Augusto Césare
Circulou hoje pela Internet
uma carta, convenientemente vazada de maneira apócrifa, atribuída aos Bispos da
CNBB. Indignado pelo teor desrespeitoso, não apenas com o Presidente da
República, mas com cada cristão católico que votou em Bolsonaro, sinto-me no
direito de efetuar minha resposta.
Senhores Bispos, somos apenas
uma parcela da população católica desse lindo país. Em boa parte de nós,
católicos um pouco mais antigos, está presente de forma vívida a eleição de
Karol Wojtilla, após o curto período de João Paulo I. Não tínhamos ideia do que
representaria a eleição de um Bispo Polonês para o Trono de São Pedro, mas era
possível prever que nada ficaria como antes. João Paulo II mudou a história do
mundo. Seu papel na queda do Império Soviético, na libertação, não só da
Polônia, mas de todos os países do Pacto de Varsóvia, foi o maior milagre que
uma geração inteira presenciou.
Um Padre, que viveu as agruras
do Nazismo e do Socialismo, teve a paciência e a coragem de enfrentar o
Sistema, colocando em risco a própria vida em troca de um ideal. João Paulo II
devotou todo seu honroso papado a libertar povos inteiros do regime totalitário
do Socialismo, ao mesmo tempo em que confortou seus fiéis, pacificou a Igreja
Católica e divulgou a mensagem cristã de paz, solidariedade e justiça. A Igreja
Católica sobreviveu ao Nazismo tendo a inteligência e resiliência de Eugenio
Pacelli, nosso Papa Pio XII, que fez do Vaticano uma ilha silenciosa de
resistência em pleno território nazifascista. A história está cheia de exemplos
de virtude da Igreja Católica, assim como temos nossos exemplos perversos de
tempos sombrios como a Inquisição. Mas a Igreja sempre se manteve firme no seu
plano de evangelizar.
Sim, realmente o Brasil atravessa
um difícil período. Atribuir como causa principal dessa “tempestade perfeita”
as ações do Presidente da República não é justo! Em que pese toda crise de
saúde e econômica, o Governo Federal tem demonstrado extremo zelo e competência
até onde foi permitida a abrangência de suas ações. Bilhões de reais
distribuídos na maior ajuda econômica da história, bilhões de reais
disponibilizados para governadores e prefeitos como auxílio, tanto para o
combate do coronavírus, como para manutenção da máquina administrativa.
Permanecendo, ao mesmo tempo, com a conclusão de obras públicas, fornecimento
de insumos médicos e quase dois anos sem denúncias de corrupção no Governo
Federal. Suas ações não puderam ser maiores por conta de empecilho jurídico que
alocou as medidas restritivas aos governos estaduais e municipais. Mas vocês
sabem de tudo isso!
Os senhores falam de
“desmandos, inércia e omissão no combate às mazelas que se abateram sobre o
povo brasileiro.” Em que país os senhores viviam nos últimos anos? Onde os senhores
estavam quando o país foi saqueado por políticos inescrupulosos ao longo de
décadas? Não me recordo de cartas duras divulgadas nacionalmente criticando
governos anteriores que levaram o país à beira do caos social e econômico.
Será que, somente agora, se
deram conta da falta de leitos de UTI e de respiradores? O déficit de leitos de
UTI na rede pública remonta há muitos anos, ou os senhores achavam que isso não
existia? O Brasil amarga as últimas posições na avaliação do PISA há muitos
anos, mas de uma hora para outra, as nobres eminências se dão conta do grau de
analfabetismo de nossa população.
Nasci em berço católico, fiz
toda minha formação em colégio jesuíta. Sou um católico atuante em minha
comunidade, frequentador assíduo das missas dominicais e ajudo constantemente
minha Paróquia. Sempre tive orgulho em ser católico, mas ler essa carta me deu
náuseas e nojo. Não apenas pelas inverdades nela contidas, mas pela dupla
injustiça cometida. A primeira em atribuir tantas coisas ruins ao melhor Presidente
dos últimos anos, além de mostrar uma conveniente indiferença com os anos de
petismo no Brasil. A outra injustiça é com seus próprios fiéis. Homens e
mulheres honrados como eu, que se sentem desprezados por nossos pastores, que
ao invés de zelar por todas suas ovelhas, preferem dar atenção àquelas que lhe
são mais caras. Assim como eu, milhões de brasileiros católicos não se sentem
representados por essa missiva.
Como católico, respeito o
cargo que os senhores representam e humildemente declaro não concordar com o
teor da carta. Ainda como católico, acredito que o papel evangelizador da
Igreja deve permanecer no plano espiritual, deixando que homens cuidem do plano
material. Como cidadão, pai de família, médico, professor, escritor,
empresário, enfim como indivíduo independente e ciente de suas obrigações e
direitos civis, quero expressar, mais do que nunca, meu orgulho em ser um
brasileiro católico. Um homem que ama Deus e sua pátria e respeita o seu
Presidente.
Título e Texto: Augusto
Césare, Cremeb 9623, Facebook,
Irecê, Bahia, Brasil, 28-7-2020
Relacionados:
Grato pelo LINK, mas como sou ateu, quero que esses merdas que vivem às custas do povo idiota, que prometem coisas que não podem cumprir SE FODAM.
ResponderExcluirO COMUNISMO, O SOCIALISMO E AS RELIGIÕES SURFAM EM ONDAS DE POBREZA E FALTA DE CULTURA.
SEM OFENSAS...
Concordo com tudo o que disse nesta carta e faço minhas suas palavras. Também sou católica e me senti muito incomodada com a atitude desses bispos.
ResponderExcluirEm outros governos já houve sim cartas da CNBB questionando e denunciando ações que iam contra o direito das pessoas, sobretudo as mais pobres e marginalizadas, assim me recordo. Quanto ao conteúdo, talvez as anteriores não foram tão duras como você mesmo diz meu caro, quem sabe porque nunca houve um governo tão despreparado como o atual governo Bolsonaro. Nunca os direitos dos trabalhadores foram tão sucateados. Quanto aos 2 anos sem corrupção, há controvérsias, porque as investigações sempre acabam manipuladas e abafadas. Vivamos pra ver futuramente onde isso tudo vai dar.
ResponderExcluir