidente, não há a menor dúvida de qual escolher. Até
porque as principais críticas a Obama nunca foram relacionadas ao seu caráter
como marido, e sim ao seu socialismo. Da mesma forma, os principais elogios a
Trump não têm qualquer ligação com o seu papel como marido.
Título, Imagem e Texto: Rodrigo Constantino, Gazeta do Povo, 27-3-2018
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