Rui A.
Quase todas as semanas temos
tido sinais contraditórios sobre a evolução da nossa economia, de tal modo que
os políticos, consoante as suas preferências e os seus interesses, utilizam
esses dados de acordo com as suas diferentes e contrárias conveniências. Nuns
dias temos o Banco de Portugal a rever em alta o crescimento, noutros o
Conselho Económico e Social revê em baixa; depois o Índice de Confiança dos
empresários e consumidores é mais optimista, para ser mais pessimista na semana
seguinte; mais tarde, um relatório do FMI é-nos simpático, mas logo depois vem o INE e estraga-nos a festa; numas semanas a Comissão Europeia adverte-nos
de que as coisas não vão bem, para, pouco depois, a mesma Comissão nos aprovar
o orçamento sem fazer críticas de substância.
Isto quer dizer,
essencialmente, uma coisa: que quase nenhuma desta gente percebe nada de
economia. Para eles, a economia são estatísticas, números, mapas, modelos
matemáticos, efeitos experimentais, demonstrações complexas, cálculos e
previsões científicas. Ora, a economia é coisa muito diferente: são as pessoas
e as suas acções, e estas não são planificáveis, nem inteiramente previsíveis,
nem determináveis por modelos matemáticos desenhados nas mesas de técnicos e
burocratas dos ministérios. A economia são as pessoas nas suas relações
permanentes de troca e interacção. É o «mercado» e o «mercado» somos todos nós:
quanto mais livre ele for, mais livres nós seremos.
Pois bem, as pessoas agem em
razão das suas preferências subjectivas, dos seus interesses e necessidades,
fazendo-o, por princípio, de acordo com as regras da sensatez e da prudência,
de acordo com a informação que conseguem adquirir e a percepção normal que têm
das coisas. Infelizmente, para conseguirem resultados políticos e eleitorais,
os governos frequentemente falseiam essa informação para conseguirem apoio
eleitoral, como sucede, infelizmente vezes de mais, quando incentivam o crédito
e expandem artificialmente a massa monetária, sem que isso corresponda a um
crescimento real da economia. Estão a dizer às pessoas que devem e podem
gastar, mesmo que elas não necessitem de o fazer e sem que tenham
disponibilidades geradas pelo acréscimo da produção ou da poupança.
Posto isto, o que se tem
passado em Portugal, nos últimos meses, é que a percepção geral das pessoas,
sobretudo dos que mais directamente operam na actividade económica, como sucede
com os empresários, é de que as coisas estão muito longe estar bem. São pessoas
prudentes e sensatas, que sabem que as grandes reformas estão por fazer, que a
dívida pública continua a crescer e que os sinais de crescimento são muito
frágeis, estão bem aquém das necessidades do país e da sua gigantesca dívida,
e, sobretudo, são facilmente reversíveis. As outras pessoas também não estão
propriamente optimistas, mas têm sido instrumentalizadas pelo governo e pelos
seus parceiros com um discurso político de confiança e de optimismo, no qual o
primeiro-ministro é especialista e que tem beneficiado de políticas
irresponsáveis do Banco Central Europeu, cuja factura já todos pagamos sem
disso nos apercebermos. O socialismo acredita mesmo que o crescimento da
economia se resume a estímulos sobre a procura, gerados num ambiente favorável
ao consumo, e é isso que esta gente tem vindo a fazer.
Para além do desconhecimento
de quem faz e interpreta os dados económicos, a divergência sobre as notícias
da nossa realidade resulta também disto: umas reflectem a opinião dos agentes
económicos directos, enquanto outras transmitem os efeitos da propaganda
política e das suas medidas “salvíficas”. Em tempo veremos quem tinha razão.
Título e Texto: Rui A., Blasfémias,
22-12-2016
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