Rui Verde
A guerra foi responsável por
uma total devastação, e por isso o país tem demorado muito tempo a erguer-se e
a recuperar.
Ainda agora o governador do
Malange fez eco desse pensamento quando num discurso afirmou: “Agostinho Neto,
independência nacional, José Eduardo dos Santos, paz, reconciliação nacional e
reconstrução nacional até às bases do desenvolvimento, e João Lourenço,
desenvolvimento e prosperidade.” Esta tripla estratificação explicaria por que
razão o mandato de José Eduardo dos Santos fora um fiasco para Angola em termos
económico-sociais. Tal aconteceu devido ao facto de o ditador-presidente ter
estado ocupado com questões de guerra e paz. E já o próprio José Eduardo tinha
afirmado, no seu surreal discurso do Estado da Nação de Outubro de 2016:
“Muitos questionam por que razão não começámos este processo [diversificação da
economia] muito antes, mas na verdade ele começou há muito tempo, só que não
havia condições objectivas no nosso país para avançarmos mais depressa. Quando
terminou a guerra em 2002, Angola e o Cambodja eram os países do mundo que
tinham mais minas anti-pessoal e anti-tanque.”
José Eduardo usa o argumento
da guerra, em particular as minas espalhadas pelo território, para justificar
todo o atraso económico angolano e a dependência do petróleo. Não explica como
gastou os mais de US $309 biliões de receitas fiscais derivadas da exportação
de petróleo e de poupança líquida do Estado, arrecadados entre 2002 e 2014.
Esta teoria pode encontrar eco
na propaganda, mas não na realidade. Estamos perto de 2017, a guerra terminou
em 2002. Passaram-se, portanto, 15 anos.
Façamos um pouco de história
comparada.
Em 1945, terminou a Segunda
Guerra Mundial, com a derrota da Alemanha nazi. A própria Alemanha fora
invadida pelos exércitos anglo-americano, de um lado, e russo, do outro. No
final, a capital, Berlim, era o rosto da devastação do país.
Costuma-se chamar a este ano –
1945 – o ano zero da Alemanha. O país ficou sem nada. “Milhões de metros
cúbicos de entulho eram a única coisa que restava das metrópoles alemãs depois
do final da Segunda Guerra Mundial. (…) Os bombardeios às cidades alemãs haviam
deixado 20 milhões de desabrigados no país. Quatrocentos milhões de metros
cúbicos de entulho tinham de ser removidos. Um comparativo para demonstrar a
situação: dos 750 mil habitantes de Colónia antes da guerra, haviam restado 40
mil.
Quinze anos depois, 1960. A
Alemanha Ocidental é dos países mais desenvolvidos e prósperos do mundo.
Aconteceu o chamado “milagre económico”. Entre 1952 a 1960, o investimento
aumentou 120% e a economia cresceu 80%.
Isto quer dizer que, se é
verdade que a guerra destruiu a Alemanha, tal não foi razão para que, 15 anos
depois, a Alemanha não fosse um dos países mais prósperos do mundo. Foram
precisamente os mesmos 15 anos que não serviram para Angola.
Dirão que Angola não é a
Alemanha. Certo, mas daqui deriva que, se Angola não cresceu e não se tornou um
país próspero depois de 2002, não foi por causa da guerra, mas por outros
condicionalismos: a má governação, a apropriação da riqueza por uma pequena
clique dominante, a corrupção, a falta de educação e a falta de investimento na
população.
A diferença entre Angola e a
Alemanha no pós-guerra é que Angola teve uma classe dirigente não democrática
cujo único objectivo foi enriquecer e gozar dos despojos da guerra. Os generais
vitoriosos sentiram o direito ao saque. Ganharam a guerra, e agora tudo é
deles. Sentiram-se verdadeiros Senhores da Guerra, donos do país, do povo, das
riquezas.
Essa – e não a própria guerra
– é a única razão pela qual Angola não evoluiu depois do conflito.
A guerra não pode continuar a
servir de alibi para o atraso, a ganância e a corrupção da ditadura angolana
que mantém o país na miséria.
Título, Imagem e Texto: Rui Verde, Maka Angola, 26-12-2016
Título, Imagem e Texto: Rui Verde, Maka Angola, 26-12-2016
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Muito parecido com o Brasil, onde atribuem o atraso à herança colonial e até mesmo à falta de liberdade durante os governos militares. E não à ganância e à sistêmica corrupção praticadas pela elite política dirigente que mantém a população na pobreza, embora o país sendo o mais rico da America Latina.
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