Marcos Paulo Candeloro
No universo moral da esquerda ocidental — esse manicômio climatizado onde o bom é ruim e o mal é vítima — há uma regra não escrita: quando a realidade não favorece o argumento, ataque o mensageiro. E se o mensageiro for Donald Trump, tanto melhor. Afinal, entre defender a economia americana e manter a compostura ideológica do New York Times, a segunda opção sempre vence. A última polêmica? As propostas de taxação sobre produtos chineses. “Absurdo!”, gritam os economistas progressistas entre uma conferência e outra patrocinada por bancos centrais. “Populismo tarifário”, resmungam os sacerdotes do livre-comércio irrestrito. Claro. Porque só um populista ousaria fazer o que estadistas não têm coragem: chamar a China pelo nome.
É curioso ver a histeria
provocada pela simples ideia de impor tarifas à China — um país que, entre
outras delicadezas, mantém campos de reeducação, manipula sua moeda como um
mágico de circo bêbado e trata patentes como sugestões facultativas. Mas quando
Trump propõe retaliar esse arranjo desequilibrado, os defensores da “ordem
liberal internacional” entram em combustão espontânea, como se taxar a
importação de painéis solares fosse equivalente a declarar guerra ao Tao.
A pergunta que não se quer
fazer — porque a resposta é embaraçosa — é simples: por que a China pode tudo?
Por que Pequim pode subsidiar estatal até o limite da decência, violar as regras da OMC com a naturalidade de quem já sabe que nada acontecerá, roubar tecnologia ocidental como quem baixa um filme pirata e, ainda assim, ser tratada como um parceiro “estratégico”? Quando Trump decide reagir a isso — não com tanques, mas com tarifas — ele é o tirano. Já Xi Jinping, que literalmente não permite oposição e manda tanques para calar protestos, é “um player importante no cenário global”.
É a velha hipocrisia
ilustrada: enquanto o Ocidente se autoflagela com regulamentos ambientais,
sociais e de governança (as célebres “ESGs”), a China despeja chumbo nos rios,
silencia minorias e ganha mercado. Tudo com o aval de CEOs iluminados que, entre
uma palestra sobre diversidade e outra sobre sustentabilidade, fabricam seus
gadgets em fábricas que fariam um vitoriano corar.
Trump, com sua crueza
característica, ao menos teve a honestidade de mostrar o jogo. Não é uma
questão de “protecionismo”, mas de bom senso. Quando um país burla as regras de
comércio, sabota a concorrência honesta e ainda assim é premiado com acesso irrestrito
a mercados livres, a única coisa que se protege é a estupidez.
Mas a elite transnacional
prefere acusar Trump de “isolar os EUA” — como se manter empregos industriais,
preservar propriedade intelectual e exigir reciprocidade fosse sinônimo de
xenofobia. No fundo, o pavor não é que as tarifas não funcionem. O medo é que
funcionem *demais* — e revelem o quanto a política externa americana tem sido,
por décadas, terceirizada a interesses que nada têm de americanos.
É claro que tarifas não são a
solução mágica para tudo — nem Trump disse isso. Mas é revelador que qualquer
tentativa de confrontar o modelo predatório chinês cause tanto escândalo entre
os zelotes do globalismo. Talvez porque, no fundo, esses puristas do
livre-comércio jamais venderam produtos… apenas venderam países.
Enquanto isso, a China
continua sua marcha. Um império sem alma, mas com plano. E enquanto o Ocidente
debate os pronomes corretos para seus robôs, Pequim já os produziu em massa,
com tecnologia alheia e sem precisar de aprovação ética de nenhuma assembleia
da ONU.
O verdadeiro crime de Trump,
portanto, não foi querer taxar a China. Foi lembrar à América que ainda vale
alguma coisa. E isso, para muitos, é imperdoável.
Título e Texto: Marcos Paulo Candeloro, graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. ContraCultura, 11-4-2025
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