sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Antes, sacoleiros, agora, caloteiros

José Manuel

A história sempre nos proporciona fatos notáveis, e em uma época em que alguns se referem como os "anos de chumbo" que, para mim, se os houve, não percebi, pois nunca por eles fui afetado, porque o trabalho era a minha praia e nunca fui incomodado em qualquer atividade que tenha exercido em minha conduta social e cidadã.

Por falar nisso, se houve chumbo, é por que a máxima Newtoniana de ação e reação, foi provocada ou, pelo menos, iniciada por alguém. Disso não resta a menor dúvida.

Neste momento, os da ação reabilitada, estão perigosamente caçando as bruxas da reação acusada, quando, na realidade, teria sido muito melhor a ambos que isso se esquecesse, porém, cada um é cada um e devem saber o que estão fazendo. Afinal, todos são, além de adultos, já passados das idades para certos tipos de desforras, vinganças inúteis, que não levam a nada.

Mudando ligeiramente de assunto, sem esquecer o chumbo, somos todos sacoleiros e a Quinta Avenida em Nova Iorque sempre foi o nosso "Hall of Fame", pois brasileiros desfilando com as suas sacolas de dar inveja a grandes Pib's mundiais sempre foram a grande maioria nessa passarela internacional.

Isto não é novo, e eu mesmo sou uma testemunha ocular da história desse corredor de compras, pois ao trabalhar em aviação, pude testemunhar esse movimento turístico-comercial-informal ao longo de trinta e dois anos, muito próximo dos fatos marcantes.

Voltando ao chumbo, algumas coisas interessantes precisam ser ditas, como, por exemplo, naqueles tempos "maus" desfilávamos em plena Quinta, passando por uma suntuosa agência do Banco do Brasil com o pavilhão auriverde sempre nos lembrando que também éramos importantes.

Quando nos deparávamos com a estátua de bronze do titã "Atlas" olhando para a catedral de São Patrício, do outro lado da avenida, em pleno Rockfeller Center, uma outra imagem nos enchia de orgulho, pois ali, naquele conglomerado de prédios mais conhecidos do mundo, também tremulava a nossa bandeira e um nome em letras garrafais sobressaía não como mais uma agência comercial, mas também e como um escritório para-consular, onde tudo e qualquer coisa se resolvia. A loja chama-se VARIG.

Não me consta de que os sacoleiros da época do chumbo tenham quebrado qualquer comércio que fosse, aqui no Brasil, e era uma coisa até poética aquele desfile diário de caras conhecidas e saudosas do guaraná, da Manchete ou da Cruzeiro, apenas dois dias depois de chegados.

Nós, tripulantes, uma vez na rua, éramos aqueles seres salvadores em que um jornalzinho estava sempre garantido, ou um pedido para trazer um bilhetinho, um telefonema para dizer na volta que eles estavam bem, enfim poesia em estado puro.

Aí, chegaram os "anos paz e amor".

O Banco do Brasil sumiu, foi lá para a quarenta e dois, escondidinho, passaram um trator em cima da loja da Varig e as bandeiras brasileiras só aparecem quando os gringos enfeitam a avenida junto com mais cento e poucas de outras nações.

Agora já não há mais poesia nos sacoleiros atuais, pois quando se gasta no exercício de 2014 perto de U$ 30 bilhões em compras no exterior, isso nada tem de poético, porque além de quebrarem a indústria e o comércio nacional, isso deixa de ser turismo, para ser comércio profissional-informal.

O pior é que agora vem à tona como e o porquê desse gasto absurdo, e a Petrobras, infelizmente atacada por esses profissionais do dinheiro alheio, passa a ser a grande vilã da história. Lá nos EUA.

Os sacoleiros poéticos dos anos de chumbo eram recebidos pelos Cowboys, com tapete vermelho, pois nós alimentávamos a engrenagem do seu país com as nossas compras, e Miami, por exemplo, saiu do marasmo e estagnação pós Fidelização Cubana, graças ao grande movimento sacoleiro brasileiro. Quanto a isso não resta a menor dúvida.

Porém, hoje, os Cowboys estão com as suas Winchesters e Colts-45 engatilhados, pois descobriram que o seu dinheiro está sendo usado em quantidades absurdas para compras dentro do seu território e o que eles achavam serem sacoleiros, não passam hoje de meros caloteiros.

Ou seja, enquanto eles perdem rios de dinheiro com as suas ações caindo mais de 50% do valor pela roubalheira desenfreada na Petrobras, esse mesmo dinheiro roubado alimenta as torneiras escancaradas dos modernos sacoleiros.

A conta não bate, pois vendem absurdos no varejo, com a montanha de dinheiro que perdem em Wall Street, ou seja fizeram os gringos de trouxas.

Vem chumbo grosso por aí na terra de Marlboro, e é aconselhável a troca urgente de destino, pois os consulados provavelmente irão acabar com as enormes, e agora, antigas filas.
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig, 12-12-2014

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.

Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.

Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-