José António Rodrigues Carmo
Até 2006, Robert Redeker, um
típico intelectual da esquerda francesa, pacato professor de Filosofia e membro
da redação do «Les Temps Modernes», (revista de esquerda, fundada por Sartre), era um homem livre e escrevia artigos de
opinião sob os mais variados temas.
Em 19 de Setembro de 2006,
teve a péssima ideia de publicar, no «Le Figaro», um artigo que o transformou
num homem acossado, refugiado na sua própria terra, sob proteção policial,
ameaçado de morte pelos terroristas islâmicos.
Redeker escreveu que o Islão
ameaça a civilização ocidental, não sendo o Ocidente capaz de reagir à
intimidação, porque está refém intelectual do multiculturalismo e do
relativismo cultural.
O artigo desencadeou uma
tempestade nas ruas, nos media e nos círculos académicos. Vários países
muçulmanos proibiram a sua publicação, choveram os insultos de islamofobia e
racismo.
Alguns intelectuais franceses
(André Glucksmann, Elizabeth Badinter, Bernard Henry Levy, etc), honra lhes
seja feita, saíram a terreiro em defesa de Redeker, mas a maioria das reações
confirmou a sua tese.
O Partido Comunista
insurgiu-se; os sindicatos socialistas fizeram questão de comunicar que não
partilhavam as convicções de Redeker; organizações de direitos humanos conotadas
à esquerda, referiram-se às suas opiniões como “irresponsáveis e pútridas”.
O professor Pierre Tevanian,
que faz a ponte entre a extrema-esquerda francesa e o islamismo, declarou que
Redeker era ”racista” e instou a sua escola a puni-lo.
Vários média convidaram
Redeker a “pedir desculpa” e até o corpo editorial do “Le Monde” classificou o
artigo de Redeker como “insultuoso e blasfemo”, alegação extraordinária que
pressupõe que até os não muçulmanos têm de respeitar como sagradas as crenças
dos muçulmanos, passíveis apenas de veneração, jamais de crítica ou
investigação.
A reação da esquerda repete-se
por todo o continente a cada episódio semelhante e demonstra que quando tema é
o Islão, a liberdade de expressão claudica.
Trata-se, na verdade, de
racionalizar a hipocrisia. Face ao Islão, parte do mundo académico, da esquerda
e da comunicação social perde a combatividade e exibe atitudes que vão do
silêncio respeitoso e comprometido ao apoio entusiástico e militante.
Esta amálgama apaziguadora
fecha os olhos aos factos, chama "actos isolados" aos massacres,
atentados e assassínios que se repetem por essa Europa fora, e adopta
acríticamente o conceito de “islamofobia”, inventado pelos aiatolas iranianos
e, tal como eles, usa-o para deslegitimar todos aqueles que se atrevem a
discordar.
Como escreveu o próprio
Redeker, a partir da sua vida em cacos, “eu nunca pensei que isto pudesse
acontecer na França. Não posso trabalhar, não posso ir e vir, e tenho de viver
escondido. De certo modo os islamistas conseguiram punir-me no território da
República, pelo delito de opinião"
Hoje, quase dez anos depois,
Redeker vive escondido no seu próprio país, mas ao menos não teve o destino
trágico dos cartunistas do Charlie Hebdo, também eles de esquerda,
ironicamente.
Título e Texto: José António Rodrigues Carmo, Facebook,
6-11-2015
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