segunda-feira, 21 de abril de 2014

O aposentado e a fábula “Os animais e a peste”

Almir Papalardo

ERA UMA VEZ... Conta-nos a fábula de Monteiro Lobato, “Os Animais e a Peste”, que num determinado período, no imaginário Reino Animal, a peste proliferava matando seus habitantes. Os animais muito assustados, temendo ser a epidemia um castigo dos céus, resolveram criar um tribunal para condenar uma fera ao holocausto. Esperavam com o animal sacrificado e oferecido aos deuses, aplacar a ira divina. O condenado deveria ser entre eles o animal mais cruel, o maior predador, aquele que carregasse nas costas o maior número de pecados.

Todas as feras fizeram então suas confissões, narrando as maiores atrocidades cometidas. Dentre todos os animais, com feras carniceiras e assassinas, foi considerado culpado um pobre burrico pelo único crime de ter comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. Assim, sacrificaram o pecador burrico apontado como o único culpado pelo avanço da peste. Moral da história: “Aos poderosos tudo se perdoa, aos miseráveis nada se desculpa”, ou ainda, usando outro refrão: “A corda sempre arrebenta do lado mais fraco”.

Exatamente é a mesma coisa o que acontece com um terço de aposentados do Regime Geral de Previdência Social, que recebem de aposentadoria mais de um salário mínimo. São considerados os únicos culpados pelo desequilíbrio que juram existir nas contas da Previdência, da mesma forma como o burrico foi acusado de ser o único responsável pela propagação da peste. O único crime dos aposentados é receberem proventos um pouquinho acima do piso, o que pode ser comparado ao crime do burrico que comeu uma única folha de couve do senhor vigário. São os aposentados pacatos como o humilde burrico e igualmente indefesos, sem forças físicas e recursos financeiros para se defenderem. E nenhuma autoridade dos poderes públicos tem interesse algum em defendê-los, seguindo o mesmo exemplo dos maiores predadores da fábula, à procura de um bode expiatório para pagar pelos crimes alheios...

É de fato o aposentado o lado mais fraco dessa contenda, fácil de manipular, de ser discriminado, para que possam sem chamar muito a atenção desviar das contas previdenciárias recursos para outras contas não ligadas aos trabalhadores. Dizem que um desses desvios é para suprir o ‘bolsa família’, o que seria até muito louvável se fosse por um prazo curto e se fizessem o desvio de outras fontes, não prejudicando os trabalhadores/aposentados. É o exemplo típico de outro provérbio popular, quando tentam solucionar problemas cabeludos de modo equivocado: “Usa-se um cobertor curto, cobrindo-se a cabeça, mas, lógico, descobre-se os pés.”

O aposentado que deveria ser reconhecido pelo muito que contribuiu para o crescimento do Brasil, é esquecido, desprezado, humilhado, desamparado por autoridades acomodadas, que deveriam fazer a justiça social prevalecer, mantendo sempre igualdade na distribuição de renda entre todos os trabalhadores ativos e inativos. A cota de sacrifícios, quando necessária, deveria ser dividida de forma igual entre todos os segmentos do mercado de trabalho, incluindo-se aí, também, todas as autoridades poderosas que prestam serviço público.

Da mesma forma o tempo das vagas gordas deveria ser direcionado para todas as categorias de trabalhadores, sem exceções. Não se pode melhorar o poder aquisitivo de alguns aposentados tirando dos outros aposentados, resultando que por causa desta política injusta e sem nexo, estes últimos aposentados já perderam mais da metade da sua aposentadoria inicial. Isto não é correto, não é legal, não é louvável! Faltam inteligência e coerência nestes homens públicos, incompetentes para conduzir a massa trabalhadora do Brasil! Enquanto dois terços de aposentados são compensados com aumentos reais do salário mínimo, um terço dos outros aposentados do mesmo regime, tem o seu poder de compra diminuído por não receberem de reajuste o mesmo percentual dado ao salário mínimo, que, sabemos, é o valor mínimo vigente para a circulação da moeda. Dentro de mais algum tempo, todos os aposentados estarão recebendo somente um salário mínimo, não se considerando mais os valores desiguais pagos por trabalhadores ao INSS, por força de um contrato. Virou portanto um autêntico “samba do crioulo doido”, como diz a música popular. O valor descontado na forte pelo trabalhador quando ativo, não interessa agora aos nossos três Poderes Públicos.

# Que setores, principalmente dos poderes executivo, legislativo e jurídico, com seus já abusivos salários, concordariam em ter todos os anos em vez de aumentos reais que tanto cobiçam, somente reduções nos seus salários conforme imposto ao aposentado? Claro, nenhum! Não querem só a reposição da inflação, mas sim, aumentos verdadeiros no seu poder aquisitivo. Aí não convém o governo mexer com celebridades para não criar confrontos desnecessários. Vamos continuar sacrificando os aposentados que são trabalhadores improdutivos, um peso inútil para o país e sem qualquer representatividade. E... ja se vai 17 anos de preconceito e discriminação contra o fragilizado previdenciário do setor privado.

