segunda-feira, 21 de abril de 2014

A noite tropical dos cristais e a banda do Titanic

José Manuel
A nossa noite dos cristais, é bem complexa e vem crescendo dia a dia, tornando-se quase cotidiana nas vidas dos cidadãos, que assistem a tudo e, inexplicavelmente, a nada reagem, apenas e como no Titanic enquanto afundava, viam e ouviam a sua banda tocar.

A nossa noite é tropical, atual e sem motivos ou ranços racistas, como a da Alemanha em novembro de 1938, mas a sua engenharia e a sua execução são similares nos seus modus operandi.


Quebra-se tudo, ônibus e veículos são incendiados, lojas e mercados são saqueados, a partir de uma manifestação popular de revolta contra os seus governos estaduais ou federais.
Há nisso uma consciência popular, ainda não amadurecida pela sociedade, de que algo tem que mudar e a via mais próxima, mais urgente, é a demonstração de força pela baderna exacerbada, ou existe algo muito pior e camuflado por trás destes eventos?

Em 1938, o partido que controlava a Alemanha, determinou à sua força paramilitar, na época as SA, que deveriam estar à paisana, a fim de que o movimento de destruição de prédios e lojas comerciais parecesse ser um movimento espontâneo de uma população furiosa contra os judeus. Os incêndios chocaram a população, mas, pasmem!, não o fato de que os judeus tivessem sido atacados fisicamente.

A similaridade aqui é espantosa, pois aqui nos trópicos, ficamos todos chocados também com os quebra-quebras desde junho do ano 2013, mas não atinamos ainda de que quem está sendo agredido, é a população como um todo, com atitudes escamoteadas e planejadas dentro de manifestações justas contra o que se passa com o país neste momento. Reparem:
"a fim de que o movimento de destruição de prédios e lojas comerciais parecesse ser um movimento espontâneo de uma população furiosa contra os judeus."

O movimento baderneiro e a farsa daquele partido cobrou logo após aquela noite aos judeus, uma multa de um bilhão de marcos pelas desordens e prejuízos pelos quais eles foram as vítimas.
O nome Kristallnacht, ou noite dos cristais, derivou-se dos cacos de vidro das vitrines de lojas e vitrais de sinagogas, resultantes deste episódio de violência racista.
Ou seja, atacaram covardemente uma parcela da população, e para disfarçar a sua vingança, cobraram um tributo também covarde como se eles tivessem sido culpados pelos prejuízos.

Os nossos prejuízos, são hoje infinitamente maiores, pois não temos um sistema previdenciário justo, não temos hospitais à altura de uma sociedade moderna, trabalhamos meses a fio só para pagar os impostos escorchantes a que nos obrigam, nossas escolas e o ensino de uma maneira geral é altamente precário, não existem instituições que preparem mão-de-obra especializada e o crime organizado está cada vez mais fazendo vítimas inocentes.

Os noticiários escritos, falados, estão abarrotados diariamente com as piores notícias sobre crimes, tráfico de entorpecentes, acidentes ambientais, crimes de corrupção, e essas notícias, mantêm a sociedade em estado letárgico. São Paulo, Rio de Janeiro e agora Salvador, lideram as notícias com o pior desempenho sobre criminalidade.

Quando a população se mobiliza e entra em ebulição contra esse estado de coisas cotidianas, partindo para manifestações justas, o estado policial entra em guerra com a baderna oficial, ocasionando um enorme prejuízo a todos e ao patrimônio. Parece uma orquestra perfeitamente afinada.

Não se entende porquê, a elite não barulhenta, mas mais intelectual e politizada dessa sociedade, se omite e prefere estar fazendo cruzeiros de turismo, quando na realidade está apenas observando a banda tocar enquanto o país afunda cada vez mais.


O momento é delicado, estamos em ano eleitoral sem ter a certeza do que ocorrerá, já não podemos sequer sair às ruas, pois o banditismo está cada vez pior, aproxima-se o evento Copa em que ações tanto de bandidos como de baderneiros tendem a recrudescer e será por um verdadeiro milagre se não tivermos aqui nos trópicos um somatório de situações, ocasionando uma terrível Kristallnacht à moda Brasileira.
Título e Texto: José Manuel, 21-04-2014

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