O 25 de Abril começou por ser
um golpe militar e transformou-se depressa numa revolução. As consequências
imediatas foram o fim do império e da guerra colonial, o estabelecimento do
multipartidarismo e da liberdade de imprensa. A estabilização do novo regime e
as lutas sociais que surgiram de imediato deram origem a outros importantes
resultados, nomeadamente o início de negociações para a adesão à comunidade
europeia e a radical transformação da sociedade, com a normalização de direitos
das mulheres, por exemplo, maior igualdade e uma visão muito mais liberal sobre
a situação das minorias.
Portugal fez em 40 anos aquilo
que outros países fizeram num século. Em
1974, a taxa de analfabetismo era superior a 25%, agora é de 5%;
O número de alunos no ensino secundário passou de 68 mil para 480 mil.
Em 1974, apenas metade das residências tinha água canalizada, agora são
mais de 99%.
A esperança de vida à nascença aumentou dez anos e a mortalidade infantil baixou de 38
para 3,4 (por mil crianças com menos de um ano).
Em 1974, um terço da população
activa trabalhava na agricultura; agora, a proporção é inferior a 10%. O nosso PIB per capita duplicou em termos reais.
No entanto, é curioso
verificar que os discursos oficiais estão centrados em visões de uma revolução que
de alguma forma fracassou. Fala-se em ‘valores de Abril’ sem explicar quais são
e a narrativa mais frequente apresenta o 25 de Abril como um movimento de
massas que pretendia construir uma sociedade utópica de tipo não capitalista e
não-alinhada. A adesão europeia que a estabilização do regime permitiu é
inteiramente ignorada, apesar de ter representado uma ajuda externa da ordem de
3% do PIB em média anual durante três décadas.
Os mitos populistas são
poderosos, repetidos por uma comunicação social pouco crítica. A triunfante
visão estreita da revolução é ainda mais surpreendente quando surgem os donos
do 25 de Abril a afirmar que este falhou também na democracia e na redução das
desigualdades.
Portugal é hoje um país
desenvolvido, com um multipartidarismo que poucos contestam, onde as
instituições funcionam e existe inteira liberdade de expressão, com exemplar
tolerância nos costumes. A classe média domina completamente a sociedade
portuguesa e as desigualdades que persistem, sendo grandes, já nada têm a ver
com as que existiam há 40 anos.
Título e Texto: Luís Naves, Fragmentário,
24-04-2014
Grifos: JP
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