José Manuel
Sobre a Varig, pouco se sabe,
e não tenho ilusões de que algum dia o chorume venha à tona, pois o
fizeram muito bem feito, muitos ficaram ricos, com o ‘toma lá dá cá’ das
concessões de slots, linhas, malha internacional, o retalho a varejo de uma
grande empresa e outros ativos suadamente trabalhados por seus funcionários ao
longo de oitenta anos.
Mas a Varig não era uma
estatal, apesar de que muitos idiotas de carteirinha a consideravam, tal o
desconhecimento que tinham e têm de um setor complexo como o aéreo. E por não
ser uma estatal, portanto, não pertencente ao povo, a sociedade não se deu
conta que um crime estava sendo perpetrado.
A Petrobras sim, sempre souberam,
e agora mais ainda com o que foi feito dela, pois os intestinos podres da
empresa estão sendo expostos, por homens que o Brasil terá um dia que agradecer
e render homenagens.
Mas não é bem para explicar um
e outro crime, que estamos aqui e agora, pois pelo menos o suficiente, o
trivial, a fraca imprensa capitaneada por um ou dois expoentes, está se
incumbindo de o fazer.
No dia 3 de dezembro, em plena
discussão no Congresso Nacional sobre o PL-31, para sabermos se
ratificavam ou não vidas humanas, um deputado pegou o microfone e disse
em alto e bom som que a Varig era a Petrobras do ar.
Isso está gravado e foi dito
dentro de um Congresso, portanto, a força dessas palavras ditas com emoção é o
que norteará a nossa leitura.
Ora, quando uma declaração desse
tipo é feita por um representante do povo, nada melhor do que passar a refletir
melhor, sem os chavões jurídicos já tão decantados, sem manchetes bombásticas
do dia a dia, sem as notícias policialescas de terceira categoria, mas tentando
entender o que representa de real valor essa frase para o país.
A Varig nasceu em 27 de maio
de 1927, a Petrobras em 3 de outubro de 1953.
Durante um século, uma não
podia se dissociar da outra, porquanto a primeira era excelência nas alturas
dos céus, a segunda o era na terra, mais precisamente nas profundezas do
solo.
Ambas sempre foram auriverde,
puros de origem e esse amálgama de altas tecnologias com ideais sempre
simbolizaram a pátria brasileira perante os espelhos do mundo.
Pensar em Brasil, para um
turista desavisado em pleno século XX, logo depois da sua natureza
privilegiada, das suas mulheres bonitas, vinha em primeiro lugar a Varig que o
havia transportado para cá com classe e simpatia, e em segundo a constatação
explícita das suas riquezas minerais através de uma empresa do porte
internacional como a Petrobras.
Era a pujança da tecnologia
forjada por idealistas honestos, cuja única ambição foi dizer ao mundo que o
país poderia ser adulto e competir de igual para igual com nações
desenvolvidas.
Pois é, chegamos finalmente ao
século XXI, que prioriza as altas tecnologias, a informação nunca foi tão longe
e tão rápida e a um toque, num clique, essa mesma informação está na palma das
nossas mãos.
Em 1º de janeiro de 2003,
portanto, apenas dois anos após o término do século de ouro do Brasil em que
não só a Varig e a Petrobras eram expoentes de uma indústria em ascensão, mas
outras grande indústrias também o representaram, e com louvor, o "Bug
do milênio", aquilo que todos aguardaram com ansiedade e não se
sabia o que poderia ocorrer na virada do século com a informação, com a
informatização, finalmente se instalou e se mostrou em todo o seu esplendor,
mas de maneira inversa ao esperado, no palácio da Alvorada, conseguindo a
proeza de em apenas onze anos, e contrariando um século de realizações,
acabar com a Varig privada e arrasar com a Petrobras estatal.
Isto merece um "Oscar"
pelo conjunto da obra, principalmente pelo antagonismo como ocorreu na história
de um país.
Enquanto na tão execrada dita dura, os brasileiros conscientes de
suas responsabilidades para com a pátria, colocavam generais que jamais
enriqueceram no exercício do poder, para administrar, gerenciar com mão de
ferro, os cofres e riquezas da Petrobras, cereja e caramelo do bolo chamado Brasil,
chegada a dita mole a era "paz
e amor", da política furada, irresponsável, colocou nesses mesmos
postos gerenciais, quadrilheiros profissionais com o intuito única e
exclusivamente de enriquecer à custa de uma propriedade do povo, várias
gerações de suas famílias pobres de espirito, pobres de tudo.
Duas coisas ficam muito claras
nesta história de tragédias sociais e perdas materiais:
Uma, é de que finalmente se
descobre o que é e como funciona o Bug do milênio, e que o fato só ocorreu, e
como ocorreu, aqui na pátria amada.
A outra, é a pergunta de como
quadrilhas inteiras se apossaram de um país. Pelo voto?
Não com o meu, e o meu sono
apesar de todo o lamentável, é tranquilo pois a minha consciência não me
persegue, tampouco me assombra.
Título e Texto: José Manuel, ex-tripulante Varig,
18-12-2014
Manuel, parabéns pelo excelente trabalho que vens fazendo de forma incansável na batalha pelos nossos direitos, suas mensagens semanais tem um conteúdo de qualidade e que merece a sua atenção quanto a um "pequeno" livro de memórias a ser composto para o amanhã.
ResponderExcluirForte abraço
Thomaz Raposo