# Que país é este que pune o trabalhador que se aposenta com um corte na aposentadoria que pode chegar até 40%? É o fruto amargo dado ao trabalhador como presente, chamado de Fator Previdenciário.

# Que país é este em que o Congresso promulga dois percentuais diferenciados nos reajustes de aposentados? Seria a mesma coisa se uma empresa sólida, idônea, corrigisse o salário de seus empregados com maior percentual para os que ganham menos, punindo os que ganham mais com percentuais menores! Isto nunca poderá ser considerado, oh insensatos, melhor distribuição de renda como pregoam a plenos pulmões -já tiramos milhões de brasileiros da linha da pobreza-...

# Que país é este que a Câmara dos Deputados esconde projetos de aposentados e aposentáveis no fundo das gavetas, há muito aprovados pelo Senado Federal? Onde está o entrosamento entre essas duas Casas Legislativas que coordenam as leis do país? Uma discute e aprova projetos, e a outra, não admite sequer que constem das pautas de votação, enquanto o Senado Federal se acomoda sem exigir da Câmara dos Deputados também bote em votação aqueles projetos?

# Que país é este que empurra seus aposentados para baixo, tirando do aposentado/burrico que ganha um pouco acima do piso, em vez de tirar dos verdadeiros marajás que sugam as tetas do Brasil com salários milionários? Um país justo e soberano considera suas crianças e idosos como cidadãos intocáveis...

É por isso que a história vivida pelo aposentado, sempre esquecido e prejudicado, pode ser adaptada à moral contida na fábula “Os Animais e a Peste”. O nosso Monteiro Lobato deveria estar muito inspirado quando a criou:> Atirou no que viu e acertou no que não viu <. Não sabia ele que a sua notável fábula, estaria hoje, depois de muitos anos, servindo de forte referencia para uma denúncia nacional e internacional sobre o covarde massacre imposto ao pobre aposentado brasileiro.
Título e Texto: Almir Papalardo, 21-04-2014

5 comentários:

  1. A fábula é de Esopo. Lobato adaptou, esta e outras.
    C A

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  2. ATUALIZAÇÃO:

    Conta-nos a fábula de Monteiro Lobato, 'Os Animais e a Peste'', que num determinado período no lendário "Reino Animal", a peste fazia um estrago danado, dizimando seus habitantes! Todos os animais muito assustados, temendo ser o motivo da epidemia um castigo dos deuses, resolveram criar um tribunal para julgar e condenar uma fera ao holocausto. Esperavam assim aplacar a fúria divina. O animal condenado deveria ser entre todos, julgado o mais cruel, o maior predador, o maior responsável pela temível peste!

    Todas as feras fizeram então suas confissões narrando as maiores atrocidades cometidas. Dentre todos os animais, feras carniceiras e assassinas, foi considerado culpado um pobre burrico pelo único crime de ter comido uma folha de couve da horta do senhor vigário. Assim, sacrificaram o infeliz burrico, apontado como o verdadeiro culpado pela propagação da peste. Moral da história: "Aos poderosos tudo se desculpa, aos miseráveis nada se perdoa", ou ainda: "A corda sempre arrebenta do lado mais fraco".

    Exatamente é o mesma coisa que acontece com os aposentados. São considerados os únicos culpados pelo deficit que juram existir na Previdência. O único pecado dos aposentados é receber proventos acima do salário mínimo, o que também pode ser comparado ao crime do burrico, que comeu uma única folha de couve do senhor vigário. São os aposentados pacatos como o humilde e inocente burrico, e igualmente indefesos, sem forças físicas ou maiores recursos financeiros para se defenderem.

    São de fato os aposentados o lado mais fraco da contenda, fácil de manipular, de serem discriminados para que possam tranquilamente desviar das contas previdenciárias recursos para outras contas, não ligadas aos trabalhadores. Dizem que um dos desvios é para suprir o 'bolsa família', o que seria até muito louvável se fizessem o desvio de outras fontes, não prejudicando demais os aposentados e trabalhadores ativos. É o exemplo típico de outro provérbio popular que diz: falham ao teimar o uso um cobertor curto, porque, cobrindo a cabeça, descobre-se os pés.

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    1. Nestas últimas duas décadas os aposentados que deveriam ser exaltados por tudo o que fizeram pelo crescimento do Brasil, são desprezados, humilhados, desamparados por autoridades acomodadas, que só deveriam fazer a justiça prevalecer, mantendo a qualquer custo a igualdade na distribuição de renda, entre todas as camadas da população. A cota de sacrifícios ou a fartura, deveriam ser divididas igualmente entre todos os segmentos da sociedade. Não se pode melhorar o poder aquisitivo de uns aposentados, tirando dos outros aposentados para nivelar aposentadorias. Se há aposentadorias com valores diferentes, é perfeitamente justo e explicável pelas contribuições diferenciadas de todos durante todo o tempo de atividade. Não se pode enriquecer o pobre, empobrecendo o rico! Isto, socialmente, é no mínimo imoral! Falta inteligência e coerência nesses homens públicos de mentes tacanhas!

