terça-feira, 1 de abril de 2025

Grades de áreas públicas e históricas somem no Rio e vão parar em ferros-velhos

Grades de praças e parques históricos do Rio estão sendo furtadas e vendidas em ferros-velhos. Campo de Santana, Passeio Público e Recanto do Trovador estão entre os mais afetados

Quintino Gomes Freire

Espaços públicos históricos do Rio de Janeiro, como o Campo de Santana, o Passeio Público e o Recanto do Trovador, em Vila Isabel, vêm sendo sistematicamente saqueados por criminosos que retiram grades e peças metálicas para venda ilegal em ferros-velhos. Em muitos casos, a depredação acontece à noite, diante da ausência de vigilância e policiamento. As informações são do jornal O Globo.

No Campo de Santana [fotos], entre a Faculdade Nacional de Direito e o antigo Palácio da Saúde, 125 das 200 ponteiras de ferro já foram furtadas em um trecho de apenas 30 metros. “Só roubam isso de noite, porque não tem ninguém, não tem polícia”, relata o pipoqueiro Ronaldo Lazzarotto, que trabalha no Centro. 

Os gradis do Campo de Santana, importados da França no século XIX por Auguste Glaziou, já perderam seus brasões superiores — dois deles danificados em acidentes de trânsito, segundo a Secretaria municipal de Conservação (Seconserva). Um está guardado para reparo; o outro foi perdido.

A cena se repete em outros pontos da cidade. No Passeio Público, partes das grades voltadas para a Praça Mahatma Gandhi desapareceram. Na Praça Paris, na Glória, também há relatos de sumiço de peças metálicas. Já em Vila Isabel, o Recanto do Trovador, antigo zoológico do bairro, teve furtadas grades remanescentes do próprio Campo de Santana.

“Nós viramos escritores de obituários. Estão morrendo o Passeio Público, o Campo de Santana, o de São Cristóvão…”, lamenta o historiador Nireu Cavalcanti“São lugares de uma importância fundamental para a história do Rio, da sociedade brasileira, do Império, da República, do paisagismo da cidade e para o lazer público.”

No bairro de São Cristóvão, a balaustrada de ferro francês, em frente ao Colégio Pedro II, também vem sendo alvo de furtos. No Campo de São Cristóvão, o coreto perdeu completamente suas grades. Segundo a Seconserva, peças preservadas serão usadas como modelo para reposição, e registros foram feitos na polícia em 2021.

A prefeitura afirma que os furtos nos parques vêm sendo registrados desde 2015 e que as reposições são feitas com base em peças-modelo ou materiais alternativos.

Na Rua Ana Neri, no Rocha, o gradil ao longo da linha férrea está quase totalmente destruído. “Vazios” de cerca de 200 metros foram abertos por criminosos, segundo moradores. “No início, eu tentava pará-los. Mas falava com um, no dia seguinte vinha outro. Agora, chega a noite, eles começam a rodar. Também roubam os fios”, conta o segurança de um comércio local.

Até a Pira Olímpica dos Jogos Rio 2016 foi alvo de vandalismo. A grade que cercava a estrutura foi furtada em 2019. O lago sob a pira foi aterrado e o local passou por reformulação paisagística. Parte das grades foi encontrada pela prefeitura em um ferro-velho próximo à Central do Brasil, segundo Marconi Andrade, presidente do grupo SOS Patrimônio.

De acordo com a Secretaria municipal de Ordem Pública (Seop), entre 2021 e o início de 2025 foram apreendidas 137 toneladas de fios de cobre e outros metais. No período, 160 ferros-velhos foram interditados e 62 pessoas encaminhadas à delegacia.

Polícia Civil informou que desde setembro fiscalizou mais de 100 estabelecimentos desse tipo, com flagrantes em 90% dos casos. A PM declarou que o combate a furtos de bens públicos e privados é uma das principais metas do comando da corporação.

“Como a pessoa consegue identificar a história da cidade em que vive se não consegue ver os elementos? O artigo 163 do Código Penal aponta como crime destruir ou deteriorar o bem público. Infelizmente, o Rio está vivendo um caos urbano tão grande em relação à segurança que não consegue dar conta desses pequenos danos, que são enormes”, afirma a arquiteta e urbanista Luciana Mayrink.

Título e Texto: Quintino Gomes Freire, Diário do Rio, 31-3-2025 

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