Carlos Lira
Natal, final de ano...
Ano Novo, vida nova, período em que a esperança renasce no coração, na
vida daqueles que acreditam existir um mundo melhor, no viver dos que perderam
fios de esperança... dos inacreditáveis, dos maltratados, dos marcados pelo
sofrimento, dos vitoriosos e dos derrotados... a todos estes e a todos aqueles
que ainda trazem dentro de si o verdadeiro espírito natalino na certeza de que
esta vibração de amor possa transformar pequenos desejos em grandes realidades
e que o futuro se faça presente sempre, não somente no coração de cada um como
também na alma de todos nós, um FELIZ NATAL.
Inspirando-me nos noticiários de cada dia que caminha, vida minha
selecionar procura e, motivado por um fato que muito me emocionou, eis que
digito ipsis litteris o que li e reli, cujo título escolhi:
O MILAGRE DE NATAL
Não pensem que irei narrar
um conto de fadas. Uma bela adormecida que de tanto dormir, acordou ou amantes
separados se unindo novamente para mais tarde outra separação acontecer. Mas a
vida não é um conto de fadas, é um conto de fatos... finais felizes são poucos
e raros. Muitos dos personagens travestidos de bondade tornam-se tiranos
que podem provocar guerras entre seus súditos...
É por isso que precisamos
de exemplos que edificam, para lembrar que apesar de tudo o amor pode nascer
nos locais incertos e improváveis. O José Guilherme é o personagem central
desta narrativa, motu único desta aventura que me proponho a divulgar. O
começo de vida deste personagem foi uma espécie de conto de fadas e, à medida
que crescia em idade, crescia em sabedoria e aprendizados.
Desde tenra idade,
Guilherme dedicara-se à prática de arte marcial tornando-se um exímio lutador.
Poucos anos mais tarde tornara-se famoso em todo o Brasil e no exterior nesta
modalidade esportiva.
Belo rapaz, assediado pelas
garotas, admirado por sua maestria em lutar com elegância e destreza,
tornara-se grão-mestre e dono de algumas academias na zona sul do Rio de
Janeiro.
José Guilherme o venturoso,
o herói dentre os heróis, verdadeiro em seu anseio de realização e louvor.
Desde criança, seguindo orientação dos pais, Guilherme frequentara a Igreja
Católica, respeitando os ensinamentos e seguindo os ritos ministrados por
padres e aprendendo as coisas da religião no Colégio Sacré-Coeur de Marie, em
Copacabana. Até mesmo quando tornara-se adulto, jamais abandonou a prática
religiosa.
Casado, realizado
financeiramente, o jovem senhor José Guilherme jamais poderia imaginar o que
iria acontecer em sua vida plena de realização e felicidade.
Pois é, meu amigo leitor e
minha amiga leitora, um longo período de provação se abatera sobre a vida deste
nosso herói. Uma pesada cruz lhe fora imposta pela fatalidade de um acidente
automobilístico que o deixara imobilizado durante dois anos devido a fraturas
nas duas pernas, sendo submetido a uma série de operações para recuperar a
gravidade daquele acidente fatal.
José Guilherme, o
acidentado, no vale das sombras envolvido, desesperado, nem pensar queria
pensar, tomado por uma surda revolta, a sua vida em um inferno se tornou.
Após dois anos de uma sofrida
recuperação, sem nunca mais poder concorrer a lutas oficiais, sua vida entrou
em um tremendo declínio, uma grande provação o esperava. Sem academia, sem
alunos, sem dinheiro, desesperançado, optara pelo alcoolismo e pela droga.
Afundado numa total decadência, desmotivado, revoltado, procurava na droga e no
álcool fugir deste seu drama desesperador...
Exemplos semelhantes
encontramos em várias celebridades pelo mundo afora: Garrincha, por exemplo; o
jovem José Artur Machado, o Petit,
era o símbolo da geração dos jovens bronzeados, surfistas da praia de Ipanema,
zona sul do Rio de Janeiro. Coisas da moda: livre, solto, sem outro compromisso
que a vida senão viver – viver intensamente.
Petit foi imortalizado pelo cantor Caetano Veloso, que se
inspirou em sua imagem e, em 1979, compôs MENINO DO RIO, clássico da música
popular brasileira na voz de Baby Consuelo.
Na garupa de uma moto, na
madrugada de 29 de agosto de 1987, sem destino, rasgando uma dolorosa noite
interior à procura de si mesmo, encontro através do brilho do pó, Petit sofreu
um acidente. A violenta pancada da cabeça contra o asfalto, deixando-o
deformado, com o lado direito do corpo, rosto e boca paralisados.
