Alberto Gonçalves
Neste Outono sombrio, há quem
alimente esperanças com a teoria da "vacina". Eis uma súmula: em
primeiro lugar, Cavaco aceita contrariado um governo PS com a participação ou o
"apoio" dos partidos comunistas. Depois, o governo defende os
superiores interesses nacionais (leia-se serve a clientela e espatifa a
economia), actua em benefício dos trabalhadores (i.e., saqueia os últimos
cêntimos dos que trabalham e pagam impostos), favorece os direitos das pessoas
(ou seja, persegue e cala dissidências) e consolida a democracia (por outras
palavras, deixa-a em coma). No meio do pandemónio, lá para o Verão o governo
cai, Portugal aprende que o marxismo é nocivo e a relevância eleitoral da
esquerda, PS incluído, esvazia-se por décadas ou pela eternidade afora. Um consolo,
não é? E também uma alucinação pegada.
Na tarde de 11 de Setembro de
2001, sofri um portentoso ataque de ingenuidade e, por momentos, presumi que os
atentados nos EUA explicariam enfim ao mundo a legitimidade da resistência de
Israel ao terrorismo. Voltei ao normal em dias ou horas, o tempo suficiente
para que certo mundo desatasse a "compreender" as dores da
"rua" islâmica, a reforçar a repulsa pelos EUA e a redobrar o
anti-semitismo, perdão, o anti-sionismo. À semelhança da cegueira ideológica, a
má-fé não aprende nada, excepto a evitar a realidade.
Excepto para os viciados em
metanfetaminas que a bem do colesterol hesitam em ingerir uma morcela, o
arrependimento não é para aqui chamado. Se o país não erradicou o comunismo
após os arremedos revolucionários de Cunhal, Otelo e Vasco Gonçalves (por
pudor, não falo do rastro de sangue e miséria que a conversão dos povos à
felicidade espalhou - e espalha - pela Terra), a que propósito ficaria
"vacinado" por causa de novo assalto ao poder, uma pequenina supressão
das liberdades e a trivial bancarrota? O razoável PS faliu-nos em três ocasiões
e nunca se viu remetido para a obscuridade que merecia. Depressa atribuída aos
"mercados", à Sra. Merkel, a Passos Coelho e às conspirações do
costume, uma quarta falência não fará grande diferença, e a diferença que fizer
custará demasiado.
Além de enganadora nas
expectativas, a "vacina" é desaconselhável nos efeitos: no fundo,
sugere a resignação de todos os cidadãos que ainda não endoideceram, de
Novembro em diante condenados a consentir uma burla e a contemplar um desastre.
Embora banhada nas melhores intenções, a ideia da "vacina" acaba por
tornar o desastre consolador e a burla tolerável, dois equívocos que pagaremos
com juros.
Isto tudo para dizer que
Cavaco Silva não deve ceder a chantagens e nomear o Sr. Costa. Pretextos
"técnicos" não lhe faltam, desde a inexistência de um acordo de facto
(na quinta-feira, o Sr. Jerónimo assumiu o carácter fictício do mesmo) às
promessas implícitas e explícitas dos partidos comunistas em remover-nos do
Ocidente rumo à balbúrdia exótica que estiver em voga. Mas a verdadeira razão
prende-se com a Sagrada Constituição, cujo artigo 120.º informa que o
Presidente da República garante "o regular funcionamento das instituições democráticas".
A "frente popular" nem ganhou eleições nem é democrática. A
"vacina" é a própria doença, está nos livros. E estaremos feitos.
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