André Azevedo Alves
O ódio que move os radicais do lobby LGBT
deve aliás começar por enojar e causar repulsa às próprias pessoas com
tendências homossexuais que não partilham do radicalismo dos activistas.
Nos dias que correm, defender
a liberdade implica, cada vez mais, resistir à ofensiva do poderoso lobby LGBT.
Para que não haja confusões, importa começar por explicar que denunciar a
ameaça do lobby LGBT não equivale, naturalmente, a ter qualquer hostilidade
para com as pessoas em função da sua orientação sexual. Não se trata sequer
necessariamente de denunciar quem defende posições ditas “progressistas” nestas
matérias. Há, felizmente, muitos exemplos de pessoas que defendem essas
posições e com as quais é possível ter debates produtivos e mutuamente
enriquecedores.
O que está aqui em causa é
denunciar uma minoria activista de pendor claramente totalitário que visa usar
o poder do Estado para moldar a sociedade na exacta medida dos seus planos de
engenharia social pervertida. O perigo dessa minoria é directamente
proporcional à sua ampla influência nas estruturas políticas (em especial nas transnacionais), na comunicação social e
nos sistemas de ensino e investigação: veja-se, por exemplo, o império dos
chamados “estudos de género” e a orientação dominante – para não dizer
hegemónica – desse tipo de estudos.
O ódio que move os radicais do
lobby LGBT deve aliás começar por enojar e causar repulsa às próprias pessoas
com tendências homossexuais que não partilham do radicalismo dos activistas. Um
bom exemplo desse ódio foram as reacções contra declarações do insuspeito
Ricardo Araújo Pereira, em que este se terá queixado da crescente opressão do
politicamente correcto nestes domínios. Um exemplo irónico porque RAP tem sido
desde há anos um instrumento útil nas campanhas do lobby mas também
paradigmático porque, como a história política dos movimentos radicais
amplamente demonstra, chega sempre o momento em que a Revolução decapita os
seus filhos pródigos.
No contexto das reacções, este artigo de Isabel Moreira merece destaque por ter
a virtude de dissociar explicitamente a esquerda (ou pelo menos a esquerda na
qual Isabel Moreira e outros activistas similares se inserem) da defesa da
liberdade, colocando-se euforicamente no campo anti-liberal.
Como explicou Maria
João Marques:
A defesa da liberdade não é de
esquerda. De esquerda é a igualização (à força, se preciso) dos indivíduos. E
são Isabel Moreira e seus amigos (os deuses nos livrem e guardem) que sabem
aquilo em que devemos usar a nossa autocontida liberdade. Não é de esquerda a
defesa da liberdade de expressão, tal como não é de esquerda a defesa da
liberdade de cada um de nós dar o destino que bem entende ao dinheiro que ganha
com a sua profissão. Também conhecida como liberdade de não sermos
continuamente e crescentemente abalroados na conta bancária por via fiscal.”
É a esta ofensiva anti-liberal
que urge resistir, organizando meios de resistência que devem unir todos
quantos defendem a liberdade contra o ódio e a intolerância do radicalismo do
lobby LGBT. A recente criação em Espanha da Plataforma por las Libertades é um bom exemplo mas
está quase tudo por fazer neste domínio, ainda para mais considerando a
magnitude dos poderes e interesses que é preciso enfrentar.
Chegados a este ponto, importa
recordar uma passagem da importante palestra dada pelo liberal Hayek na conservadora
Heritage Foundation no início dos anos 1980, intitulada “Our Moral Heritage”
(pedindo desde já desculpa por não arriscar uma tradução rápida do eloquente
original):
If you look at the present
world, you will find that, with the exception of communism, all the worldwide
religions (whether the monotheistic creeds of the West, or the exotic religions
of the East) support the two principles of private property and the family.
Even though thousands of religious founders have reacted against this and have
advocated religious beliefs opposed to these two institutions, their religions
have not lasted very long. ‘Not very long’, in this sense, means not more than
roughly a hundred years. I think that we are presently watching one such
experiment already in the state of decline before its hundred years are over.
Communism is, of course, one of these religions, which are anti-property, and
anti-religion, which had its time, and which is now declining rapidly. We are
watching one instance where the process of the natural selection of religious
beliefs disposes of yet another mistaken one, and restores the basic beliefs in
property and the family.”
Embora o comunismo – pelo
menos na sua versão “científica” clássica – se encontre hoje quase
completamente desacreditado, o testemunho da guerra contra a família passou nos
nossos dias para o lobby LGBT e para os defensores da agenda radical “do
género”. Tal como aconteceu múltiplas vezes no passado, importa que todos
quantos valorizam a preservação e continuidade da civilização europeia e
ocidental e da sua ampla matriz de liberdades se posicionem solidamente do lado
certo.
Votos de um Santo Natal para
todos os leitores.
Título e Texto: André Azevedo Alves, Professor do
Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa, Observador,
24-12-2016
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