sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

Ação humana

Rui A.

Quase todas as semanas temos tido sinais contraditórios sobre a evolução da nossa economia, de tal modo que os políticos, consoante as suas preferências e os seus interesses, utilizam esses dados de acordo com as suas diferentes e contrárias conveniências. Nuns dias temos o Banco de Portugal a rever em alta o crescimento, noutros o Conselho Económico e Social revê em baixa; depois o Índice de Confiança dos empresários e consumidores é mais optimista, para ser mais pessimista na semana seguinte; mais tarde, um relatório do FMI é-nos simpático, mas logo depois vem o INE e estraga-nos a festa; numas semanas a Comissão Europeia adverte-nos de que as coisas não vão bem, para, pouco depois, a mesma Comissão nos aprovar o orçamento sem fazer críticas de substância.

Isto quer dizer, essencialmente, uma coisa: que quase nenhuma desta gente percebe nada de economia. Para eles, a economia são estatísticas, números, mapas, modelos matemáticos, efeitos experimentais, demonstrações complexas, cálculos e previsões científicas. Ora, a economia é coisa muito diferente: são as pessoas e as suas acções, e estas não são planificáveis, nem inteiramente previsíveis, nem determináveis por modelos matemáticos desenhados nas mesas de técnicos e burocratas dos ministérios. A economia são as pessoas nas suas relações permanentes de troca e interacção. É o «mercado» e o «mercado» somos todos nós: quanto mais livre ele for, mais livres nós seremos.

Pois bem, as pessoas agem em razão das suas preferências subjectivas, dos seus interesses e necessidades, fazendo-o, por princípio, de acordo com as regras da sensatez e da prudência, de acordo com a informação que conseguem adquirir e a percepção normal que têm das coisas. Infelizmente, para conseguirem resultados políticos e eleitorais, os governos frequentemente falseiam essa informação para conseguirem apoio eleitoral, como sucede, infelizmente vezes de mais, quando incentivam o crédito e expandem artificialmente a massa monetária, sem que isso corresponda a um crescimento real da economia. Estão a dizer às pessoas que devem e podem gastar, mesmo que elas não necessitem de o fazer e sem que tenham disponibilidades geradas pelo acréscimo da produção ou da poupança.

Posto isto, o que se tem passado em Portugal, nos últimos meses, é que a percepção geral das pessoas, sobretudo dos que mais directamente operam na actividade económica, como sucede com os empresários, é de que as coisas estão muito longe estar bem. São pessoas prudentes e sensatas, que sabem que as grandes reformas estão por fazer, que a dívida pública continua a crescer e que os sinais de crescimento são muito frágeis, estão bem aquém das necessidades do país e da sua gigantesca dívida, e, sobretudo, são facilmente reversíveis. As outras pessoas também não estão propriamente optimistas, mas têm sido instrumentalizadas pelo governo e pelos seus parceiros com um discurso político de confiança e de optimismo, no qual o primeiro-ministro é especialista e que tem beneficiado de políticas irresponsáveis do Banco Central Europeu, cuja factura já todos pagamos sem disso nos apercebermos. O socialismo acredita mesmo que o crescimento da economia se resume a estímulos sobre a procura, gerados num ambiente favorável ao consumo, e é isso que esta gente tem vindo a fazer.

Para além do desconhecimento de quem faz e interpreta os dados económicos, a divergência sobre as notícias da nossa realidade resulta também disto: umas reflectem a opinião dos agentes económicos directos, enquanto outras transmitem os efeitos da propaganda política e das suas medidas “salvíficas”. Em tempo veremos quem tinha razão.
Título e Texto: Rui A., Blasfémias, 22-12-2016

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