Tavares Moreira
As notícias mais recentes
confirmam uma situação de muito grave crise económica na República Bolivariana
da Venezuela, crise que já era notória e profunda há muitos meses mas que o
choque petrolífero em curso só veio agudizar e exponenciar.
Inflação galopante, de mais de
60% até Outubro e previsão de mais de 100% em 2015, queda acentuada do PIB,
escassez grave de divisas – com o registo curioso de uma diferença abissal, de
mais de 1.000%, entre as taxas de câmbio oficial e a do mercado paralelo –
escassez de todo o tipo de produtos de consumo, no mercado, desde produtos
alimentares a bens de consumo duradouros, corrupção em grande escala, polícia e
exército incumbidos da nobilíssima função de vigiar os preços de venda dos
produtos nas grandes superfícies, “pondo na ordem” algum funcionário que se
atreva a substituir etiquetas de preços fora das determinações oficiais (talvez
para garantir que a situação de escassez se prolongue por tempo indeterminado),
filas intermináveis nas superfícies comerciais para chegar a prateleiras quase
vazias, etc, etc…
Esta situação deve ser motivo
da mais profunda estranheza, se tivermos em atenção que a RB da Venezuela é um
país que goza do privilégio de uma política económica quase perfeita, a tomar
como padrão de aferição os juízos que entre nós são diariamente emitidos, por
conhecidos fazedores de opinião (com relevo para um grande magnata da opinião
política) e por não poucos media…
… política económica inserida
num projecto de Socialismo reforçado,
(i) com generosa redistribuição dos muitos recursos
do País (começando, precìpuamente, pela elite dirigente, mas neste caso com
toda a justificação e lógica pois são aqueles que dão mais a cara por um
projecto económico e social todo estruturado a “pensar” nos interesses do bom
Povo venezuelano),
(ii) com a nacionalização de numerosas empresas
em todos os sectores, nomeadamente na área da distribuição – certamente aquelas
que mais vazias de produtos se encontram mas que “disponibilizam”, em
contrapartida, os produtos mais baratos –
(iii) acabando (last but not the least) na
formidável vantagem de dispor de autonomia na condução da política económica e
monetária em especial…
… permito-me aliás destacar
esta enorme vantagem da autonomia monetária, que dá às autoridades a
possibilidade de emitir moeda, em grande escala, para dinamizar a actividade
económica, como tantos por cá têm infatigavelmente sustentado…
Isto para além da vantagem da
autonomia financeira, que os dispensa da prestação de contas a terceiros - à
opressora Senhora Merkel, por exemplo, ou ao Senhor Obama – daquilo que gastam bem como dos seus
generosos défices públicos, não se encontrando por isso acorrentados a uma
insuportável disciplina orçamental, séria inimiga do crescimento, ao contrário
de Portugal, da infelicíssima Grécia (agora com um pequeno raio de syriziança
no horizonte), da Espanha e da Itália…
Com tantas condições para
atingir uma situação económica invejável, para exibir um ritmo elevado de
crescimento do seu PIB, de beneficiar de uma moeda fortíssima, gerando grandes
excedentes no seu vastíssimo sector público empresarial (estou a recordar-me da
sábia recomendação do Secretário-Geral da CGTP no sentido do Estado investir
mais capital na TAP, para podermos retirar bons dividendos desse investimento),
é totalmente incompreensível a situação dramática em que esta economia se
encontra e que não terá, aparentemente, solução ou saída pacífica…
Algum dos nossos habituais
comentadores será capaz de decifrar este enigmático paradoxo?
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