      Que setores, principalmente os dos poderes públicos, com seus altíssimos salários, concordariam em ter todos os anos em vez de aumentos reais que tanto cobiçam, terem só reduções nos seus proventos? Nenhum, claro! Aí não convém mexer com outras categorias para não criar insatisfações e confronto de forças. Vamos então sacrificar os aposentados já que são improdutivos mesmo! Em outras palavras: Não trabalham, logo, não têm o direito de fazer reivindicações!

      # Que país é este em que o Congresso concorda com a desvinculação do reajuste de um terço dos aposentados, ao reajuste do salário mínimo, excluindo do perverso desvínculo os outros dois terços de previdenciários, embora todos estes aposentados pertençam ao mesmo RGPS? Seria a mesma coisa se uma empresa idônea, coerente, corrigisse o salário de seus empregados aumentando com maior percentual os que ganham menos, punindo os que ganham mais, com um percentual menor! Parece justo! Mas não é, se considerarmos a produtividade e a jornada de cada trabalhador. Será que não existiam parlamentares de visão que enxergassem que no futuro um achatamento brutal e desumano seria o resultado deste insano procedimento? Será que não pressentiram que o resultado final desta monstruosidade geraria uma inevitável insatisfação geral e revolta entre aposentados, pensionistas e familiares? E os parlamentares de hoje? Bisonhos, nada fazem para derrubar este nefasto sistema de dois percentuais diferentes na correção das aposentadorias.

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    2. # Que pais é este em que os parlamentares alardeando a necessidade premente de conter gastos públicos, aprovam com a rapidez de um raio reajustes para seus próprios salários, com índices de correção indecentes e escandalosos, enquanto, estipulam para o salário mínimo uma correção mínima, que mais parece um deboche e um forte entrave para a vida profissional do trabalhador?


      # Que país é este que a Câmara dos Deputados esconde projetos de aposentados que já foram há muito aprovados com unanimidade no Senado Federal? Cadê o entrosamento necessário para a soberania da nação entre essas duas Casas Legislativas? Uma discute e aprova projetos e, a outra, não admite nem sequer que estes mesmos projetos constem das pautas de votação!!

      # Que país é este em que não procura corrigir as injustiças cometidas na justiça trabalhista? Falta a boa vontade de fazer as coisas justas e certas. A justiça humana é implacável contra os fracos e oprimidos, mas não é capaz de pôr as mãos num grande, num poderoso. Vemos homens públicos ao serem pilhados em falcatruas, em vez de serem punidos exemplarmente, são afastados e premiados com aposentadorias astronômicas.

      # Que país é este que empurra seus aposentados para baixo com o esdrúxulo argumento de melhor distribuição de renda com aumentos reais do salário mínimo, tirando, entretanto, do aposentado/burrico que ganha um pouquinho acima do piso, em vez de tirar dos verdadeiros marajás que estão sugando as tetas do Brasil com super e astronômicos salários? Um país que quer ser grande e justo tem que considerar seus idosos e crianças como cidadãos intocáveis, os últimos cidadãos a serem atingidos quando há necessidade para se contornar qualquer crise que ameace o país!

      É por isso que o exemplo e o ensinamento moral desta fábula podem perfeitamente serem adequados à história do aposentado, o maior sacrificado pelos Poderes Públicos! O nosso Monteiro Lobato deveria estar muito inspirado, quando a criou: -Atirou no que viu e acertou no que não viu-.

      Almir Papalardo

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    3. Caro Almir Papalardo, suas palavras são sábias por demais! O que esses que detém o poder em suas mãos, são seres totalmente insensíveis, totalmente destituídos de humanidade! Os 'nobres', que decidem os destinos de milhões de pessoas, tratando-as com essa perversidade, mas sabe bem cuidar de seus reajustes milionários, e cm direito a retroatividade, são seres que nem deveriam serem considerados humanos, estão mais para a categoria dos repteis venenosos, muitos deles, políticos profissionais, que passam a vida como verdadeiros "chupins", parasitas que vivem à custa do sangue e da fome de vários milhões de pessoas, cujo único crime, foi envelhecerem., além de terem trabalhado honestamente, por vários e vários anos! É por demais verdadeiramente enojador de se ver, como tratam a quem não pode mais trabalhar, para ter um pouco mais de dignidade. Enquanto eles mergulham fundo, nas mordomias que eles mesmo votam e se dão ao desfrute! Esse recado, serve sob medida, para senhor, excelentíssimo senador Paulo Paim e seus pares, que tem oito anos de mandatos garantidos, cada um, engando os crédulos cidadãos, como os de Canoas-RS senhor, e os demais enganado aos de suas regiões do país! Triste sina a nossa de sermos aposentados, pelo RGPS! Enquanto isso, prisioneiros, uma quantidade enorme deles, além da gorda pensão que recebem, ainda ganham o direito ao indulto de Natal e Ano Novo, são uns bafejados pela sorte mesmo! E quanto as víúvas, e órfãos das pessoas que eles roubaram e mataram, não há alguma senadora que possa estar ao lado deles, coo faz a digna e nobre, maria o Rosário, do RS?

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