Filha de empresário é liberada pela Justiça
Alex Rodrigues
O fundador da rede
de varejo Ricardo Eletro está depondo no Ministério Público de
Minas Gerais (MP-MG), no âmbito do inquérito que apura a suspeita de sonegação
fiscal e lavagem de dinheiro que resultou na deflagração, ontem (8), da
Operação Direto Com O Dono.

Nunes, que está preso em
caráter temporário desde a manhã de ontem, em Belo Horizonte, é investigado
como o principal beneficiário de um esquema criminoso que, segundo promotores e
delegados, desviou cerca de R$ 400 milhões dos cofres públicos.
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Ricardo Nunes, em foto
publicada no instagram @ricardonuneseletro, no dia 22 de junho. Foto:
Reprodução/Redes sociais
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Sua filha Laura Nunes, que
chegou a ser detida com autorização judicial no início da manhã desta
quarta-feira, foi liberada ontem mesmo, após prestar depoimento à Polícia
Civil. O mandado de prisão expedido pela Vara de Inquéritos de Contagem (MG) e
cumprido foi, posteriormente, revogado pela 3ª Vara Criminal de Contagem.
O mesmo juiz revogou também o
mandado de prisão do superintendente da Ricardo Eletro, Pedro Daniel Magalhães,
depois que a defesa de Magalhães garantiu que ele se apresentaria
voluntariamente para depor. O mandado de prisão do executivo não havia sido
cumprido porque Magalhães não foi encontrado. A expectativa é que ele preste
depoimento ainda hoje.
Segundo os promotores e o
delegado que cuidam do caso, por cerca de pelo menos dez anos, a Ricardo Eletro
fraudou os cofres mineiros, deixando de repassar ao governo estadual o Imposto
sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) que cobrava de seus clientes.
“A empresa cobrava o ICMS dos
consumidores – o que é comprovado pelas notas fiscais [devidamente emitidas] -,
mas não repassava esses valores ao estado. Ao longo de dez anos ela se portou dessa forma”, disse,
ontem, o promotor de Justiça Fábio Reis de Nazareth, ao explicar a jornalistas,
por videoconferência, detalhes da investigação. “Ela [empresa] tinha como
política empresarial a sonegação fiscal”, acrescentou o promotor, afirmando que
os valores sonegados eram então usados para pagar por despesas de Nunes e
outros investigados, ou diluído por empresas patrimoniais criadas em nomes de
laranjas, incluindo parentes do fundador da rede de varejo.
“O que se nota é um
empobrecimento da rede, que chegou praticamente à bancarrota, abrindo um
processo de recuperação extrajudicial”, disse o promotor, referindo-se ao plano
de pagamento de dívidas negociado com credores em 2019 – e que não contempla a
renegociação das dívidas tributárias que a Ricardo Eletro tem com o governo de
Minas Gerais e de outros estados.
“De outro lado, observamos o
enriquecimento de seu principal sócio [Ricardo Nunes], que utilizava empresas
de fachada para ocultar o patrimônio que, direta ou indiretamente, adquiria com
os proveitos da sonegação fiscal, o que caracteriza a lavagem de dinheiro,
crime mais grave”, acrescentou Nazareth.
A Agência Brasil não
conseguiu contato com o advogado de Nunes. Em nota enviada ontem, a Ricardo
Eletro informou que desde 2019 o empresário e seus parentes não fazem mais
parte do seu quadro de acionistas, nem da administração da companhia. Versão
contestada pelos promotores de Justiça e pelo delegado a frente do inquérito
policial, Vitor Abdala, que afirmam ter provas de que, na prática, o empresário
continua respondendo pelas principais decisões do grupo.
“A Ricardo Eletro pertence a
um fundo de investimento em participação, que vem trabalhando para superar as
crises financeiras que assolam a companhia desde 2017, sendo inclusive objeto
de recuperação extrajudicial devidamente homologada perante a Justiça, em
2019”, diz a nota, sem fazer qualquer menção ao fato de que as dívidas com
estados não são alvo do plano extrajudicial.
A empresa também sustentou que
“a operação realizada pelo Ministério Público de Minas Gerais, pela Receita
Estadual e pela Polícia Civil, faz parte de processos anteriores à gestão atual
da companhia e dizem respeito a supostos atos praticados por Ricardo Nunes e
familiares, não tendo ligação com a companhia”.
Em relação à dívida com o
estado de Minas Gerais, a Ricardo Eletro disse que “reconhece parcialmente as
dívidas e que, antes da pandemia, estava “em discussão avançada com o estado”
para acertar o pagamento dos tributos passados, em consonância com as leis
estaduais”.
Ontem, ao falar com
jornalistas, o superintendente regional da Fazenda mineira, Antonio de Castro
Vaz de Mello Filho, disse que há anos a empresa adota uma “estratégia” de
negociação de forma a ser favorecida e, assim mesmo, manter as práticas pelas
quais é investigada.
“[Anteriormente] Quando
cobrada, a empresa parcelava sua dívida e começava a pagá-la. Houve
parcelamentos que ela pagou por mais de um ano”, disse o superintendente. “Só
que, durante esse tempo, ela voltava a omitir o recolhimento mensal. Ou seja, a
cada vez que ela fazia um novo reparcelamento, ela aumentava sua dívida, pois
deixava de pagar [o valor devido pelo] mês em que estava pagando [os débitos
atrasados]. Ela continua fazendo isso, pois [recentemente] entrou com novo
pedido de parcelamento da dívida junto a Advocacia-Geral do estado”,
acrescentou Filho.
Título e Texto: Alex Rodrigues;
Edição: Valéria Aguiar – Agência Brasil, 9-7-2020, 13h13
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