Cesar Maia
1. O ciclo Beltrame iniciado na secretaria de segurança pública do
Estado do Rio terminou melancolicamente. Com amplo apoio da mídia, de outros
governos, de recursos sem limite até 2015, e com aumento do efetivo em mais de
30%, Beltrame oscilou no início até que se fixou nas UPPs como foco quase único
de sua política de segurança.
2. A curva que mostrava a queda de homicídios dolosos foi usada
como demonstração desse “sucesso”. Além dessa curva decrescente vir de anos
antes do ciclo Beltrame, este Ex-Blog, por várias vezes, lembrou que o que
explicava essa curva declinante no Rio, e ainda mais em São Paulo, foi o
deslocamento do corredor de exportação de cocaína para o Nordeste.
3. Uma porcentagem significativa dos homicídios dolosos se dava – e
se dá - pela disputa – direta e indireta - de pontos de venda de drogas. Com o
bloqueio do corredor de acesso à Europa – pela península ibérica - e seu
deslocamento para a África Ocidental, o corredor preferencial, que eram os
portos e aeroportos internacionais do Sudeste, perderam a importância anterior
que tinham.
4. O tráfico para a Europa passou a ser feito – preferencialmente
pela costa nordestina - através de barcos e avionetas que despejavam a carga na
costa da África Ocidental. Guiné Bissau se transformou, na época, num
narco-estado. Os índices de homicídios dolosos no Nordeste, especialmente nas
capitais e cidades do litoral com acesso por aeroportos e portos de pequeno
porte, dispararam.
5. Rio passou de segunda ou terceira capital com maior índice de
homicídios dolosos para décima quarta ou décima quinta, São Paulo passou a ser
a penúltima ou última. Maceió assumiu a liderança com números próximos a Cali,
San Pedro Sula e outras. E assim ocorreu em maior ou menor proporção com todas
as capitais do Nordeste. Este Ex-Blog divulgou esses índices recentemente.
Recife, com seu aeroporto internacional, desde antes estava entre as capitais
com os maiores índices de homicídios dolosos, e teve uma acomodação em função
da distância da costa africana ocidental.
6. Os governos do Sudeste sapatearam nos índices de homicídios
dolosos declinantes. A mídia destacou. Mas os crimes de rua e, em especial, os
roubos continuaram no mesmo patamar e nos últimos anos até cresceram. Por que a
curva de homicídios dolosos foi declinante e a de roubos não e até ao contrário?
7. Quando se sai às ruas para
passear, fazer compras, ir à escola ou ir ao trabalho ninguém pega um colete à
prova de bala. Mas sabe que não pode se expor com joias, não deve expor seu
celular, deve cuidar de quem está a seu lado ou atrás, deve levar pouco
dinheiro, etc. São esses os procedimentos e as orientações que as famílias
adotam.
8. Todos os demais índices de criminalidade cresceram no ciclo
Beltrame: roubos, estupros, ameaças, roubo a residências, roubo/furto de veículos,
roubo de cargas, roubo de celulares, enfim, todos. À exceção dos homicídios
dolosos, cuja razão de fundo não foi a política de segurança incluindo as UPPs,
mas o deslocamento do principal corredor de exportação de cocaína para o
Nordeste-África Ocidental.
9. Já a partir de meados de 2015, todos os delitos, além de
crescerem, tiveram uma inclinação forte nesse crescimento. A questão financeira
só veio a surgir – e então como desculpa - a fins de 2015. Beltrame tinha
consciência disso e desde a aproximação dos Jogos Olímpicos informou que sairia
depois.
10. O sobre-policiamento na Copa do Mundo de 2014 e nos JJOO-2016,
com a presença militar ostensiva – das forças armadas e da guarda nacional -
produziu uma sensação de segurança. Mas quando os números de criminalidade
foram abertos pelo ISP viu-se que a percepção não correspondeu à realidade.
11. As UPPs desintegraram. E assim termina mais um ciclo de
secretários e políticas de segurança. A Beltrame pelo menos se dê o crédito de
que não resolveu entrar na política como tantos de seus antecessores, descolou
as nomeações das indicações políticas e os desvios de comportamento divulgados
ocorreram longe de seu gabinete. Meno Male!
Título e Texto: Cesar Maia, 28-12-2016
Marcação: JP
Relacionados:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não publicamos comentários de anônimos/desconhecidos.
Por favor, se optar por "Anônimo", escreva o seu nome no final do comentário.
Não use CAIXA ALTA, (Não grite!), isto é, não escreva tudo em maiúsculas, escreva normalmente. Obrigado pela sua participação!
Volte sempre!
Abraços./-