sexta-feira, 11 de abril de 2025

Taxar Trump ou tributar a China?

Marcos Paulo Candeloro

No universo moral da esquerda ocidental — esse manicômio climatizado onde o bom é ruim e o mal é vítima — há uma regra não escrita: quando a realidade não favorece o argumento, ataque o mensageiro. E se o mensageiro for Donald Trump, tanto melhor. Afinal, entre defender a economia americana e manter a compostura ideológica do New York Times, a segunda opção sempre vence. A última polêmica? As propostas de taxação sobre produtos chineses. “Absurdo!”, gritam os economistas progressistas entre uma conferência e outra patrocinada por bancos centrais. “Populismo tarifário”, resmungam os sacerdotes do livre-comércio irrestrito. Claro. Porque só um populista ousaria fazer o que estadistas não têm coragem: chamar a China pelo nome.

É curioso ver a histeria provocada pela simples ideia de impor tarifas à China — um país que, entre outras delicadezas, mantém campos de reeducação, manipula sua moeda como um mágico de circo bêbado e trata patentes como sugestões facultativas. Mas quando Trump propõe retaliar esse arranjo desequilibrado, os defensores da “ordem liberal internacional” entram em combustão espontânea, como se taxar a importação de painéis solares fosse equivalente a declarar guerra ao Tao.

A pergunta que não se quer fazer — porque a resposta é embaraçosa — é simples: por que a China pode tudo?

Por que Pequim pode subsidiar estatal até o limite da decência, violar as regras da OMC com a naturalidade de quem já sabe que nada acontecerá, roubar tecnologia ocidental como quem baixa um filme pirata e, ainda assim, ser tratada como um parceiro “estratégico”? Quando Trump decide reagir a isso — não com tanques, mas com tarifas — ele é o tirano. Já Xi Jinping, que literalmente não permite oposição e manda tanques para calar protestos, é “um player importante no cenário global”.

É a velha hipocrisia ilustrada: enquanto o Ocidente se autoflagela com regulamentos ambientais, sociais e de governança (as célebres “ESGs”), a China despeja chumbo nos rios, silencia minorias e ganha mercado. Tudo com o aval de CEOs iluminados que, entre uma palestra sobre diversidade e outra sobre sustentabilidade, fabricam seus gadgets em fábricas que fariam um vitoriano corar.

Trump, com sua crueza característica, ao menos teve a honestidade de mostrar o jogo. Não é uma questão de “protecionismo”, mas de bom senso. Quando um país burla as regras de comércio, sabota a concorrência honesta e ainda assim é premiado com acesso irrestrito a mercados livres, a única coisa que se protege é a estupidez.

Mas a elite transnacional prefere acusar Trump de “isolar os EUA” — como se manter empregos industriais, preservar propriedade intelectual e exigir reciprocidade fosse sinônimo de xenofobia. No fundo, o pavor não é que as tarifas não funcionem. O medo é que funcionem *demais* — e revelem o quanto a política externa americana tem sido, por décadas, terceirizada a interesses que nada têm de americanos.

É claro que tarifas não são a solução mágica para tudo — nem Trump disse isso. Mas é revelador que qualquer tentativa de confrontar o modelo predatório chinês cause tanto escândalo entre os zelotes do globalismo. Talvez porque, no fundo, esses puristas do livre-comércio jamais venderam produtos… apenas venderam países.

Enquanto isso, a China continua sua marcha. Um império sem alma, mas com plano. E enquanto o Ocidente debate os pronomes corretos para seus robôs, Pequim já os produziu em massa, com tecnologia alheia e sem precisar de aprovação ética de nenhuma assembleia da ONU.

O verdadeiro crime de Trump, portanto, não foi querer taxar a China. Foi lembrar à América que ainda vale alguma coisa. E isso, para muitos, é imperdoável.

Título e Texto: Marcos Paulo Candeloro, graduado em História (USP – Brasil), pós-graduado em Ciências Políticas (Columbia University – EUA) e especialista em Gestão Pública Inovativa (UFSCAR – Brasil). Aluno do professor Olavo de Carvalho desde 2011. É professor, jornalista e analista político. ContraCultura, 11-4-2025 

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