Luciano Henrique
Como um exemplo do
que acontece praticamente todos os dias em debates, sejam na Internet ou
fora dela, observe abaixo como funciona a interação política entre um
bolivariano e um republicano, em muitos casos (embora seja verdade que a coisa
já está melhorando):
B: Você quer ajudar a Casa
Grande e as seis grandes famílias de mídia, que não querem a evolução da
sociedade.
R: Não, eu me posiciono a
favor da liberdade de imprensa e este sistema é melhor para nós, pois sem
estarem submetidas ao estado, há melhores opções para o público.
B: A elite sempre tenta nos
enganar. Você, como representante da elite, quer ver os pobres sofrerem, e por
isso não quer uma mídia democrática.
R: Não, não é isso. É que eu
defendo o princípio… [e a conversa segue]
Sabe que isso cansa? Depois de
algum tempo, já começo a perder a paciência ao ver situações deste tipo.
Sob a perspectiva de padrões de linguagem, parece que um lado gosta do padrão
“você é (x)”, enquanto o outro gosta do padrão “eu não sou (x)”. Mapeie os
padrões e divirta-se.
Um amigo me pediu, por
exemplo, uma forma de revidar o seguinte ataque: “Quero ver você falar
agora que o Obama é comunista”.
Eu sugeri a resposta básica:
“Eu quero ver você parar com essa encenação ridícula. Obama é um socialista. Mas
qual é o cretino que te ensinou que relações diplomáticas entre Estados Unidos
e Cuba igualam os dois países?”.
E não é que funcionou? O
bolivariano recuou depois deste ataque.
Agora observe um ponto: em
minha “resposta”, onde se encontra um padrão similar a “eu não sou (x)” em
qualquer lugar que seja? Em nenhum lugar. Mesmo assim, meu ataque contém
embutida minha defesa. Como sempre falo, a prioridade é o ataque.
É difícil fazer as pessoas
perderem a maldita mania de usar o padrão “eu não sou (x)” e passarem a usar o
padrão “você é (x)” nos debates políticos. Em suma, já passou da hora de
deixarmos de tolerar que do nosso lado pessoas não executem o princípio dizendo
que na guerra política o agressor geralmente prevalece sem ao menos sofrer
um puxão de orelha. Nosso trabalho deve ser didático e paciente, mas também
assertivo e às vezes duro.
Para que você entenda o
funcionamento deste princípio na prática, basta lembrar-se de dois pontos
chave:
1. Quem sofre um ataque e unicamente se defende
(sem atacar) pode não ser capaz de atingir todo o público que assistiu o ataque
2. O ataque sempre se destaca mais que uma defesa,
perante o público, que quer ver “sangue”
Com esses dois pontos em
mente, é óbvio que todo aquele que não consegue largar a maldita mania de ficar
com “eu não sou (x)” enquanto deveria estar dizendo “você é (x)” sempre ficará
em desvantagem.
É evidente que uma defesa é
melhor do que nada. Mas qualquer coisa é melhor que nada.
Mas difícil arrumar uma
ilustração melhor do que os jogos de futebol. Aí é só lembrar o que fica na
mente do público: são os gols (e os ataques) ou as defesas da zaga e do
goleiro? É claro que é a primeira opção.
É exatamente o mesmo que
ocorre na guerra política. São seus ataques, com base em controle de frame e
rotulagem, que permanecerão na mente do público. Assim como ocorre com seu
adversário. Quanto às suas defesas? Elas alcançarão bem menos pessoas que,
naturalmente, não estão muito interessadas em “defesas”.
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