A nossa noite dos cristais, é
bem complexa e vem crescendo dia a dia, tornando-se quase cotidiana nas vidas
dos cidadãos, que assistem a tudo e, inexplicavelmente, a nada reagem, apenas e
como no Titanic enquanto afundava, viam e ouviam a sua banda tocar.
A nossa noite é tropical,
atual e sem motivos ou ranços racistas, como a da Alemanha em novembro de 1938, mas a sua engenharia e a sua execução são similares nos seus modus operandi.
Quebra-se tudo, ônibus e
veículos são incendiados, lojas e mercados são saqueados, a partir de uma
manifestação popular de revolta contra os seus governos estaduais ou federais.
Há nisso uma consciência popular,
ainda não amadurecida pela sociedade, de que algo tem que mudar e a via mais
próxima, mais urgente, é a demonstração de força pela baderna exacerbada, ou
existe algo muito pior e camuflado por trás destes eventos?
Em 1938, o partido que
controlava a Alemanha, determinou à sua força paramilitar, na época as SA, que
deveriam estar à paisana, a fim de que o movimento de destruição de prédios e
lojas comerciais parecesse ser um movimento espontâneo de uma população furiosa
contra os judeus. Os incêndios chocaram a população, mas, pasmem!, não o fato
de que os judeus tivessem sido atacados fisicamente.
A similaridade aqui é
espantosa, pois aqui nos trópicos, ficamos todos chocados também com os
quebra-quebras desde junho do ano 2013, mas não atinamos ainda de que quem está
sendo agredido, é a população como um todo, com atitudes escamoteadas e
planejadas dentro de manifestações justas contra o que se passa com o país
neste momento. Reparem:
"a fim de que o movimento
de destruição de prédios e lojas comerciais parecesse ser um movimento
espontâneo de uma população furiosa contra os judeus."
O movimento baderneiro e a
farsa daquele partido cobrou logo após aquela noite aos judeus, uma multa de um
bilhão de marcos pelas desordens e prejuízos pelos quais eles foram as vítimas.
O nome Kristallnacht, ou noite dos cristais, derivou-se dos cacos de vidro
das vitrines de lojas e vitrais de sinagogas, resultantes deste episódio de
violência racista.
Ou seja, atacaram covardemente
uma parcela da população, e para disfarçar a sua vingança, cobraram um tributo
também covarde como se eles tivessem sido culpados pelos prejuízos.
Os nossos prejuízos, são hoje
infinitamente maiores, pois não temos um sistema previdenciário justo, não
temos hospitais à altura de uma sociedade moderna, trabalhamos meses a fio só
para pagar os impostos escorchantes a que nos obrigam, nossas escolas e o
ensino de uma maneira geral é altamente precário, não existem instituições que
preparem mão-de-obra especializada e o crime organizado está cada vez mais
fazendo vítimas inocentes.
Os noticiários escritos,
falados, estão abarrotados diariamente com as piores notícias sobre crimes,
tráfico de entorpecentes, acidentes ambientais, crimes de corrupção, e essas
notícias, mantêm a sociedade em estado letárgico. São Paulo, Rio de Janeiro e
agora Salvador, lideram as notícias com o pior desempenho sobre criminalidade.
Quando a população se mobiliza
e entra em ebulição contra esse estado de coisas cotidianas, partindo para
manifestações justas, o estado policial entra em guerra com a baderna oficial,
ocasionando um enorme prejuízo a todos e ao patrimônio. Parece uma orquestra
perfeitamente afinada.
Não se entende porquê, a elite
não barulhenta, mas mais intelectual e politizada dessa sociedade, se omite e
prefere estar fazendo cruzeiros de turismo, quando na realidade está apenas
observando a banda tocar enquanto o país afunda cada vez mais.
O momento é delicado, estamos
em ano eleitoral sem ter a certeza do que ocorrerá, já não podemos sequer sair
às ruas, pois o banditismo está cada vez pior, aproxima-se o evento Copa em que ações tanto de bandidos como
de baderneiros tendem a recrudescer e será por um verdadeiro milagre se não
tivermos aqui nos trópicos um somatório de situações, ocasionando uma terrível
Kristallnacht à moda Brasileira.
Título e Texto: José Manuel, 21-04-2014
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