Sua vida tornara-se
insuportável já que as mulheres – todas as mulheres o chamavam de mel. Mais que
um homem de pele dourada, loiro, 1,80 metros e físico forte, ele era uma
criança indefesa, os olhos perigosamente verdes... Sem conseguir tornar-se
adulto, Petit matou-se. Enforcou-se com a faixa do quimono de jiu-jitsu, o nó
preso pelo lado de fora do alto da porta fechada do apartamento. Petit foi
encontrado como na música de Caetano: “calção, corpo aberto no espaço”.
À semelhança dos muitos
outros, José Guilherme tornara-se revoltado com a vida que levava, afinal, era
duro perder tudo: fama, glória, beleza e, acima de tudo, dinheiro. Viciado na
cocaína, José Guilherme subia o morro à procura desta droga que o “fazia
esquecer o sofrimento”.
Em uma incursão, à véspera
do NATAL, a quase fatalidade aconteceria: jovem ainda, loiro, conservando o
físico atlético, um traficante o confundiu com um policial e, com arma apontada
para Guilherme, ordenou que o mesmo ficasse de costas.
- Já que vou morrer, pode
atirar de frente – respondeu Guilherme – afinal, a minha vida é de pouca valia.
Ninguém sentirá a minha falta! Pode atirar!
Meu Deus, viver é um
milagre! Por que desperdiçar o milagre? Atravessando todo este vale das
sombras, José Guilherme, sofrido sofredor, já sem vontade de viver, encontrou
você e você já estava em sua vida para nunca mais o largar!
Naquele momento decisivo da
vida de José Guilherme, Deus não o abandonara, tocado por uma força divina, eis
que surge outro traficante e impede o assassinato exclamando:
- Que é isto? Conheço este
cara! Ele não é policial, porra nenhuma! Ele é um famoso lutador que muito o
admiro!
José Guilherme, naquele
momento, sentira a presença de Jesus com toda a sua glória! Desceu o morro ou
foi levado por um anjo? Ele nem lembra como, nem seria necessário saber...
Simplesmente, à luz da Fé, decidira-se nunca mais subir o morro à procura de
drogas ou morte lenta...
Voltar ao começo, por que
não? Ao começo Guilherme voltou. Começar de novo, escrever uma nova história,
da vida de sua vida, porque, mesmo na desgraça e no desengano, ele conseguiu
manipular os próprios desenganos.
E sua alma passeia onde ele
quer, e se revela capaz de voltar a si mesmo com o mesmo querer... O que fazer
nesse tempo em que espera por essa felicidade renovada na facilidade do recomeço?...
Guilherme se fez sincero... Onde estava esse olhar que conhece o seu nos duros
momentos de provação que suportara? Revoltado, sem querer se entregar Guilherme
já se encontrava ao lado seu. E assim seguirá por todo o tempo da delicadeza...
Que é o natal, senão um
misto de amizade e amor? Um Jesus que nasce repartido em todos os recantos do
mundo, todo presente em cada lar, em cada família, entre amigos, todos aqueles
que estão conosco, os que comungam do mesmo espírito de Fé, em todos os
momentos da nossa vida, bons e maus, que se regozijam com a nossa felicidade e
se entristecem com a nossa desventura...
José Guilherme, tocado pela
luz do Espírito Santo, hoje voltou ao redil do Senhor de Todas as Coisas,
Senhor de sua vida, distanciado dos vícios e amado por todos nós, é um
companheiro agradável e, à feição de Jó, está recuperando sua vida com
sacrifício, determinação e muita FÉ.
Fiz esta apresentação para
melhor relatar a grande experiência vivida por um herói em sua pobre vida.
Jesus nasceu!
Para quem Jesus nasceu?
Muitos, à semelhança de Herodes, não conseguem entender os sinais das estrelas
e continuam abandonando milhares de crianças pobres deste Brasil-Belém, futuros
traficantes, viciados, ladrões, culpa exclusiva desta humanidade desumana... Corações-
hospedarias estão superlotados de ganâncias, ódio, egoísmo. Não há lugar para
Jesus! Os poderosos estão cegos. A simplicidade do Rei do Universo confunde os
homens...
Espero que tenham gostado
deste meu depoimento.
Título, Imagem e Texto: Carlos
Lira, 23-12-2014
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