sábado, 20 de dezembro de 2014

Por que na guerra política ficar no ataque sempre é melhor?

Luciano Henrique
Como um exemplo do que acontece praticamente todos os dias em debates, sejam na Internet ou fora dela, observe abaixo como funciona a interação política entre um bolivariano e um republicano, em muitos casos (embora seja verdade que a coisa já está melhorando):

B: Você quer ajudar a Casa Grande e as seis grandes famílias de mídia, que não querem a evolução da sociedade.
R: Não, eu me posiciono a favor da liberdade de imprensa e este sistema é melhor para nós, pois sem estarem submetidas ao estado, há melhores opções para o público.
B: A elite sempre tenta nos enganar. Você, como representante da elite, quer ver os pobres sofrerem, e por isso não quer uma mídia democrática.
R: Não, não é isso. É que eu defendo o princípio… [e a conversa segue]

Sabe que isso cansa? Depois de algum tempo, já começo a perder a paciência ao ver situações deste tipo. Sob a perspectiva de padrões de linguagem, parece que um lado gosta do padrão “você é (x)”, enquanto o outro gosta do padrão “eu não sou (x)”. Mapeie os padrões e divirta-se.

Um amigo me pediu, por exemplo, uma forma de revidar o seguinte ataque: “Quero ver você falar agora que o Obama é comunista”.

Eu sugeri a resposta básica: “Eu quero ver você parar com essa encenação ridícula. Obama é um socialista. Mas qual é o cretino que te ensinou que relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba igualam os dois países?”.

E não é que funcionou? O bolivariano recuou depois deste ataque.

Agora observe um ponto: em minha “resposta”, onde se encontra um padrão similar a “eu não sou (x)” em qualquer lugar que seja? Em nenhum lugar. Mesmo assim, meu ataque contém embutida minha defesa. Como sempre falo, a prioridade é o ataque.

É difícil fazer as pessoas perderem a maldita mania de usar o padrão “eu não sou (x)” e passarem a usar o padrão “você é (x)” nos debates políticos. Em suma, já passou da hora de deixarmos de tolerar que do nosso lado pessoas não executem o princípio dizendo que na guerra política o agressor geralmente prevalece sem ao menos sofrer um puxão de orelha. Nosso trabalho deve ser didático e paciente, mas também assertivo e às vezes duro.

Para que você entenda o funcionamento deste princípio na prática, basta lembrar-se de dois pontos chave:

1.  Quem sofre um ataque e unicamente se defende (sem atacar) pode não ser capaz de atingir todo o público que assistiu o ataque
2. O ataque sempre se destaca mais que uma defesa, perante o público, que quer ver “sangue”
       
Com esses dois pontos em mente, é óbvio que todo aquele que não consegue largar a maldita mania de ficar com “eu não sou (x)” enquanto deveria estar dizendo “você é (x)” sempre ficará em desvantagem.

É evidente que uma defesa é melhor do que nada. Mas qualquer coisa é melhor que nada.
Mas difícil arrumar uma ilustração melhor do que os jogos de futebol. Aí é só lembrar o que fica na mente do público: são os gols (e os ataques) ou as defesas da zaga e do goleiro? É claro que é a primeira opção.

É exatamente o mesmo que ocorre na guerra política. São seus ataques, com base em controle de frame e rotulagem, que permanecerão na mente do público. Assim como ocorre com seu adversário. Quanto às suas defesas? Elas alcançarão bem menos pessoas que, naturalmente, não estão muito interessadas em “defesas”. 
Título e Texto: Luciano Henrique, Ceticismo Político, 20-12-2014

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